A polícia britânica abriu um inquérito à prática de alegados crimes de ódio contra judeus no Partido Trabalhista, na sequência de um relatório do próprio partido em que são reportados 45 casos. O líder do partido, Jeremy Corbyn, está a ser criticado pela forma como lidou com as queixas de grupos judaicos.
“O conteúdo foi analisado por polícias especializados. Iniciámos uma investigação criminal a algumas das alegações contidas nos documentos", revelou a polícia.
O anúncio foi feito esta sexta-feira pela comissária Cressida Dick, que acrescentou ter o “dever” de avaliar a informação reportada, uma vez que “poderá ter havido prática de crime” online.
A comissária da polícia londrina sublinha que o Partido Trabalhista não está a ser investigado. "Não vamos investigar o Partido Trabalhista. Vamos querer sempre que as instituições, os partidos políticos e similares sejam capazes de se auto-regular”, declarou à estação de rádio BBC 4.
“No entanto, se alguém nos entrega material que dizem ser um crime, temos o dever de olhar para isso e não apenas descartá-lo”, acrescentou.
A rádio LBC teve acesso a um documento do próprio Partido Trabalhista em que eram referidos casos de mensagens, publicadas por membros nas redes sociais, de ameaças a políticos de ascendência judaica.
Numa mensagem publicada no Facebook, um membro do Partido Trabalhista escrevia que uma deputada do mesmo partido era uma "extremista sionista... que odeia pessoas civilizadas" e que "está prestes a levar uns bons pontapés". Numa outra publicação, o mesmo membro ameaçava atirar do alto de um prédio dois outros elementos do Parlamento britânico.
A comissária confirmou estar a receber apoio do Ministério Público e espera conseguir concluir rapidamente as investigações.
Atuação de Corbyn sob críticas
O número dois do Partido Trabalhista afirmou que “não ficou surpreendido” pelas acusações “deprimentes”.
“Se as pessoas cometeram crimes de ódio, então devem enfrentar toda a força da lei. Não há lugar para eles no Partido Trabalhista”, comentou Tom Watson.
“Se isto faz alguma coisa é silenciar um pequeno número de pessoas que ainda acreditam que o antissemitismo não existe no meu partido ou noutros partidos, o que dificulta a campanha para tentar lidar com o problema tão rapidamente e com a maior rapidez e força que pudermos", acrescentou.
O Partido Trabalhista tem sido acusado, nos últimos anos, de acolher posições antissemitas.
Grupos judaicos também acusaram o líder Jeremy Corbyn de não ter tomado uma posição para tentar resolver a questão com seriedade. Após meses de pressão, Corbyn admitiu o antissemitismo no partido e pediu desculpa pela dor causada.
Uma porta-voz trabalhista referiu que o Partido ainda não foi contactado pela polícia, mas está “disponível para colaborar”.
Existe “um sistema robusto de investigação de queixas a alegadas quebras às regras do Partido pelos seus membros”, declarou à CNN, acrescentando que “quando alguém sente que foi vítima de crime, deve reportar a situação à polícia, de acordo com os procedimentos habituais”.
“Lamentável oportunidade perdida”
No entanto, os líderes judaicos criticaram a atuação do Partido Trabalhista, bem como do seu líder, a que chamara de “lamentável oportunidade perdida”.
Também a vice-presidente de um grupo de pressão de judeus britânicos revelou não estar surpreendida com a investigação.
"Há uma cultura profundamente enraizada de antissemitismo em partes do Partido Trabalhista e Jeremy Corbyn não fez quase nada para o combater, na medida em que alguns casos podem agora até adquirir contornos criminais", comentou Amanda Bowman.
"Temos repetidamente dito o que o Trabalhista tem de fazer, incluindo tomar medidas firmes contra os antisssemitas e tornar transparentes os seus processos opacos", disse ainda. Para Amanda Bowman, os trabalhistas também têm responsabilidades no número recorde de incidentes antissemitas registados na Grã-Bretanha no ano passado.
Em setembro, o Partido Trabalhista concordou em adotar a definição internacional de antissemitismo após um longo debate interno.
O partido está a enfrentar uma série de casos de alegados comportamentos antissemitas pelos seus membros. Estas queixas surgiram desde 2015, quando Jeremy Corbyn assumiu a liderança.