PR timorense prevê eleições em maio e elogia "governo bengala"

por Lusa

O Presidente de Timor-Leste afirmou hoje que tenciona agendar eleições legislativas para maio de 2023 e elogiou o trabalho do "governo geringonça", ou "bengala", de Taur Matan Ruak, que assumiu a continuidade na gestão do país.

Em entrevista à Lusa, José Ramos-Horta afirmou que o "governo está a mostrar trabalho" e recusou o risco de dissolver o parlamento, uma acusação de que foi alvo quando foi eleito Presidente este ano, porque contou com o apoio de Xanana Gusmão, líder do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT), opositor de Matan Ruak.

As eleições serão só "para o ano que vem, provavelmente em maio", mas vai ser preciso "consultar ou ouvir os partidos políticos, disse.

"Aliás, é a Constituição que me obriga", numa "decisão que é resultado de consultas com os partidos e as instituições", afirmou Ramos-Horta, acrescentando: "vou seguir com rigor o calendário constitucional".

O atual governo de Taur Matan, do Partido de Libertação Popular (terceiro com mais deputados em 2018), conta com o apoio do maior partido, a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), uma situação que Ramos-Horta classifica de "governo geringonça", como sucedeu em Portugal, numa referência ao governo socialista, com o apoio do PCP e do BE.

"É a nossa versão de governo geringonça. Em tétum, é governo `aitonga`, uma bengala em que a Fretilin surge a apoiar a continuação do governo" de Matan Ruak, a meio da legislatura.

A coligação, que venceu as eleições de 2018 [com Matan Ruak e Xanada Gusmão] foi desfeita, mas "conseguiram remendar a situação": "porque já está na nossa cultura timorense não radicalizar".

E "embora o partido CNRT [de Xanana] se tenha sentido muito vexado com toda a situação, não reagiu com violência e decorreu tudo no círculo parlamentar", lembrou Ramos-Horta, elogiando as decisões do executivo.

"No dia 30 de novembro, vamos inaugurar o novo porto de Tibar", um projeto de um porto moderno orçado em 400 milhões de dólares (cerca de 406 milhões de euros), iniciado "no governo anterior de Xanana Gusmão e termina agora com o atual governo", exemplificou.

"O atual governo manteve vários outros projetos", como a "modernização do aeroporto de Díli" e do aeroporto de Baucau ou a conclusão dos cabos submarinos, acrescentou Ramos-Horta, que comentou a proposta orçamental.

Sobre a tradicional baixa execução dos projetos anunciados, o chefe de Estado minimizou o impacto, até porque a "lei orçamental é muito rigorosa".

"Se conversar com o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, ou qualquer outra personalidade do Governo dirão que ao Governo não interessa apenas a percentagem de execução", mas "a qualidade de execução", disse o Presidente, que rejeitou qualquer crise política, com acordo do aliado político, Xanana Gusmão

"Fui eleito e em conversa com o Xanana - ambos conversámos e ele disse e eu concordo totalmente" -- que era "necessário que todo o cerimonial do 20 de maio (data da independência), a posse do Presidente e as celebrações decorressem em total serenidade", lembrou.

Para tal, era necessário dialogar com o presidente do Parlamento, Aniceto Guterres Lopes, um nome contestado pelo CNRT e por Xanana Gusmão que se queixavam de que a mesa da assembleia era ilegal.

"A política é assim, é a arte do possível e, de qualquer maneira, nós entramos em contradição: se a mesa era ilegal quando foi eleita, então as bancadas que consideraram que a mesa era ilegal nunca deviam ter participado, quer no debate sobre a legislação ou na votação da legislação, porque toda a legislação foi assinada pelo presidente do Parlamento", salientou Ramos-Horta.

"Faltando apenas um ano para as eleições normais, com a situação regional mundial que todos nós atravessamos, o Covid-19 ainda estava a pairar" (...), "dissolver o Parlamento iria agravar a situação social e económica" do país.

Mas todas essas decisões, explicou Ramos-Horta, foram sempre "consultando com Xanana".

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