Peritos da ONU pedem abertura do corredor de Lachin para envio de ajuda ao Nagorno-Karabakh

por Lusa

O bloqueio pelo Azerbaijão do corredor de Lachin, a única via de acesso da Arménia ao disputado território do Nagorno-Karabakh, implicou uma crise humanitária que pode terminar com a sua abertura e o envio de ajuda, indicaram hoje peritos da ONU.

Em comunicado, os peritos recordam que o corredor permanece bloqueado, "causando à população [do Nagorno-Karabakh] graves carências de alimentos, medicamentos e produtos de higiene".

O bloqueio "também afetou o funcionamento das instituições médicas e educativas, pondo em risco a vida dos habitantes, especialmente crianças, pessoas incapacitadas, idosos, mulheres grávidas e doentes", assinalaram.

Os peritos da ONU exortam o Azerbaijão a permitir de novo o livre movimento de pessoas, veículos e mercadorias através de Lachin, em ambas as direções, de acordo com o cessar-fogo assinado em novembro de 2020.

Pediram ainda às forças de paz russas na zona que protejam o corredor, em cumprimento dos acordos firmados há três anos.

Os subscritores do comunicado são os relatores da ONU para a alimentação (Michael Fakhri), a educação (Farida Shaheed), e os responsáveis pela defesa dos idosos (Claudia Mahler) e pessoas incapacitadas (Gerard Quinn).

O enclave do Nagorno-Karabakh, com larga maioria de população arménia cristã ortodoxa, declarou a independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra no início da década de 1990 que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.

Na sequência deste conflito, foi assinado um cessar-fogo em 1994 e aceite a mediação do Grupo de Minsk (Rússia, França e Estados Unidos), constituído no seio da OSCE, mas as escaramuças armadas continuaram a ser frequentes, e implicaram graves confrontos em 2018.

Cerca de dois anos depois, no outono de 2020, a Arménia e o Azerbaijão enfrentaram-se durante seis semanas pelo controlo do enclave durante uma nova guerra e com pesada derrota arménia, que perdeu uma parte importante dos territórios que controlava há três décadas.

Após a assinatura de um acordo sob mediação russa, o Azerbaijão, apoiado militarmente pela Turquia, registou importantes ganhos territoriais e Moscovo enviou uma força de paz de 2.000 soldados para a região do Nagorno-Karabakh.

Apesar do tímido desanuviamento diplomático, os incidentes armados permaneceram frequentes na zona ou ao longo da fronteira oficial entre os dois países, culminando nos graves incidentes fronteiriços de setembro.

Em 10 de janeiro passado, e numa atitude inédita, a Arménia anunciou que iria recusar receber este ano as manobras militares conjuntas no quadro da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC, uma aliança militar liderada pela Rússia e que junta seis repúblicas ex-soviéticas), devido à insatisfação pelo bloqueio do corredor de Lachin.

Na prática, o acordo de 2020 reduziu ao mínimo a via de contacto entre a Arménia e o Nagorno-Karabakh, onde foi proclamada a República de Artsakh, uma entidade definida como Estado independente mas sem reconhecimento internacional.

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