Parlamento fragmentado. Macron perde maioria absoluta na Assembleia Nacional

por Andreia Martins - RTP
A primeira-ministra indigitada por Emmanuel Macron, Elisabeth Born, alertou no domingo para o "risco" de uma Assembleia Nacional dividida. Ludovic Marin - EPA

Menos de dois meses depois de ter sido reeleito presidente, Emmanuel Macron perdeu a maioria absoluta na segunda volta das eleições legislativas que decorreram no domingo, em França. No campo de Macron, teme-se a "paralisia total" do Parlamento francês e mesmo uma dissolução da Assembleia ao fim de um ano, escreve esta segunda-feira o diário Le Monde.

A coligação Ensemble!, que apoia o presidente francês, conseguiu eleger apenas 245 deputados, muito aquém dos 289 necessários para alcançar a maioria absoluta.

Com 100 por cento dos votos apurados, o Ensemble recebeu 38,57 por cento dos votos dos eleitores. Um “terramoto” ou mesmo uma “derrota esmagadora” para a aliança centrista, descreve a imprensa francesa no rescaldo destas eleições.

Logo depois surge a coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES), que junta forças diversas como a França Insubmissa, os socialistas, ecologistas e comunistas. Sob a liderança de Jean-Luc Mélenchon, esta força política polifónica conseguiu eleger 131 deputados, obtendo 31,60% dos votos.

Nas eleições de 2017, os quatro partidos que compõem agora o NUPES (França Insubmissa, Partido Socialista, Partido Comunista Francês e Verdes) tinham obtido, no seu conjunto, apenas 63 deputados.

Já o Rassemblement National, de Marine Le Pen, foi a terceira força política mais votada, com 89 deputados, tendo obtido 17,30 por cento dos votos. Nas eleições legislativas de 2017, o partido tinha alcançado a eleição de apenas oito deputados.

O quarto partido mais votado foi o de centro-direita, Les Républicans, que conseguiu eleger apenas 61 deputados, ficando muito abaixo dos 112 deputados eleitos há cinco anos (passou de 22,23 por cento dos votos em 2017 para apenas 6,98 por cento).

Se o partido de Macron conseguir formar coligação com esta força partidária, obterá os deputados suficientes para formar uma maioria governativa. No entanto, o partido que representa a direita tradicional francesa já veio excluir a possibilidade de uma aliança com o Governo para garantir essa maioria.
"Um risco para o nosso país"

Assim, sem acordo pós-eleitoral, Macron perde a maioria absoluta de 2017 e o seu partido fica obrigado a negociar dossier a dossier para conseguir governar. É, de resto, a menor maioria relativa desde o início da Quinta República.

Para além da ascensão da grande coligação liderada por Jean-Luc Melénchon, destaque também para o Rassemblement National, que passou dos oito lugares em 2017 para 89 deputados no Parlamento. O partido de Marine Le Pen acaba por ser a segunda força política mais representada enquanto força coletiva.

Outro elemento relevante desta eleição é a elevada abstenção registada: apenas 47,51 por cento dos eleitores inscritos foram às urnas, registando-se 52,49 por cento de abstenção.

A primeira-ministra recentemente indigitada por Emmanuel Macron, Elisabeth Borne, considerou que a atual situação na Assembleia Nacional francesa, composta por 577 deputados, é inédita e perigosa.

“A situação é inédita. Nunca a Assembleia Nacional conheceu tal configuração na V República. Esta situação representa um risco para o nosso país, tendo em conta os perigos que enfrentamos a nível nacional e internacional”, apontou.

“É um primeiro lugar dececionante, mas não deixa de ser um primeiro lugar”, afirmou Olivia Grégoire, porta-voz do Governo em declarações à televisão.

No mesmo sentido, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, considerou que estes resultados constituem um “choque democrático”, desde logo pela ascensão da extrema-direita.

O responsável admite que os resultados refletem as preocupações do eleitorado francês, mas que Emmanuel Macron continua a ser o único com “legitimidade democrática” para definir, em conjunto com outros partidos da Assembleia Nacional, um projeto para a França, focado em questões do trabalho, segurança, questões europeias e clima.
Tópicos
pub