Presidente da Guiné Equatorial nega torturas e opositores detidos no país

por Lusa

Madrid, 17 out (Lusa) -- O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, negou hoje a existência de torturas ou de opositores detidos no seu país, classificando essas acusações como "uma campanha difamatória" da oposição.

"Não temos necessidade de torturar ninguém", disse o chefe de Estado equato-guineense, há 39 anos no poder, em entrevista à televisão pública espanhola (TVE), por ocasião dos 50 anos de independência da Guiné Equatorial, assinalados no passado dia 12.

"A oposição diz que sofre tortura, eu creio que é uma especulação, uma campanha difamatória, porque praticamente aqui não há nada de torturas", comentou.

Questionado sobre a que se refere quando fala de "praticamente", respondeu: "Têm de dizer o que entendem com tortura. Eu não posso dizê-lo, porque não há nenhum opositor na prisão".

À pergunta se se vê por muito mais tempo na presidência do país, respondeu não ter "outra alternativa".

"Se o povo o pede, não tenho outra alternativa, estamos ao serviço do povo", considerou.

Obiang desvalorizou que a comunidade internacional o veja como um "autocrata", afirmando que não vive "do mundo internacional", mas do "mundo nacional", e respondeu com uma pergunta: "É preciso analisar essa palavra. O que é ditador?".

Em julho, o Presidente Obiang decretou uma "amnistia total" a todos os prisioneiros políticos e de todos os opositores condenados ou interditos de atividade política.

Também agraciou na semana passada, mas sem os libertar até ao momento, 81 prisioneiros, incluindo cerca de 30 opositores condenados em fevereiro passado a mais de 30 anos de prisão por "sedição".

Entre estes prisioneiros encontram-se Jesus Mitogo, o único deputado da oposição com assento no parlamento, membro do Cidadãos para a Inovação (CI), partido opositor dissolvido em fevereiro e que denunciou torturas a militantes detidos.

Segundo o CI, dois opositores, Evaristo Oyaga Sima e Juan Obama Edu, morreram quando estavam detidos, respetivamente em final de maio e início de julho, no seguimento de torturas, uma informação desmentida pelo Governo equato-guineense.

País com cerca de um milhão de habitantes, a Guiné Equatorial tem o rendimento per capita mais elevado de África, mas mais de metade da população vive com menos de dois dólares por dia e não tem acesso a água potável.

Teodoro Obiang foi reeleito em 2016 com mais de 90% dos votos para um quinto mandato de sete anos.

O Governo da Guiné Equatorial é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.

Teodoro Obiang e a sua família -- nomeadamente o seu filho Teodorin Obiang -- enfrentaram ou ainda enfrentam investigações por crimes de corrupção, desvio de dinheiro público e branqueamento de capitais em França e em outros países.

Este país africano faz parte, desde 2014, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tendo-se comprometido a disseminar o uso do português e a abolir a pena de morte -- algo que ainda não aconteceu, estando em vigor uma moratória.

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