Oportunidade perdida

por Carla Adão - RTP
Jenifer Solidade desceu do palco e tentou pôr Marcelo a dançar, mas acabou nos braços de José Luís Tavares, ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde Tiago Petinga - Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Carlos Fonseca foram os únicos chefes de Estado que assistiram, ontem à noite, a um espectáculo musical para dar as boas vindas à Cimeira da CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, à Ilha do Sal, em Cabo Verde.

Discretos e habituados a um contacto familiar e sem formalismo com muitos dos seus políticos, os cabo-verdianos não bombardearam o Presidente português com os habituais pedidos de selfies e beijinhos.

Os verdadeiros artistas estavam no palco e as atenções foram para a voz grave de Mirri Lobo, para a jovialidade dos 70 anos de Jorge Sousa, a interpretar Get up sex machine, ou para a presença poderosa de Jenifer Solidade. A artista que desceu do palco e tentou pôr Marcelo a dançar, mas acabou nos braços de Luís Filipe Tavares, ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde.

Hora e meia de espectáculo para mostrar a morabeza cabo-verdiana, ou seja a forma de bem receber, com seis filas enormes de cadeiras vazias, reservadas às comitivas dos países presentes na Cimeira. Pacata a população de Santa Maria, depois de cheias as cadeiras que lhes eram reservadas, assistiu de pé, ao fundo e nas laterais, sem protesto, ao espectáculo.

Ao longo dos dois dias da cimeira os restantes chefes de Estado e comitivas terão certamente outras oportunidades para conhecer a amabilidade e a morabeza dos cabo-verdianos, mas perderam a oportunidade de fazer desta uma comunidade de povos.

Nem todos precisam de ter a disponibilidade e afectuosidade do Presidente Marcelo e do cabo-verdiano Jorge Carlos Fonseca, mas enquanto alguns não descerem dos pedestais dificilmente esta comunidade terá uma importância real na vida das pessoas.

Hoje a CPLP completa 22 anos e entre os mais de 250 milhões de falantes do português muitos continuam sem saber o que é ou para que serve a CPLP. Quantos mais anos teremos de esperar?
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