Prémios "Nobel Alternativo" distinguem trabalho de dois advogados, uma jornalista e uma ativista

por Lusa

Estocolmo, 26 set (Lusa) - Dois advogados, uma jornalista e uma ativista são os vencedores do prémio "Right Livelihood", ou "Nobel Alternativo", distinguidos pela "proteção dos direitos e vidas" de cidadãos em três continentes, anunciou hoje a fundação que atribui o galardão.

O advogado ambientalista Robert Bilott, dos Estados Unidos, o advogado dos direitos humanos Colin Gonsalves, da Índia, a jornalista Khadija Ismayilova, do Azerbaijão, e a ativista Yetnebersh Nigussie, da Etiópia, foram os premiados da edição de 2017 pelo "trabalho corajoso na defesa dos direitos humanos, saúde pública e boa governação, por terem enfrentado alguns dos maiores desafios mundiais", afirmou Ole von Uexkull, diretor executivo da Fundação do Prémio Right Livelihood.

"Numa época de recuos alarmantes para a democracia, os êxitos destes laureados mostram-nos o caminho para um mundo justo, pacífico e sustentável para todos", acrescentou, durante o anúncio dos prémios, em Estocolmo.

O prémio honorário deste ano foi atribuído ao advogado ambientalista norte-americano Robert Bilott por ter "exposto várias décadas de poluição química, obtido justiça para as vítimas e estabelecido um precedente para uma regulamentação eficaz de substâncias perigosas", indicou a fundação.

Ao longo de uma batalha jurídica de 19 anos, Bilott representou 70 mil pessoas cuja água potável tinha sido contaminada com ácido perfluoro-octanoico, do gigante químico DuPont.

"O escândalo governamental que Robert Bilott expôs é apenas a ponta do icebergue da poluição global causada pelos fluorocarbonetos. Graças ao seu trabalho obstinado, o mundo sabe atualmente que esta classe de produtos químicos representa uma grave ameaça para a saúde pública em todo o mundo, que urge regulamentar".

O advogado Colin Gonsalves foi escolhido pelo júri devido "à utilização incansável e inovadora dos litígios de interesse público que permitiram garantir os direitos fundamentais dos cidadãos mais marginalizados e vulneráveis da Índia nas últimas três décadas".

Além de advogado principal no Supremo Tribunal indiano, Gonsalves é o fundador da rede legal de direitos humanos (HRLN, na sigla em inglês), que defende causas de interesse público.

"Num período em que a Índia, como muitos países, se torna cada vez mais autoritária, Colin e a rede de advogados desempenham um papel crucial na defesa da democracia indiana", afirmou Ole von Uexkull.

A jornalista Khadija Ismayilova recebe o "Nobel Alternativo" "pela coragem e tenacidade mostradas na exposição da corrupção ao mais alto nível governamental, através de um jornalismo de investigação excecional em nome da transparência e da responsabilização", apesar da detenção [18 meses], ameaças e campanha difamatória, disse o diretor executivo da fundação.

A etíope Yetnebersh Nigussie foi distinguida pelo "trabalho de promoção dos direitos humanos e de inclusão de deficientes" que contribuiu "para uma mudança social positiva, fundada nos direitos das pessoas e nas suas capacidades", numa sociedade inclusiva, disse, ao anunciar os prémios com Maina Kiai, membro do júri e antiga relatora especial da ONU sobre o direito de reunião pacífica e associação.

O júri internacional escolheu os quatro premiados entre 102 nomeações oriundas de 51 países.

Gonsalvez, Ismayilova e Nigussie vão partilhar um prémio monetário de três milhões de coroas suecas (cerca de 315 mil euros), a aplicar no trabalho que estão a desenvolver.

Os prémios "Right Livelihood" (modo de vida correto), mais conhecidos como "Nobel Alternativo", foram criados em 1980 para "honrar e apoiar homens e mulheres que oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes e atuais".

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