Os 20 anos da Google, a gigante da tecnologia que começou numa garagem

Em 1995, dois estudantes de 22 anos conheceram-se na Universidade de Stanford, no estado norte-americano da Califórnia. Os seus nomes eram Larry Page e Sergey Brin e, a partir dos seus dormitórios, desenvolveram um motor de pesquisa a que chamaram Backrub, nome que viria a ser alterado pouco tempo depois. Não demorou muito até que o projeto despertasse a atenção de investidores da área das tecnologias e, dois anos depois, Andy Bechtolsheim passou aos dois jovens um cheque no valor de 100 mil dólares (cerca de 86 mil euros) que oficializou a fundação da empresa. Nesse dia, há precisamente 20 anos, fez-se história: a Google nasceu.

Depois de Bechtolsheim, co-fundador da então fabricante de computadores Sun Microsystems, ter investido na Google a 4 de setembro de 1998, Larry Page e Sergey Brin deixaram de trabalhar nos seus dormitórios e passaram para uma garagem arrendada à amiga Susan Wojcicki, atual diretora executiva do YouTube.

A garagem era pequena, com uma carpete azul a forrar o chão onde os caixotes de cartão se amontoavam, com uma mesa de pingue-pongue encostada a um canto e alguns computadores colocados sobre secretárias frágeis. Ao fim de seis meses de trabalho árduo neste cenário pouco convencional, a Google tinha já alcançado os sete funcionários.



As dimensões da garagem tornaram-se insuficientes para o pessoal e tiveram de se mudar para novas instalações, na cidade californiana de Palo Alto. Agora, 20 anos mais tarde, a empresa possui mais de 60 mil funcionários em mais de 50 países, tendo a sua sede na cidade de Mountain View, na Califórnia.

Googleplex é o nome do complexo de edifícios que, desde 2004, compõem a sede, ocupando uma área de 290 mil metros quadrados, o equivalente a cerca de 41 campos de futebol.

Em Portugal deverá abrir, ainda este ano, um centro de operações da Google que empregará cerca de 500 pessoas, conforme foi anunciado em janeiro por António Costa.


De acordo com as estatísticas, em 2017 a Google possuía 86.87 por cento da quota do mercado mundial dos motores de pesquisa. Num só minuto são realizadas, em média, mais de quatro milhões de pesquisas.



Desde o início que Page e Brin pareciam já adivinhar a grandiosidade daquele que viria a ser o motor de busca mais conhecido do mundo. Em 1998 decidiram substituir o nome da empresa, então chamada Backrub, para “Google”, palavra baseada na expressão matemática Googol, que representa o dígito um seguido por 100 zeros.

No mesmo ano surgiu o primeiro dos doodles, desenhos especialmente elaborados para celebrar datas importantes e que são apresentados no logotipo da Google ao abrir a página de pesquisa.


O conceito foi criado pelos dois jovens na altura em que estes estavam prestes a partir para o festival norte-americano Burning Man. Utilizaram, durante esses dias, um desenho que fazia referência ao festival para indicar que estariam ausentes.

Em 2000, o então estagiário Dennis Hwang produziu um doodle para celebrar o dia da Bastilha. O desenho teve tanto sucesso que Hwang passou a ser responsável pelos doodles e, daí em diante, as celebrações deixaram de fazer referência apenas a feriados nacionais, passando a incluir também pessoas e eventos, desde mulheres cientistas a torneios mundiais de futebol.
Aquisições milionárias
O caminho que levou ao sucesso da gigante da tecnologia foi agitado, com alterações estruturais ao longo dos anos e alguns percalços que chegaram a fazer oscilar o seu valor de mercado.

A primeira grande mudança aconteceu em 2001, quando Eric Schmidt trocou o cargo de diretor executivo da Sun Microsystems pela mesma posição na Google. Este foi também o ano de um dos grandes avanços da empresa, que passou a permitir a pesquisa de imagens através do Google Images. Nessa altura, passaram a estar à disposição dos utilizadores mais de 250 milhões de imagens.

Desde então, várias outras ferramentas vieram para ficar, como é o caso do Google Maps (2005), do sistema operativo Android OS (2007) e do navegador Google Chrome (2008).

Para além destas criações, ao longo dos anos a Google foi realizando aquisições estratégicas. Uma das mais importantes foi a do YouTube, adquirido em 2006 por 1.65 mil milhões de dólares (cerca de 1.4 mil milhões de euros).

A maior das aquisições, porém, foi a da Motorola, comprada em 2011 por 12.5 mil milhões de dólares (perto de 11 mil milhões de euros) e vendida três anos mais tarde por não ser suficientemente rentável.



Foi também em 2011 que as posições de chefia foram novamente alteradas, com Larry Page a tornar-se diretor executivo da empresa e Eric Schmidt a ocupar o lugar de presidente.





Uma nova era
Em 2015 é anunciada a maior reestruturação de sempre da empresa. Com o objetivo de explorar de forma mais eficaz e responsável as várias áreas de atuação da Google, que nem sempre estavam diretamente relacionadas entre si, Page e Brin criaram a Alphabet, que passou a ser a empresa-mãe da Google e das restantes empresas a ela associadas, todas de menor dimensão.

Sundar Pichai foi então nomeado diretor executivo da Google, enquanto Page e Brin passaram a administrar a Alphabet, com Page como diretor executivo e Brin como presidente.



“Esta nova estrutura vai permitir-nos manter um foco tremendo sobre as extraordinárias oportunidades que temos dentro da Google”, explicou, na altura, Larry Page.

“Já fizemos muitas coisas que pareceram descabidas”, continua. “Mas na indústria da tecnologia, onde as ideias revolucionárias levam às novas grandes áreas de crescimento, é preciso que nos sintamos um pouco desconfortáveis de modo a que sejamos relevantes”.

A evolução sentida desde a criação da Alphabet mostra que Page estava certo. O valor de mercado da Google quase duplicou nos primeiros seis meses após a mudança, apesar de não terem surgido novas criações nesse período.


Atualmente, a empresa vale cerca de 845 mil milhões de dólares (cerca de 727 mil milhões de euros). É a terceira mais valiosa a nível mundial, sendo apenas ultrapassada pela Microsoft e pela Apple.
As multas europeias e a interferência russa Este valor tem, no entanto, sofrido altos e baixos, especialmente durante os períodos em que o nome da empresa esteve envolvido em casos polémicos.

Em junho de 2017, a União Europeia multou a Google em 2.7 mil milhões de dólares (cerca de 2.3 mil milhões de euros) por considerar que esta influenciou os consumidores, dando prioridade à promoção de serviços e produtos da empresa em detrimento dos da concorrência.

“O que a Google fez é ilegal”, garantiu na altura Margrethe Vestager, comissária europeia da Concorrência. “Negou a outras empresas a oportunidade de competir e inovar. E, mais importante que isso, negou aos consumidores europeus uma escolha genuína dos serviços”.

A empresa defendeu-se ao dizer que faz os possíveis por mostrar anúncios que possam ajudar compradores e vendedores. “Discordamos respeitosamente das conclusões anunciadas”, declarou um porta-voz.

Em outubro do mesmo ano, representantes da Google, Facebook e Twitter testemunharam perante o Congresso sobre a alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016. Durante a audiência, as três empresas declararam ser contra a suposta atividade suspeita da Rússia e garantiram que continuariam a investigar a veracidade dos factos.

Pouco tempo depois, a Google declarou ter encontrado provas da intervenção nas eleições. A empresa concluiu que a Rússia investiu dezenas de milhares de dólares em publicidade na Google e no YouTube com o objetivo de espalhar informações falsas e semear a discórdia em relação à política norte-americana.

A mais recente controvérsia chegou em julho deste ano, quando Bruxelas aplicou à Google a multa recorde de 4.34 mil milhões de euros. Desta vez, a empresa foi acusada de violar as regras de concorrência da União Europeia ao aproveitar-se da posição dominante do sistema operativo Android para garantir a preeminência das suas próprias aplicações e, deste modo, afastar possíveis rivais.

A Comissão Europeia tinha já acusado a Google, em abril de 2016, de forçar os fabricantes de telemóveis a pré-instalar o navegador Google Chrome e a ferramenta Google Search, colocando-os como motor de busca por defeito na maioria dos dispositivos vendidos na Europa.

A recente polémica levou a que os lucros da Alphabet caíssem substancialmente nesse trimestre, fixando-se nos 2.8 mil milhões de dólares quando, no período homólogo do ano anterior, o lucro foi de 4.1 mil milhões. No entanto, o valor de mercado da empresa foi pouco afetado, continuando a ser uma das mais valiosas do mundo.