Presidenciais no Irão. Os candidatos que querem substituir Hassan Rouhani

por Joana Raposo Santos - RTP
Foto: Wana News Agency/Reuters

É já na sexta-feira que os iranianos vão às urnas para eleger o próximo presidente do país. A escolha determinará o modo como, durante os quatro anos seguintes, Teerão vai lidar com questões como a do acordo nuclear de 2015, a das sanções norte-americanas e a do enfraquecimento da economia do país. São quatro os nomes que surgirão nos boletins de voto e um deles conta já com uma vantagem significativa em relação aos adversários.

Os politólogos preveem fraca adesão dos iranianos na eleição do oitavo presidente do país, estimando uma abstenção recorde. Inicialmente eram sete os candidatos à presidência mas, esta semana, o ex-negociador para os assuntos nucleares, Saeed Jalili, o ex-vice-presidente Mohsen Mehralizadeh e o deputado ultraconservador Aliréza Zakani retiraram as suas candidaturas, deixando quatro homens na corrida. São eles:
Ebrahim Raisi
Foto: Wana News Agency/Reuters

É o atual chefe iraniano da Autoridade Judicial e está à frente dos adversários na corrida às presidenciais por larga margem. É apoiado por muitos políticos e fações conservadores do país e tem aparecido sempre no topo das sondagens. À semelhança do líder supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei, Ebrahim Raisi usa um turbante preto para indicar que é um saíde – título dado aos homens que se acredita serem descendentes do profeta Maomé.

Tem 60 anos e, para além de ser o favorito às presidenciais, é também visto como o candidato mais provável para substituir o atual aiatola, agora com 82 anos, quando este morrer. Um dos adversários de Raisi nestas eleições usou esse facto contra o candidato, argumentando que este poderá abandonar a presidência do Irão caso seja eleito como próximo aiatola.

Ebrahim Raisi cresceu na cidade de Mashhad, um importante centro religioso para muçulmanos xiitas. Frequentou o seminário de Qom e a sua educação tem surgido como um ponto de discórdia nos debates presidenciais: Raisi garante ter um doutoramento em Direito e nega ter apenas seis anos de educação formal.

É acusado de ter desempenhado um papel central na execução em massa de prisioneiros políticos em 1988, pouco depois do fim da guerra entre Irão e Iraque. Raisi nunca mencionou esta acusação publicamente. Durante três décadas ocupou vários cargos de relevo: procurador de Teerão, diretor da Organização de Inspeção-Geral, procurador-geral do Tribunal Especial do Clero e vice-chefe de Justiça.

Foi candidato às presidenciais de 2017, perdendo contra o atual presidente, Hassan Rouhani. Arrecadou 38 por cento dos votos (quase 16 milhões), o que não foi suficiente para vencer. Desde que, em 2019, o aiatola Khamenei colocou Raisi na liderança da Autoridade Judicial, este tem procurado transmitir uma mensagem de luta pela corrupção, por vezes atacando políticos iranianos. Apresenta-se como um “inimigo da corrupção, da ineficiência e da aristocracia” e garante que irá manter o acordo nuclear como um acordo estatal.
Abdolnaser Hemmati
Foto: Wana News Agency/Reuters

É considerado um candidato improvável a estas presidenciais. Hemmati apresenta-se como moderado e “realista”. Tornou-se governador do Banco Central do Irão em 2018, pouco depois de o então presidente norte-americano, Donald Trump, ter retirado os Estados Unidos do acordo nuclear e imposto duras sanções a Teerão, que acabaram por fazer afundar a economia iraniana.

Tem 64 anos e os seus rivais nestas eleições têm-no acusado de ser um dos grandes responsáveis pelo estado da economia. Hemmati, que já foi jornalista, tem-se oposto a algumas das propostas mais arriscadas feitas pelos seus adversários, argumentando que estas são impossíveis de alcançar enquanto o país continuar a lutar contra sanções e enquanto o governo tiver de lidar com o défice orçamental.

Promete, no entanto, aumentar os rendimentos das famílias mais pobres e baixar o défice. Quer também restaurar o acordo nuclear de 2015 e diz-se aberto a reunir com o presidente Joe Biden.
Mohsen Rezaee
Foto: Wana News Agency/Reuters

Com 66 anos, há muito que tenta chegar à presidência iraniana. É, desde 1997, secretário do Conselho de Discernimento do Irão, órgão que aconselha o líder supremo do país.

Rezaei é veterano da guerra contra o Iraque. Fez parte da Guarda Revolucionária Iraniana e foi fundamental na expansão desse exército. Em 1981, o aiatola Ruhollah Khomeini nomeou-o comandante-chefe da Guarda Revolucionária, posição que manteve por 16 anos.

Há vários anos que se diz contra a implementação de legislação que satisfaça o Grupo de Ação Financeira Internacional, argumentando que tal iria prejudicar o Irão e impedir o país de contornar sanções norte-americanas. Segundo a Al Jazeera, Rezaee chegou a sugerir raptar cidadãos dos EUA e pedir resgates.

Opõe-se ao acordo nuclear de 2015 e promete impulsionar a moeda iraniana, identificar e redirecionar milhares de milhões de dólares alegadamente mal gastos pelo governo, aumentar em dez vezes os subsídios e incluir os jovens, as mulheres e os iranianos marginalizados no seu plano para o futuro.
Amir Hossein Ghazizadeh Hashemi
Foto: Wana News Agency/Reuters

Conservador de 50 anos - o mais novo entre os candidatos -, Hashemi tem reunido números muito baixos nas sondagens. É otorrinolaringologista e deputado. Representa, no Parlamento, a população da cidade de Mexede há quatro mandatos consecutivos.

Durante os debates presidenciais, Hashemi procurou demonstrar seriedade, abstendo-se de ataques pessoais e focando-se nas perguntas feitas pelo moderador, ao contrário do que fizeram os seus adversários.

Promete formar um governo jovem que consiga guiar a segunda fase da revolução no Irão.
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