Portuguesa que enfrentou tanque na Venezuela à RTP: "Vou morrer aqui. Não vou deixá-los com semelhantes monstros"

por RTP
Marco Bello - Reuters

A portuguesa que enfrentou um tanque durante protestos na Venezuela disse, em entrevista à RTP Madeira, que os cidadãos do país já não têm qualquer direito e garante que não existem quaisquer bens de primeira necessidade para consumo. Maria José Castro vive há mais de 40 anos na Venezuela e diz que foi o enorme amor que sente pelo país que a levou a enfrentar as autoridades venezuelanas.

É natural da Madeira, tem 54 anos, e vive há 43 anos na Venezuela. Maria José Castro tornou-se num dos grandes símbolos dos protestos que enchem as ruas de Caracas contra o Governo de Nicolás Maduro. Em entrevista à RTP, a portuguesa falou das razões que a levaram a sair à rua e explicou como o povo venezuelano tem vivido nos últimos tempos.

“Falta tudo. Não há medicina, remédios, não há segurança, não há comer para ninguém porque está tudo muito caro”, disse Maria José Castro sobre os acontecimentos recentes na Venezuela que têm levado a incessantes confrontos entre manifestantes e o regime de Nicolás Maduro.

Questionada sobre o momento em que decidiu colocar-se à frente de um tanque durante os protestos, a portuguesa explicou que o fez por sentir um grande amor pelo país a acolheu. “Vivo aqui há 43 anos e tenho um amor muito grande por este país. É um país maravilhoso com muito boa gente”, explicou.

Maria José Castro explica que se ajoelhou perante os militares com a bandeira da Venezuela nas costas porque rezava pelos milhares de jovens que se encontravam nas ruas em confrontos com os militares. Garante que não se sentiu intimidada por se confrontar com um dos Rinocerontes (tanque militar).

“Não tenho e nunca tive medo. Esta é uma ditadura que não tem nome. Nunca se viu no mundo semelhante coisa”, explica. Após o confronto com os militares, Maria José Castro confessou ter sido detida durante uma hora.

“Não me maltrataram”. A portuguesa garante que nunca lhe faltaram ao respeito e não lhe fizeram qualquer interrogatório e afirmou com toda a certeza que não regressará a Portugal. “Quero este país, vou morrer aqui. Não vou deixar esta pobre gente com semelhantes monstros”.

Foto: Carlos Garcia Rawlins - Reuters

Maria José Castro afirma ainda que os protestos prosseguem em Caracas e garante que quando estiver recuperada vai regressar à estrada e aos protestos. Diz que pretende fazê-lo de forma a lutar pelo futuro da Venezuela, sem câmaras e sem teatros.

“Não aguento mais mentira, mais intriga, tanta maldade. Todo este poder está a destruir direitos. Pouco a pouco vão ameaçando pessoas”, explica à RTP.

Sobre o apoio que recebe de Portugal, Maria José Castro diz que a onda de solidariedade devia ser mais expressiva e pede para que sejam mostradas na televisão as imagens do que está a acontecer na Venezuela, já que, aquilo que considera ser uma ditadura total, acabou com todos os meios de comunicação no país.

Maria José Castro acredita que os atuais confrontos não vão transformar-se numa guerra civil pois diz que a maioria dos cidadãos da Venezuela luta contra o regime de Maduro. À RTP, a portuguesa que enfrentou os tanques garante que aqueles que ainda apoiam o presidente venezuelano são empregados do Estado que estão obrigados a apoiar o executivo.
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