Partidos criam Fórum para Salvação da Democracia na Guiné-Bissau

por Lusa

O Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15), o Partido da Renovação Social (PRS) e a Assembleia do Povo Unido -- Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), concordaram hoje na criação do Fórum para Salvação da Democracia (FSD).

O acordo foi assinado por Braima Camará, coordenador do Madem G-15, Fernando Dias, presidente interino do PRS, e Nuno Nabiam, líder da APU-PDGB, num hotel de Bissau, perante dezenas de apoiantes dos três partidos.

Braima Camará foi indigitado coordenador geral do FSD, enquanto Fernando Dias e Nuno Nabiam foram designados vice-coordenadores do fórum, aberto à adesão de outras formações políticas, desde que defendam os mesmos objetivos, realça-se no texto do acordo.

No discurso para assinalar o ato, Nuno Nabiam, antigo primeiro-ministro e ex-conselheiro especial do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, explicou os motivos que levaram o seu partido a pensar num espaço de concertação para "tirar a Guiné-Bissau da situação em que se encontra".

"Quando a democracia está em causa, o povo reage", disse Nabiam, reafirmando a sua determinação de não permitir problemas no país, sempre no respeito pela democracia, o que passará pela reposição da Assembleia Nacional Popular (ANP, parlamento) -- dissolvido desde dezembro -, pela eleição no Supremo Tribunal de Justiça, que funciona com uma liderança interina, e na Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Partidos e organizações da sociedade civil têm repetido a necessidade de serem realizadas novas eleições na CNE, cujo secretariado executivo, afirmam, está caducado desde abril de 2022.

Nuno Nabiam considerou que estes factos colocam em causa a democracia na Guiné-Bissau e que é chegada a hora de os partidos assumirem as suas responsabilidades, mobilizando os cidadãos.

O ex-primeiro-ministro guineense deu o exemplo do Senegal, onde, disse, "Deus colocou no poder" quem o Presidente daquele país "tinha posto na prisão", em alusão ao Presidente eleito, Bassirou Diomaye Faye, que tinha sido detido por Macky Sall.

"Temos que estar na linha de frente para que a democracia possa se afirmar na Guiné-Bissau como no Senegal", enfatizou Nabiam.

O político aproveitou a ocasião para defender que as autoridades devem tratar do julgamento de militares e civis detidos há dois anos sob acusação de tentativa de golpe de Estado.

Cerca de 50 pessoas encontram-se detidas em aquartelamentos militares, em Bissau, acusadas de envolvimento na tentativa de golpe ocorrida no dia 01 de fevereiro de 2022.

"Não é possível que essas pessoas continuem detidas há mais de dois anos, sem julgamento", notou Nuno Nabiam.

O presidente interino do PRS, Fernando Dias, centrou o seu discurso na "obrigatoriedade legal" de o país organizar, até dezembro deste ano, as eleições presidenciais e deu também o exemplo do Senegal, onde, notou, "um opositor acaba de assumir o poder".

"As eleições têm de ser organizadas e realizadas na Guiné-Bissau em dezembro para que o novo Presidente seja empossado em fevereiro de 2025", sublinhou Fernando Dias.

O Presidente guineense tem repetido que as próximas presidenciais devem ter lugar em 2025.

Fernando Dias falou de rumores no país que apontam para uma nova tentativa de golpe de Estado e que colocam o vice-presidente do PRS, Mário Fambé, como um dos alegados mentores, o que desmentiu.

"Qual golpe de Estado? O poder é conquistado nas urnas. Vamos às eleições para que quem tiver de sair [do poder] que saia através do voto dos guineenses, como aconteceu no Senegal", destacou o líder do PRS.

O coordenador do FSD, Braima Camará, observou ser "o dever supremo" dos políticos defender "os valores de liberdade forjados pelos combatentes da liberdade da pátria", sublinhando que, de agora em diante, "nunca mais ninguém irá dividir" os guineenses "para que reine", perante um povo "que está cansado".

"Com assinatura deste acordo partimos a garrafa onde nos tinham metido. Este espaço vai salvar a democracia e o povo da Guiné-Bissau", sublinhou Camará, que se declarou envergonhado pela situação em que se encontra o país.

Braima Camará - que também apelou aos outros líderes de partidos com representação no parlamento atualmente dissolvido, entre os quais Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC - disse que o povo "está à espera" dos responsáveis políticos para a procura de uma solução de consenso para o país.

"Não podemos estar na Guiné-Bissau e sentir que há opressão, há medo", afirmou Camará.

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