PR moçambicano quer oficiais vindos da Renamo no combate a grupos armados no norte de Moçambique

por Lusa

Maputo, 16 ago (Lusa) - O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, desafiou hoje os oficiais promovidos no exército, por indicação da Renamo no âmbito das negociações de paz, a usarem a sua experiência no combate contra grupos armados que têm atacado Cabo Delgado, norte de Moçambique.

"A afronta ao Estado moçambicano pelo grupo de malfeitores em alguns distritos do norte da província de Cabo Delgado é um desafio imediato e deve merecer a pronta e eficaz resposta das Forças Armadas de Defesa de Moçambique [FADM], com o vosso individual envolvimento", disse Filipe Nyusi.

Filipe Nyusi falava durante a cerimónia de promoção de oficiais indicados pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas Forças Armadas de Moçambique, no âmbito dos consensos alcançados nas negociações de paz no ponto sobre a desmilitarização do braço armado do maior partido de oposição.

O chefe de Estado moçambicano falava sobre os ataques de grupos armados a povoações remotas da província de Cabo Delgado, situada entre 1.500 a 2.000 quilómetros a norte de Maputo, desde outubro de 2017, tendo provocado um número indeterminado de mortos e deslocados.

Os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

Para o chefe de Estado de Moçambique, cabe às FADM defender a independência, soberania e integridade do Estado, numa altura em que ameaças exigem maior união entre os moçambicanos.

Nyusi destacou ainda que os oficiais promovidos devem usar a sua experiência para garantir a paz e estabilidade no país num ambiente de união e respeito pela nação, valores que estão incluídos nos entendimentos entre o Governo e a Renamo.

"Hoje testemunhamos novamente que as FADM são um laboratório de preservação da paz, coesão e reconciliação dos moçambicanos", observou o chefe de Estado moçambicano, lembrando que estes oficiais já estavam a servir o país dentro do exército.

Entre os promovidos destaca-se os coronéis Xavier António e Araújo Anderiro Maciacona ao posto de brigadeiro e o capitão-de-mar-e-guerra Inácio Luís Vaz ao posto de comodoro.

No total, foram 18 oficiais patenteados, entre majores, tenentes-coronéis, coronéis e brigadeiros, num evento que contou com a presença de várias personalidades, entre quadros do Governo e antigos mediadores de processo negocial entre o Governo e a Renamo.

O Coronel Arone Alberto Nema, que foi promovido hoje, disse à Lusa que os desafios são vários, desde a defesa da pátria até a preservação da paz no país.

"Eu esperava por esta patente há muito tempo. Eu fiquei como capitão por 25 anos, mas eu já sabia que iria ascender a uma patente que me satisfizesse", observou o coronel, acrescentando que a paz veio para ficar.

No dia 06 deste mês, o Presidente moçambicano anunciou a assinatura de um memorando de entendimento entre o Governo e a Renamo sobre a desmilitarização e a integração das forças do principal partido da oposição no exército e na polícia.

O chefe de Estado moçambicano não avançou detalhes sobre o conteúdo do documento, mas afirmou que se trata de um instrumento "determinante" nas negociações de paz com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu em 03 de maio devido a complicações de saúde.

O atual processo negocial entre o Governo moçambicano e a Renamo arrancou há um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à Gorongosa, centro de Moçambique, para uma reunião com Dhlakama no dia 06 de agosto do ano passado.

Além do desarmamento e integração dos homens do braço armado do maior partido de oposição nas forças armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição em julho.

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