Pior catástrofe desde sismo de 2010. Incêndios no Chile provocam 112 mortos

por Cristina Sambado - RTP
Adriana Thomasa - EPA

Os fortes incêndios que assolam a região turística costeira de Valparaíso, no centro do Chile, já provocaram pelo menos 122 mortos, um número que pode aumentar à medida que os bombeiros combatem os cerca de 40 fogos ativos. O presidente Gabriel Boric já afirmou que o país enfrenta uma “tragédia de grande magnitude”.

Segundo as autoridades, centenas de pessoas continuam desaparecidas, o que faz prever que o número de mortos aumente, à medida que os corpos são encontrados nas encostas e nas habitações devastadas pelas chamas.

Os incêndios, que ganharam força na sexta-feira, ameaçam os arredores de Viña del Mar e Valparaíso, duas cidades costeiras muito procuradas pelos turistas. O Serviço Médico Legal do Chile confirmou, no domingo, que 112 pessoas morreram nos incêndios. No sábado, o número era de 51.

Imagens da Reuters captadas por drone na área de Viña del Mar mostram bairros inteiros queimados com os moradores a remexer nos escombros.
As autoridades chilenas decretaram um recolher obrigatório nas zonas mais afetadas (Viña del Mar, Limache, Quilpué e Villa Alemana) e enviaram 1.300 militares para ajudar os cerca de 1.400 bombeiros a conter a propagação dos incêndios, enquanto os meios aéreos despejam água para tentar apagar as chamas. Segundo o presidente chileno, o recolher obrigatório ajudará a libertar as estradas e permitirá que os veículos de emergência cheguem às áreas afetadas.Apesar de os incêndios florestais não serem incomuns durante o verão no hemisfério sul, a letalidade destes incêndios destaca-se, tornando-os a pior catástrofe nacional no Chile desde o terramoto de 2010, no qual morreram cerca de 500 pessoas.

O presidente chileno decretou o estado de emergência e dois dias de luto nacional e frisou que o país se deve preparar para mais más notícias.

"Este número de mortos vai aumentar, sabemos que vai aumentar significativamente", avisou o Boric no domingo, durante uma visita a Quilpué, nos arredores de Viña del Mar, na região de Valparaíso, onde foram registadas todas as mortes.

"É o Chile como um todo que sofre e chora os nossos mortos", afirmou o presidente num discurso à nação. "Estamos a enfrentar uma tragédia de grande magnitude", acrescentando que iria disponibilizar “todos os recursos necessários”.

Boric procurou canalizar fundos para as zonas mais afetadas, muitas das quais são populares entre os turistas. "Estamos juntos, todos nós, a lutar contra a emergência. A prioridade é salvar vidas", sublinhou o presidente chileno.

"Esta é a maior tragédia a que assistimos desde o terramoto de 2010", acrescentou, referindo-se ao terramoto de magnitude 8,8 seguido de um tsunami em 27 de fevereiro de 2010, que matou mais de 500 pessoas.
Desde quarta-feira, as temperaturas aproximam-se dos 40 graus no centro do Chile e na capital Santiago.

O Ministério da Saúde lançou um alerta sanitário em Valparaíso. O Governo autorizou a suspensão das cirurgias não urgentes e autorizou a criação de hospitais de campanha temporários.

Os serviços de salvamento têm tido dificuldade em chegar às zonas mais afetadas e a ministra do Interior, Carolina Tohá, afirmou domingo que o número de mortos "atingirá valores muito mais elevados".

O Ministério da Habitação disse que entre três mil e seis mil habitações foram afetadas pelos incêndios. As autoridades estão convictas de que este seja o incêndio florestal mais mortífero no país. Muitas das pessoas afetadas estavam de visita à região, conhecida pelas praias e produção de vinho, durante as férias de verão.

Em 2023, na sequência de uma onda de calor recorde, cerca de 27 pessoas morreram e mais de 400 mil hectares de terra ficaram afetados.

As condições meteorológicas das últimas horas parecem ser mais favoráveis, acrescentou a ministra do Interior, Carolina Toha, descrevendo um fenómeno típico da costa do Pacífico que produz muitas nuvens, humidade elevada e, por conseguinte, temperaturas mais baixas.

"As condições atuais são mais favoráveis para atender as vítimas e controlar os incêndios", acrescentou.

O incêndio de Las Tablas, o maior da região de Valparaíso, continua ativo e "cobre um perímetro de 80 quilómetros”, acrescentou Carolina Toha.

A onda de calor, resultante do fenómeno climático El Niño, atinge atualmente o sul da América Latina, a atravessar o verão, provocando incêndios florestais agravados pelo aquecimento global. Depois do Chile, a onda de calor ameaça Argentina, Paraguai e Brasil nos próximos dias.

c/ agências internacionais
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