Presidente de São Tomé e Príncipe pede inquérito sobre "tentativa de golpe de Estado"

por Lusa

O Presidente da República de São Tomé e Príncipe pediu hoje um inquérito para esclarecer o ataque de sexta-feira, considerando que se tratou de "uma tentativa de golpe de Estado" por quem não aceita resultados das eleições.

"A dimensão do ato não é completamente conhecida. Faço um apelo a todas as instituições para que se proceda à investigação, que se procede aos inquéritos necessários para que a justiça seja feita, para que se encontre todas as razões e mutuações do ato. Precisamos de conhecer, porque dúvidas não há - aquilo que hoje sei e tenho informação [é que] foi claramente uma tentativa de golpe de Estado contra as instituições e seus dirigentes", disse Carlos Vila Nova.

As declarações do chefe de Estado foram feitas após a reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional de São Tomé e Príncipe, que foi convocado com caráter de urgência para analisar os acontecimentos registados em 25 de novembro, quando quatro homens, civis, atacaram o quartel das Forças Armadas do país.

Na declaração, inicialmente divulgada na página do Governo e só mais tarde na da Presidência, Carlos Vila Nova sublinha que o golpe de Estado não foi consumado "por razões que ainda não se conhecem", sendo por isso necessário "ir à profundidade das questões" e "conhecer todos os detalhes".

O Presidente da República são-tomense afirmou que este caso já foi entregue à justiça, estando a Polícia Judiciária e o Ministério Público a investigar, no quadro da separação de poderes.

"Só espero que nunca mais volte a acontecer no país, como também espero que se clarifique as motivações, os atos e as razões de tais práticas por pessoas que não se conformam em não ser eleitas, serem escolhidas e a respeitarem o que é a manifestação popular através do voto", precisou.

O chefe de Estado posicionou-se "contra qualquer tentativa de usurpação do poder constitucionalmente instituído pela via da força, usando armas, precedendo a ataques de uma instituição militar que pauta pela defesa de instituições democraticamente eleitas" e por "órgãos democraticamente eleitos".

"Face aos incidentes ocorridos a partir da madrugada de 25, em que houve claramente uma tentativa de subversão da ordem constitucional com invasão do quartel do Morro por indivíduos estranhos à unidade, o país viveu momentos tensos e de alguma apreensão", frisou, lamentando a perda de vidas humanas.

O chefe de Estado de São Tomé manifestou "sentimento de pesar às famílias enlutadas" e felicitou "a firmeza e pronta resposta das Forças Armadas perante este ato orquestrado" e "bem preparado".

"Ninguém tenta invadir um quartel às forças para que de lá se encontre rebuçados ou outro tipo de material, foi para que se apropriasse de material bélico com a cumplicidade de muitos elementos do interior das forças, o que tornou a operação mais difícil e mais complicada", disse.

Carlos Vila Nova felicitou ainda as autoridades "por terem sabido reagir" e defendido a nação e as instituições democraticamente eleitas.

Na madrugada de sexta-feira, quatro homens atacaram o quartel das Forças Armadas, na capital são-tomense, num assalto que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, e em que fizeram refém o oficial de dia, ferido com gravidade devido a agressões.

O ataque foi neutralizado pelas 06:00 locais (mesma hora em Lisboa) de sexta-feira, com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento na ação. Foram também detidos pelos militares o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves (que concluiu o mandato no início deste mês) e Arlécio Costa, antigo oficial do `batalhão Búfalo` que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.

Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arlécio Costa.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas são-tomense, Olindo Paquete, disse que os três atacantes do quartel morreram após uma explosão e que Arlécio Costa morreu porque "saltou da viatura", mas garantiu uma investigação a alegadas agressões aos detidos.

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