Paquistão deportou mulher afegã que em criança foi capa da National Geographic

"Expulsámos Sharbat Gula para o Afeganistão. Ela passou a fronteira às 02:30, com os seus quatro filhos", disse à agência de notícias AFP Asmatullah Wazir, um responsável administrativo da cidade fronteiriça de Torkham.

Um segundo responsável disse que Sharbat Gula estava igualmente acompanhada por representantes da embaixada afegã no Paquistão.

Na semana passada, Sharbat Gula disse à AFP ter "o coração partido" por ter de voltar ao seu país de origem, onde os talibãs estão na ofensiva contra um governo enfraquecido.

"O Afeganistão é só o meu local de nascimento, mas o Paquistão é o meu país e eu sempre o considerei como o meu próprio país", disse à AFP, a partir da cama de um hospital em Peshawar, onde estava a ser tratada por hepatite C.

"Já tinha decidido viver e morrer no Paquistão, mas eles pioraram as coisas. Não tenho culpa se nasci lá [no Afeganistão]. Estou deprimida, Não tenho outra hipótese senão partir", acrescentou Gula, que disse ter atualmente 45 anos.

Gula foi detida a 26 de outubro por ter obtido documentos de identificação paquistaneses para si e dois alegados filhos, depois de subornar três funcionários. A lei paquistanesa prevê uma pena de até 14 anos de prisão para este crime.

O fotógrafo norte-americano Steve McCurry imortalizou a afegã em 1984, quando ela tinha 12 anos e vivia num campo de refugiados em Peshawar. Um ano depois, a fotografia na capa da revista tornou-se numa das imagens mais icónicas do século XX.

O Paquistão registava, até há pouco tempo, 1,4 milhões de afegãos legalizados e cerca de 900 mil em situação ilegal. A comunidade de refugiados, uma das maiores e mais antigas do mundo, começou com a invasão soviética em 1979.

Até ao início deste mês, mais de meio milhão de refugiados tinha regressado ao Afeganistão, na sequência do ultimato do governo de Islamabad para saírem do Paquistão.