Polónia ativa caças para vigilância perante ataque russo "intenso" no oeste da Ucrânia

O Estado-Maior das Forças Armadas polacas anunciou esta segunda-feira que fez descolar vários aviões de combate para fiscalizar o espaço aéreo do país devido a um "intenso" ataque russo no oeste da Ucrânia.

Cristina Sambado - RTP /
Beata Zawrzel - NurPhoto via AFP

"Devido ao intenso ataque aéreo da Federação Russa no território da Ucrânia, aviões polacos e aliados começaram a operar no espaço aéreo polaco durante a manhã", anunciou o Estado-Maior polaco na rede social X.

"Os caças de serviço foram posicionados em pares e os sistemas de defesa aérea e de reconhecimento por radar baseados em terra atingiram o nível de alerta máximo", acrescentou o Estado-Maior, especificando que se trata de ações de natureza preventiva.

Este tipo de intervenção é comum quando os mísseis ou drones russos têm como alvo regiões do oeste da Ucrânia que fazem fronteira com a Polónia, membro da NATO."Dezenas" de drones e mísseis russos atingiram a região de Rivne, no oeste da Ucrânia, na noite de domingo, disse o presidente da câmara da cidade, Oleksandr Tretyak, na rede social Telegram.

De acordo com o governador regional, Oleksandr Koval, Rivne teve "uma noite muito difícil", devido a um "ataque aéreo inimigo maciço", que feriu pelo menos um civil.

A cidade de Kiev também foi alvo de um ataque que danificou um edifício, segundo o chefe da administração da cidade, Tymour Tkatchenko.

Pelo seu lado, o Ministério da Defesa russo informou que 49 drones ucranianos tinham sido intercetados no domingo à noite nas regiões fronteiriças com a Ucrânia e na Chuvashia, cerca de 600 quilómetros a leste de Moscovo. Aumento de 400% na defesa aérea e antimíssil

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, vai apelar a um aumento de 400 por cento das capacidades de defesa aérea e antimíssil da Aliança, em especial para fazer face a uma Rússia que “espalha o terror a partir dos céus”.

“Precisamos de dar um salto quântico na nossa defesa coletiva (...) O facto é que o perigo não vai desaparecer, mesmo com o fim da guerra na Ucrânia”, declarou Mark Rutte esta segunda-feira numa conferência em Londres, segundo um comunicado de imprensa do evento organizado pelo grupo de reflexão Chatham House.Para manter uma dissuasão e uma defesa credíveis, “a NATO precisa de um aumento de 400 por cento na sua defesa aérea e de mísseis”, acrescentou, antes da cimeira da Aliança Atlântica que vai decorrer em Haia, entre 24 e 25 de junho.

Estamos a ver na Ucrânia como a Rússia está a espalhar o terror a partir dos céus, por isso vamos reforçar o escudo que protege o nosso espaço aéreo”, acrescentou Rutte, que será recebido, esta segunda-feira em Downing Street pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.

Para o secretário-geral da Aliança Atlântica, os “militares também precisam de mais milhares de veículos blindados e tanques, mais milhões de cartuchos de artilharia e temos de duplicar as nossas capacidades de apoio, como a logística, o abastecimento, o transporte e o apoio médico".

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, indicou em Bruxelas, na quinta-feira, que os aliados estavam perto de um acordo sobre este objetivo, que poderia ser formalizado na cimeira de Haia.

Para garantir o seu sucesso, Mark Rutte propôs um valor global de cinco por cento, mas sob a forma de uma adição de dois tipos de despesas.

Rutte irá também saudar a nova estratégia de defesa do Reino Unido, revelada há uma semana, que, segundo ele, irá “reforçar a defesa coletiva da NATO”.

O primeiro-ministro Keir Starmer anunciou que o Reino Unido vai construir doze submarinos nucleares de ataque e seis fábricas de munições para rearmar o país, nomeadamente face à “ameaça” representada pela Rússia."Criatividade" ucraniana é uma lição para a NATO
A "criatividade" da Ucrânia, ilustrada pelo seu ataque a bombardeiros nucleares russos utilizando drones a mais de quatro mil quilómetros das suas fronteiras, pode ser uma fonte de inspiração para os exércitos ocidentais, segundo um dos principais responsáveis militares da NATO.

Em entrevista à AFP, o almirante francês Pierre Vandier, antigo chefe do Estado-Maior da Marinha Francesa, que em setembro de 2024 foi nomeado para liderar a transformação da Aliança, descreveu-a como "uma medida muito, muito boa".

"O que os ucranianos fizeram na Rússia é um cavalo de Troia", explicou o antigo piloto de Rafale e comandante do porta-aviões Charles de Gaulle.

Mas, acrescenta, esta missão mostra também como a inovação e a adaptação são essenciais para vencer no campo de batalha.“Hoje, estamos a regressar a uma era dinâmica, em que os exércitos devem ser o produto de um planeamento pesado, mas também de um planeamento adaptado”, explica o oficial, que ocupa agora o cargo de Comandante Supremo Aliado da NATO para a Transformação (SACT).

"Vamos assistir a uma inovação constante em que, de semana para semana, de mês para mês ou de ano para ano, vamos poder inventar coisas que não tínhamos planeado", garante.

"O tempo é de facto essencial. É preciso ser rápido", sobretudo num mundo que se tornou mais perigoso, sublinha.

O almirante Vandier insiste que a NATO se dever preparar para a crescente ameaça russa e garantir que será capaz de repelir um ataque de Moscovo, nos próximos quatro ou cinco anos.

“Quando dizemos que estamos a defender-nos, temos as armas para nos defendermos. Quando dizemos que estamos a dissuadir, temos as armas para dissuadir. É isso que deve impedir a guerra, que deve fazer com que o adversário não diga a si próprio: ‘Amanhã de manhã, vou ganhar’", sublinhou o oficial francês.Putin aprova grande renovação da marinha russa
O presidente russo Vladimir Putin aprovou uma nova estratégia naval que visa restaurar totalmente a posição da Rússia como uma das principais potências marítimas do mundo, disse o assessor do Kremlin Nikolai Patrushev numa entrevista ao jornal russo Argumenti i Fakti publicada esta segunda-feira.

A Rússia tem a terceira marinha mais poderosa do mundo, depois da China e dos Estados Unidos, de acordo com a maioria dos rankings públicos, embora a marinha tenha sofrido uma série de perdas de alto perfil na guerra da Ucrânia.Segundo a Reuters, os dados sugerem que a Rússia tem 79 submarinos, incluindo 14 submarinos de mísseis balísticos movidos a energia nuclear, bem como 222 navios de guerra. A sua principal frota é a Frota do Norte, com sede em Severomorsk, no Mar de Barents.

Patrushev, um antigo oficial do KGB que serviu com Putin na cidade de São Petersburgo, no norte da Rússia, durante a era soviética, revelou que a nova estratégia naval - intitulada "A Estratégia para o Desenvolvimento da Marinha Russa até 2050" - tinha sido aprovada por Putin no final de maio.

"A posição da Rússia como uma das maiores potências marítimas do mundo está a recuperar gradualmente", acrescentou Patrushev na entrevista.

Segundo o antigo oficial do KGB, “é impossível levar a cabo este trabalho sem uma visão a longo prazo dos cenários de desenvolvimento da situação nos oceanos, da evolução dos desafios e ameaças e, claro, sem definir as metas e objetivos da Marinha russa".

Patrushev não deu mais pormenores sobre a estratégia, embora a Rússia tenha aumentado as despesas com a defesa e a segurança para níveis da Guerra Fria em percentagem do produto interno bruto.

Em 2021, um relatório do Departamento de Defesa dos EUA afirmou que a China tinha a maior marinha do mundo e que a força de combate global de Pequim deverá aumentar para 460 navios até 2030.

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