"Operação Barbarossa". Há 80 anos começava a invasão nazi da União Soviética

por RTP
DR

Faz hoje 80 anos que a Alemanha nazi atacou a URSS, sem prévia declaração de guerra. Estava em vigor o pacto germano-soviético e poucas horas antes os últimos comboios com exportações soviéticas para a Alemanha ainda foram descarregados em território polaco, do lado alemão da linha de demarcação entre as duas potências.

A surpresa do lado soviético foi de tal ordem, que Estaline quis durante as primeiras horas acreditar que se tratasse de um equívoco e, às unidades de fronteira do Exército Vermelho que queriam defender-se, mandou dar ordens para que não respondessem ao ataque, alegando que não deviam cair numa possível provocação. Só se rendeu à evidência, quando o embaixador alemão von der Schulenburg se apresentou no Comissariado do Povo dos Negócios Estrangeiros para apresentar a Molotov a declaração de guerra alemã.

A Alemanha nazi, apesar do pacto Hitler-Estaline (ou Molotov-Ribentropp, como também era conhecido), nunca deixara de considerar a URSS como principal inimigo a abater, na linha do que Hitler escrevera em 1923 no seu livro Mein Kampf. A assinatura do pacto fora um breve parêntesis numa hostilidade crónica. Já havia mais de um ano que o Estado-Maior alemão preparava em segredo o ataque contra a URSS.

Mas a logística de uma invasão levada a cabo por três milhões de soldados, com dezenas de divisões motorizadas, é algo que não se pode esconder em baixo do tapete. Por muito segredo que a Wehrmacht quisesse manter, era impossível não notar do lado soviético que as próprias exportações soviéticas estavam a ser usadas para rechear os armazéns da Wehrmacht e preparar uma invasão numa escala que só era aplicável a um país com a dimensão da URSS.

Entre os bens que a Alemanha acumulou com vista à guerra, encontravam-se aliás as conservas de sardinha importadas de Portugal e que apresentavam a inestimável vantagem de poderem ser armazenadas com essa antecedência de um ano.

Não só essa logística era demasiado vultosa para ser ocultada, como os serviços de inteligência soviéticos obtiveram atempadamente informação fiável sobre o ataque em preparação e a transmitiram para Moscovo. Duas secções desses serviços, independentes uma da outra, separadas por uma compartimentação estanque e sem qualquer possibilidade de terem combinado entre si a informação que iriam transmitir, avisaram Estaline de que estava iminente a invasão, indicando mesmo a data em que ela iria ocorrer.

Uma das secções foi a chamada "Orquestra Vermelha", a rede de espionagem que o comunista polaco Leopold Trepper tinha organizado na Europa ocidental, com ramificações até aos lugares mais improváveis, e inclusivamente uma estenógrafa numa das reuniões do Estado-Maior da Wehrmacht em que se discutiu a estratégia da invasão. A outra era a antena dos serviços soviéticos em Tóquio, organizada pelo comunista alemão Richard Sorge. Ambas transmitiram a Moscovo o que sabiam, e ambas foram sobranceiramente ignoradas.

Retrospectivamente, era evidente a cegueira de ter continuado a acreditar na vigência do pacto germano-soviético, quando os indícios de ataque iminente se acumulavam, e quando os relatórios da espionagem confirmavam com grande precisão cada um desses indícios. Estaline, supondo que inevitavelmente o Exército Vermelho iria destituí-lo e fuzilá-lo, deixou Moscovo e foi, em pânico, refugiar-se na datcha que tinha nos arredores da capital.

E, com efeito, um grupo de generais apresentou-se pouco depois na datcha, com toda a aparência de vir prender Estaline. Mas esse era o momento da segunda grande surpresa do líder soviético: os generais vinham afinal pedir-lhe que voltasse a Moscovo, para assumir a direcção da resistência ao invasor.

O motivo deste aparente contrasenso encontra-se nas purgas massivas que Estaline promovera anos antes, que decapitaram o Exército Vermelho e o partido, deixando muito poucos quadros militares e políticos com a experiência da guerra civil, e dando poder aos mais subservientes. O extermínio da velha guarda bolchevique fizera de Estaline a única opção do aparelho do partido e do exército para enfrentar uma situação de emergência.

pub