Partido Nacionalista vai negociar com socialistas novo governo do País Basco

por Lusa

O Partido Nacionalista Basco (PNV, centro-direita) confirmou hoje que vai negociar com os socialistas a reedição da atual coligação no governo autónomo do País Basco, depois de ter sido a formação mais votada nas eleições regionais de domingo.

O presidente do PNV, Andoni Ortuzar, confirmou a intenção de negociar com o Partido Socialista basco (PSE-EE, a estrutura regional do partido socialista espanhol, PSOE), que foi a terceira força mais votada, e acrescentou estar confiante num acordo.

"Temos experiência, eu já estive nestas negociações em três legislaturas, os interlocutores são velhos conhecidos", afirmou, em declarações a meios de comunicação social, em Bilbau, no País Basco, região autónoma no nordeste de Espanha.

Também o líder dos socialistas bascos, Eneko Andueza, disse já hoje que quer sentar-se "o mais depressa possível" a negociar com o PNV.

O PNV reclamou a vitória nas eleições de domingo por ter sido o mais votado, embora tenha eleito o mesmo número de deputados do que o EH Bildu, uma plataforma de esquerda de partidos independentistas em que se incluem formações herdeiras dos braços políticos do grupo terrorista ETA.

O próprio EH Bildu deu já por adquirido que o novo governo basco voltará a ser liderado pelos nacionalistas, em coligação com o partido socialista.

O líder da candidatura do EH Bildu, Pello Otxandiano, disse hoje à rádio pública basca que, no entanto, há desde domingo "um panorama novo" na região porque agora há duas forças nacionalistas "que se olham olhos nos olhos" e um "mandato popular" diferente, manifestando disponibilidade para "colaborar e cooperar" se o novo governo colocar em cima da mesa "uma nova agenda nacional" e de "políticas públicas progressistas".

O EH Bildu teve um resultado histórico no domingo, por pela primeira vez, após mais de 40 anos de democracia e de autonomias em Espanha, ter disputado a vitória ao PNV nas eleições regionais.

Os dois partidos elegeram o mesmo número de deputados (27), embora o PNV tenha tinha mais votos do que o EH Bildu (35,22% e 32,5%, respetivamente).

Para a maioria absoluta são necessários 38 deputados no parlamento regional e só o PNV tem um aliado para formar uma coligação do governo, o partido socialista, que conseguiu 12 deputados e 14,21% dos votos.

O PSE-EE rejeitou sempre a possibilidade de acordos com o EH Bildu no País Basco, embora em Madrid o governo espanhol do socialista Pedro Sánchez tenha sido viabilizado e continue a depender do apoio parlamentar tanto do PNV como do EH Bildu.

Eneko Andueza argumentou que dirigentes do EH Bildu nunca fizeram a condenação da ETA e que é um partido com uma agenda independentista que tem dissimulado ou mesmo ocultado.

Pello Otxandiano garantiu na semana passada que a falta de entendimento no País Basco não poria em causa os apoios a Sánchez no governo central, porque o partido não faz "troca de cromos" e rege-se pela "política com propósito", sendo que o objetivo da Madrid "é fechar a porta a um possível governo de extrema-direita", o que se mantém.

O PNV foi sempre o partido mais votado nas eleições regionais bascas e, com a exceção de um período de três anos entre 2009 e 2012, esteve também sempre à frente do governo autonómico.

O EH Bildu, que nos estatutos tem inscrita a condenação da violência com objetivos políticos, nasceu em 2012, com o fim da atividade da ETA e no contexto da crise financeira, tendo-se consolidado ao longo destes 12 anos como um partido com preocupações sociais, relegando para um plano secundário as questões identitárias ou a independência do País Basco.

Nestas eleições, beneficiou de uma concentração de votos no partido do eleitorado à esquerda dos socialistas e conseguiu mobilizar, em especial, os jovens.

EH Bildu e PNV (que teve também mais votos do que nas eleições anteriores) conseguiram, no conjunto, mais de 72% dos deputados e o próximo parlamento regional será o mais nacionalista da história do País Basco, depois de uma campanha centrada, no essencial, em questões socioeconómicas e coincidindo com um momento em que, segundo todos os estudos de opinião, o desejo de independência está em mínimos históricos entre os bascos.

No novo parlamento haverá, por outro lado, menos deputados de partidos da esquerda espanhola. Além dos 12 socialistas, só haverá um do Somar (que está no governo central de Espanha com o PSOE).

Já o Partido Popular (PP, direita) elegeu sete deputados e o Vox (extrema-direita) um.

Havia atualmente no parlamento basco 31 deputados do PNV, 21 do EH Bildu, 10 dos socialistas, seis do PP, seis do Podemos (extrema-esquerda), um do VOX e um do Cidadãos (liberal).

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