Mundo
Paquistão e Índia em alerta. Aeroportos encerrados e exercícios de segurança em marcha
A Índia e o Paquistão estão em estado de alerta máximo, com os aeroportos encerrados e exercícios de segurança em curso nas principais cidades fronteiriças, enquanto Islamabade avisa que tenciona retaliar os ataques de quarta-feira, que mataram dezenas de pessoas em todo o país.
Num discurso proferido na noite de quarta-feira, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, jurou que o Paquistão “vingaria cada gota de sangue dos mártires”, após os ataques aéreos com mísseis da Índia contra o Paquistão, que mataram 31 pessoas em todo o país.
Já esta quinta-feira, o porta-voz militar do Paquistão, tenente-general Ahmed Chaudhry, frisou que a Índia “está e vai continuar a pagar pela agressão nua a crua”, acrescentando que drones indianos continuam a “violar o espaço aéreo paquistanês” e que as forças de Islamabade estão a “combatê-los e a neutralizá-los um a um”.
Segundo o porta-voz militar do Paquistão, a Índia usou drones Harop, 12 dos quais foram abatidos e os destroços recolhidos em locais como Karachi e Lahore e que um civil morreu nos ataques.
O exército paquistanês informou também que uma barragem hidroelétrica em Caxemira tinha sido atingida por um ataque indiano.
“Quatro soldados ficaram feridos perto de Lahore”, capital do Punjab e a principal cidade na fronteira com a Índia, acrescentou o tenente-general Ahmed Chaudhry.
“A Índia, num novo ato de agressão, enviou drones sobre pelo menos nove cidades, algumas das quais contêm quartéis e guarnições, como Rawalpindi, a cidade gémea de Islamabad”, realçou.
Também esta quinta-feira, o Governo indiano anunciou que os disparos de artilharia paquistanesa sobre o seu território desde o dia anterior, em represália aos seus ataques em solo paquistanês, causaram as mortes de 13 civis e feriram outros 59.
As 13 vítimas mortais e 44 dos 59 feridos encontravam-se na aldeia de Poonch (noroeste), ao longo da “linha de controlo”, a fronteira de facto que separa a região de Caxemira, disputada entre os dois países, informou o Ministério indiano dos Negócios Estrangeiros.
Na quarta-feira, nove localidades, incluindo quatro na região paquistanesa do Punjab, foram alvo de ataques aéreos de precisão e de drones, naquele que foi o mais extenso ataque militar da Índia ao Paquistão em décadas.
No rescaldo do ataque indiano, Shehbaz Sharif classificou as incursões da Índia como um “ato de guerra” e altos funcionários do exército e ministros do governo prometeram que o Paquistão iria responder.
O ministro paquistanês da Defesa, Khawaja Muhammad Asif, acusou, na quarta-feira, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, de ter executado os atentados para aumentar a sua popularidade, acrescentando que Islamabade irá "em breve acertar as suas contas".
Nos dois países, as ligações aéreas foram suspensas e os aeroportos encerrados. No Paquistão, todos os voos de Karachi, Lahore e Sialkot foram subitamente suspensos pelas autoridades até à tarde desta quinta-feira. Mais de 20 aeroportos locais no norte da Índia também permaneceram encerrados até sábado. Na região paquistanesa de Sindh, que faz fronteira com a Índia, foi declarado o estado de emergência em todos os hospitais e instalações de saúde, tendo sido canceladas todas as licenças do pessoal médico e de apoio, de acordo com um aviso emitido pelo departamento provincial de saúde.
Na cidade indiana de Amritsar, que fica a apenas 32 quilómetros da fronteira com o Paquistão, foi realizado um segundo exercício de segurança e um breve apagão na noite de quarta-feira, tendo os residentes sido instados a manterem-se alerta.
Os Estados fronteiriços indianos do Rajastão e do Punjab também foram colocados em alerta máximo, com todas as licenças da polícia canceladas e as forças de segurança fronteiriças receberam ordens para disparar à vista de qualquer atividade suspeita. A Índia também ativou sistemas anti-drone perto da fronteira.Nova Deli e Islamabade trocam acusações
Desde que homens armados mataram a tiro 26 pessoas – na sua maioria turistas hindus - em Pahalgam, na Caxemira administrada pela Índia, a 22 de abril, tem vindo escalar as tensões entre os dois países do sul da Ásia, rivais desde a partição da antiga Índia britânica em 1947.
As tensões crescentes transformaram-se rapidamente num confronto militar, levando Pequim e Londres a oferecer mediação, enquanto a União Europeia, a ONU, Moscovo, Washington e Paris apelaram à moderação.A escalada atual ocorre num momento precário para a economia de 350 mil milhões de dólares do Paquistão, que ainda está a recuperar de uma crise económica que o levou à beira do incumprimento de uma obrigação de dívida externa em 2023, antes de garantir o financiamento do Fundo Monetário Internacional.
Os dois exércitos trocaram tiros de artilharia ao longo da fronteira disputada em Caxemira após ataques indianos em solo paquistanês em retaliação pelo ataque de Pahalgam.
O ministro indiano da Defesa, Rajnath Singh, reiterou que estes ataques tiveram como alvo apenas "campos terroristas" cuidadosamente identificados para "evitar a população ou áreas civis".
A Índia afirmou ter destruído nove locais que alegadamente albergam membros do grupo islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT), que responsabiliza pelo ataque na Caxemira indiana, que nunca foi reivindicado.
Nova Deli acusa o Paquistão de apoiar o LeT, o que Islamabad nega veementemente.
A relação entre a Índia e o Paquistão tem sido repleta de tensões desde que conquistaram a independência da Grã-Bretanha em 1947, e os dois países, com armas nucleares, travaram três guerras, duas delas sobre Caxemira.Relações conturbadas desde 1999
Os dois países vivem desde 1999 relações militares e diplomáticas conturbadas. No entanto, este último ataque da Índia ao Paquistão foi o mais grave das duas décadas.
Entre maio e julho de 1999, a Índia e o Paquistão travam uma guerra não declarada na região de Kargil, em Caxemira, depois de irregulares apoiados pelo exército paquistanês ocuparem postos indianos na Linha de Controlo (LoC) ou na linha de cessar-fogo. Os EUA pressionam o Paquistão a retirar-se.
Em dezembro de 2001, atacantes fortemente armados atacam o edifício do parlamento indiano em Nova Deli, matando nove pessoas. A Índia acusa os grupos islamistas Jaish-e-Mohammed e Lashkar-e-Taiba, sediados no Paquistão.
Dez atacantes fortemente armados atacam os principais pontos de referência de Bombaim, incluindo dois hotéis de luxo, um centro judaico e a principal estação de comboios, matando 166 pessoas, em novembro de 2008. A Índia interrompe o diálogo com o Paquistão, retomando-o brevemente anos mais tarde no âmbito de um processo de paz estruturado.
Em janeiro de 2016, atacantes disfarçados de soldados invadem uma base da Força Aérea indiana perto da fronteira com o Paquistão, trocando tiros com as forças de Nova Deli que, apoiadas por tanques e helicópteros, lutam durante mais de 15 horas antes de recuperarem o controlo do complexo. Os cinco assaltantes e pelo menos dois guardas são mortos no ataque.
A Índia afirma que os atacantes vieram do Paquistão, enquanto as autoridades paquistanesas condenaram o ataque. As conversações de paz, brevemente reavivadas em 2015, voltam a estagnar.
Meses depois, em setembro de 2016, 18 soldados indianos são mortos num ataque a uma base militar em Uri, na Caxemira indiana. A Índia culpa o Paquistão pelo ataque e responde com “ataques cirúrgicos” através da Linha de Controlo contra o que chama de plataformas de lançamento de terroristas. Islamabad nega que tenha havido qualquer incursão no seu território.
Em fevereiro de 2019, um bombista suicida mata 40 polícias paramilitares indianos em Caxemira. A Índia efetua ataques aéreos em Balakot, no Paquistão.
O Paquistão responde com os seus próprios ataques aéreos e abate um avião indiano. A Índia afirma também ter abatido um avião paquistanês, o que não foi confirmado. O impasse atenua-se na sequência da pressão internacional.
No mesmo ano, em agosto, a Índia revoga o estatuto especial de Caxemira, suprimindo uma disposição constitucional que permitia ao Estado de Jammu e Caxemira adotar as suas próprias leis. O Paquistão desce o nível da diplomacia e suspende as trocas comerciais.
Já este ano, em abril, 26 pessoas foram mortas depois de agressores islamistas terem atacado turistas hindus na Caxemira indiana. A Índia culpa grupos apoiados pelo Paquistão e Islamabad nega o envolvimento e apela a uma investigação neutra.
Já esta quinta-feira, o porta-voz militar do Paquistão, tenente-general Ahmed Chaudhry, frisou que a Índia “está e vai continuar a pagar pela agressão nua a crua”, acrescentando que drones indianos continuam a “violar o espaço aéreo paquistanês” e que as forças de Islamabade estão a “combatê-los e a neutralizá-los um a um”.
Segundo o porta-voz militar do Paquistão, a Índia usou drones Harop, 12 dos quais foram abatidos e os destroços recolhidos em locais como Karachi e Lahore e que um civil morreu nos ataques.
O exército paquistanês informou também que uma barragem hidroelétrica em Caxemira tinha sido atingida por um ataque indiano.
“Quatro soldados ficaram feridos perto de Lahore”, capital do Punjab e a principal cidade na fronteira com a Índia, acrescentou o tenente-general Ahmed Chaudhry.
“A Índia, num novo ato de agressão, enviou drones sobre pelo menos nove cidades, algumas das quais contêm quartéis e guarnições, como Rawalpindi, a cidade gémea de Islamabad”, realçou.
Também esta quinta-feira, o Governo indiano anunciou que os disparos de artilharia paquistanesa sobre o seu território desde o dia anterior, em represália aos seus ataques em solo paquistanês, causaram as mortes de 13 civis e feriram outros 59.
As 13 vítimas mortais e 44 dos 59 feridos encontravam-se na aldeia de Poonch (noroeste), ao longo da “linha de controlo”, a fronteira de facto que separa a região de Caxemira, disputada entre os dois países, informou o Ministério indiano dos Negócios Estrangeiros.
Na quarta-feira, nove localidades, incluindo quatro na região paquistanesa do Punjab, foram alvo de ataques aéreos de precisão e de drones, naquele que foi o mais extenso ataque militar da Índia ao Paquistão em décadas.
No rescaldo do ataque indiano, Shehbaz Sharif classificou as incursões da Índia como um “ato de guerra” e altos funcionários do exército e ministros do governo prometeram que o Paquistão iria responder.
O ministro paquistanês da Defesa, Khawaja Muhammad Asif, acusou, na quarta-feira, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, de ter executado os atentados para aumentar a sua popularidade, acrescentando que Islamabade irá "em breve acertar as suas contas".
Nos dois países, as ligações aéreas foram suspensas e os aeroportos encerrados. No Paquistão, todos os voos de Karachi, Lahore e Sialkot foram subitamente suspensos pelas autoridades até à tarde desta quinta-feira. Mais de 20 aeroportos locais no norte da Índia também permaneceram encerrados até sábado. Na região paquistanesa de Sindh, que faz fronteira com a Índia, foi declarado o estado de emergência em todos os hospitais e instalações de saúde, tendo sido canceladas todas as licenças do pessoal médico e de apoio, de acordo com um aviso emitido pelo departamento provincial de saúde.
Na cidade indiana de Amritsar, que fica a apenas 32 quilómetros da fronteira com o Paquistão, foi realizado um segundo exercício de segurança e um breve apagão na noite de quarta-feira, tendo os residentes sido instados a manterem-se alerta.
Os Estados fronteiriços indianos do Rajastão e do Punjab também foram colocados em alerta máximo, com todas as licenças da polícia canceladas e as forças de segurança fronteiriças receberam ordens para disparar à vista de qualquer atividade suspeita. A Índia também ativou sistemas anti-drone perto da fronteira.Nova Deli e Islamabade trocam acusações
Desde que homens armados mataram a tiro 26 pessoas – na sua maioria turistas hindus - em Pahalgam, na Caxemira administrada pela Índia, a 22 de abril, tem vindo escalar as tensões entre os dois países do sul da Ásia, rivais desde a partição da antiga Índia britânica em 1947.
As tensões crescentes transformaram-se rapidamente num confronto militar, levando Pequim e Londres a oferecer mediação, enquanto a União Europeia, a ONU, Moscovo, Washington e Paris apelaram à moderação.A escalada atual ocorre num momento precário para a economia de 350 mil milhões de dólares do Paquistão, que ainda está a recuperar de uma crise económica que o levou à beira do incumprimento de uma obrigação de dívida externa em 2023, antes de garantir o financiamento do Fundo Monetário Internacional.
Os dois exércitos trocaram tiros de artilharia ao longo da fronteira disputada em Caxemira após ataques indianos em solo paquistanês em retaliação pelo ataque de Pahalgam.
O ministro indiano da Defesa, Rajnath Singh, reiterou que estes ataques tiveram como alvo apenas "campos terroristas" cuidadosamente identificados para "evitar a população ou áreas civis".
A Índia afirmou ter destruído nove locais que alegadamente albergam membros do grupo islâmico Lashkar-e-Taiba (LeT), que responsabiliza pelo ataque na Caxemira indiana, que nunca foi reivindicado.
Nova Deli acusa o Paquistão de apoiar o LeT, o que Islamabad nega veementemente.
A relação entre a Índia e o Paquistão tem sido repleta de tensões desde que conquistaram a independência da Grã-Bretanha em 1947, e os dois países, com armas nucleares, travaram três guerras, duas delas sobre Caxemira.Relações conturbadas desde 1999
Os dois países vivem desde 1999 relações militares e diplomáticas conturbadas. No entanto, este último ataque da Índia ao Paquistão foi o mais grave das duas décadas.
Entre maio e julho de 1999, a Índia e o Paquistão travam uma guerra não declarada na região de Kargil, em Caxemira, depois de irregulares apoiados pelo exército paquistanês ocuparem postos indianos na Linha de Controlo (LoC) ou na linha de cessar-fogo. Os EUA pressionam o Paquistão a retirar-se.
Em dezembro de 2001, atacantes fortemente armados atacam o edifício do parlamento indiano em Nova Deli, matando nove pessoas. A Índia acusa os grupos islamistas Jaish-e-Mohammed e Lashkar-e-Taiba, sediados no Paquistão.
Dez atacantes fortemente armados atacam os principais pontos de referência de Bombaim, incluindo dois hotéis de luxo, um centro judaico e a principal estação de comboios, matando 166 pessoas, em novembro de 2008. A Índia interrompe o diálogo com o Paquistão, retomando-o brevemente anos mais tarde no âmbito de um processo de paz estruturado.
Em janeiro de 2016, atacantes disfarçados de soldados invadem uma base da Força Aérea indiana perto da fronteira com o Paquistão, trocando tiros com as forças de Nova Deli que, apoiadas por tanques e helicópteros, lutam durante mais de 15 horas antes de recuperarem o controlo do complexo. Os cinco assaltantes e pelo menos dois guardas são mortos no ataque.
A Índia afirma que os atacantes vieram do Paquistão, enquanto as autoridades paquistanesas condenaram o ataque. As conversações de paz, brevemente reavivadas em 2015, voltam a estagnar.
Meses depois, em setembro de 2016, 18 soldados indianos são mortos num ataque a uma base militar em Uri, na Caxemira indiana. A Índia culpa o Paquistão pelo ataque e responde com “ataques cirúrgicos” através da Linha de Controlo contra o que chama de plataformas de lançamento de terroristas. Islamabad nega que tenha havido qualquer incursão no seu território.
Em fevereiro de 2019, um bombista suicida mata 40 polícias paramilitares indianos em Caxemira. A Índia efetua ataques aéreos em Balakot, no Paquistão.
O Paquistão responde com os seus próprios ataques aéreos e abate um avião indiano. A Índia afirma também ter abatido um avião paquistanês, o que não foi confirmado. O impasse atenua-se na sequência da pressão internacional.
No mesmo ano, em agosto, a Índia revoga o estatuto especial de Caxemira, suprimindo uma disposição constitucional que permitia ao Estado de Jammu e Caxemira adotar as suas próprias leis. O Paquistão desce o nível da diplomacia e suspende as trocas comerciais.
Já este ano, em abril, 26 pessoas foram mortas depois de agressores islamistas terem atacado turistas hindus na Caxemira indiana. A Índia culpa grupos apoiados pelo Paquistão e Islamabad nega o envolvimento e apela a uma investigação neutra.
A Índia suspendeu o Tratado sobre as Águas do Indo, de 1960, que regula a partilha da água do rio Indo e dos seus afluentes, enquanto o Paquistão suspende todas as trocas comerciais com a Índia, incluindo através de países terceiros. Além disso, Nova Deli revoga a maior parte dos vistos concedidos a cidadãos paquistaneses.
c/ agências