Presidente do parlamento sul-africano demite-se na sequência de acusações de corrupção

por Lusa

A presidente do parlamento sul-africano, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, que enfrenta acusações de corrupção pública, anunciou hoje a sua demissão do cargo e de membro da Assembleia Nacional da África do Sul.

"A minha demissão não é de forma alguma uma indicação ou admissão de culpa em relação às acusações feitas contra mim", salientou Mapisa-Nqakula.

Em comunicado, a líder parlamentar e política do partido Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994, adiantou que se demitiu para defender a "integridade" e a "santidade" da parlamento sul-africano.

"Tomei esta decisão consciente para dedicar o meu tempo e foco para lidar com a investigação recentemente anunciada contra mim pelas agências de aplicação da lei do nosso país", refere-se na nota a que a Lusa teve acesso.

A carta de demissão foi submetida hoje ao presidente interino da Assembleia Nacional, Lechesa Tsenoli, segundo Mapisa-Nqakula.

"O cargo de presidente da Assembleia Nacional da República da África do Sul é crítico na reconstrução e desenvolvimento do nosso país. Dada a gravidade das acusações muito divulgadas contra mim, não posso continuar nesta função. Como principal legisladora de um país, tenho a responsabilidade central de proteger e preservar a integridade do parlamento, assegurando que as minhas ações garantem que o seu trabalho sagrado deve continuar sem mácula", afirmou no comunicado hoje divulgado à imprensa.

"Também escrevi à minha organização, o Congresso Nacional Africano, informando a liderança da minha decisão e agradecendo ao ANC por me ter dado a oportunidade e confiado em mim muitas responsabilidades de liderança sénior ao serviço do nosso povo e da nossa Revolução ao longo dos anos", frisou Mapisa-Nqakula.

Na semana passada, Lechesa Tsenoli aceitou o pedido da Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês), líder da oposição, para que uma moção de censura fosse debatida contra Mapisa-Nqakula.

O secretário-geral do Congresso Nacional Africano (ANC), Fikile Mbalula, confirmou a recepção da carta de demissão da líder do parlamento ao canal público SABC.

A demissão da líder do parlamento sul-africano foi noticiada por vários órgãos da comunicação social sul-africana.

Na terça-feira, o Tribunal Superior de Gauteng, na capital sul-africana, Pretória, rejeitou um recurso urgente da líder do parlamento, para impedir a sua detenção num caso de alegada corrupção pública.

A Autoridade Nacional de Acusação (NPA, na sigla em inglês), no âmbito do Ministério Público, não se pronunciou ainda sobre a detenção da líder do parlamento sul-africano no âmbito da investigação sobre a alegada corrupção pública.

A presidente da Assembleia Nacional foi implicada em alegações de suborno, que remontam ao seu tempo como ministra da Defesa -- uma questão levantada pela primeira vez no parlamento em 2021, pelo líder do Movimento Democrático Unido (UDM), Bantu Holomisa, na oposição.

Mapisa-Nqakula enfrenta alegações de corrupção de mais de 2,3 milhões de rands (112 mil euros) em supostos subornos em contratos da Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) quando desempenhou o cargo de ministra da Defesa entre 2012 e 2021, segundo a imprensa local.

O ANC governante enfrenta nos últimos anos acusações de corrupção, desemprego e a quase falência das empresas públicas.

De acordo com as sondagens, o ANC, no poder desde as primeiras eleições democráticas do país em 1994, poderá perder pela primeira vez a maioria absoluta no parlamento e forçado a formar um Governo de coligação.

As eleições gerais na África do Sul, marcadas para 29 de maio, assinalam as primeiras três décadas de democracia sob a governação do ANC de Nelson Mandela após a queda do anterior regime de `apartheid` em 1994.

O partido Congresso Nacional Africano (ANC), antigo movimento de Libertação nacionalista liderado por Mandela, governa em coligação com o Partido Comunista da África do Sul (SACP) e a Confederação Sindical da África do Sul (COSATU).

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