Opositores venezuelanos denunciam assédio à embaixada da Argentina em Caracas

por Lusa

Um grupo de líderes da oposição venezuelana refugiados na residência oficial da embaixada da Argentina em Caracas declararam-se hoje "protegidos" pelo Governo argentino, denunciando o "assédio" do Governo, incluindo o corte de eletricidade à representação diplomática.

"Somos seis dirigentes políticos perseguidos pelo regime de Nicolás Maduro, refugiados na embaixada da Argentina em Caracas (...) e desde que o regime tomou conhecimento da nossa presença aqui, depois de emitir um mandado de captura, iniciou um assédio à sede diplomática", disse Omar González Moreno à Rádio Rivadavia OM630, da Argentina.

O ex-governador do estado venezuelano de Bolívar disse ainda que o corte de eletricidade causou constrangimentos à residência oficial da embaixada da Argentina em Caracas.

Segundo González Moreno, foi registado em vídeo os funcionários da empresa estatal de eletricidade da Venezuela a fazerem o corte seletivo à representação diplomática.

Gónzalez Moreno explicou que esta situação "faz parte da perseguição desencadeada contra quem defende a liberdade de voto dos venezuelanos".

"É uma situação inédita. Ontem, o próprio Nicolás Maduro teve o descaramento de denunciar publicamente que (...) o partido fundado por María Carina Machado (candidata presidencial designada pela oposição mas impedida pela Justiça de concorrer), é um partido terrorista (...) para continuar a escalada brutal contra todo o tipo de dissidência", frisou Gónzalez Moreno.

Explicou ainda, em declarações telefónicas à Rádio Rivadavia OM630, que vários colegas do partido foram "detidos violentamente", entre elas uma colega deputada, por agentes com a cara tapada, e que mais de uma semana depois continuam em parte incerta.

"São desaparecimentos forçados. Não permitiram nem aos seus advogados, famílias, amigos, colegas de partido saber onde estão detidos, nem qual o estado de saúde. Isto é parte do que estamos a viver, a brutal tirania que há na Venezuela", disse.

Por outro lado, explicou que agradecem "infinitamente a proteção do Governo da Argentina e a valentia dos seus funcionários na Venezuela".

"Até agora não fizemos qualquer trâmite [para solicitar asilo], continuamos a lutar pela libertação da Venezuela (...) Para eles [do regime] são atos de terrorismo defender a propriedade privada, o livre mercado, a liberdade individual", frisou.

Por outro lado, alertou, há 8 milhões de venezuelanos emigrados e a situação no país poderá estimular a migração, de pessoas que tentam escapar da "repressão brutal, da fome, da crise económica".

Lamentou que a comunidade internacional "por vezes faça vista grossa" do que acontece, circunstâncias de que se aproveitam países como o Irão, a Rússia e a China, e grupos guerrilheiros como as FARC e o ELN.

A embaixada da Argentina em Caracas denunciou anteriormente que ficou sem luz elétrica depois de ter acolhido vários líderes da oposição venezuelana.

Em comunicado, a diplomacia de Buenos Aires recordou "a obrigação do Estado de acolhimento de salvaguardar as instalações da missão diplomática contra intrusões ou danos e de preservar a tranquilidade e a dignidade da missão".

Nas últimas semanas, as autoridades venezuelanas detiveram nove opositores, dois do partido Causa R e sete do Vente Venezuela (VV), por alegadamente conspirarem contra o Presidente e prepararem atos violentos no país antes das presidenciais de 28 de julho.

Pelas mesmas acusações foram ainda emitidos outros sete mandados de detenção para membros do VV.

Na segunda-feira, as autoridades venezuelanas anunciaram a detenção em Caracas de três homens armados acusados de tentar matar Maduro.

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