Primárias democratas. Ilhan Omar vence no Minnesota e gera divisão na comunidade judaica

por RTP
Elizabeth Frantz - Reuters

A deputada Ilhan Omar venceu esta quarta-feira as primárias democratas para o Congresso norte-americano, onde poderá em novembro vir a cumprir o segundo mandato enquanto representante do quinto distrito do Estado do Minnesota. A vitória surge entre críticas por parte de judeus que condenaram a "posição antissemita" da candidata com base em comentários feitos no passado, apesar de outros grupos louvarem a sua coragem por falar sobre os problemas de Israel.

Ilhan Omar, o primeiro membro somali-americano do Congresso dos Estados Unidos, derrotou os seus dois rivais, um dos quais Antone Melton-Meaux, um advogado que angariou milhões de dólares numa campanha contra a agora vencedora.

A deputada conseguiu 57 por cento dos votos, um aumento comparativamente às primárias de 2018, nas quais alcançou 48 por cento.

“No Minnesota sabemos que organizações de pessoas irão sempre vencer organizações à base de dinheiro”, escreveu a candidata após serem conhecidos os resultados. “Apesar dos ataques, o nosso apoio apenas cresceu”.

“Tem sido a honra da minha vida representar-vos no Congresso e estou ansiosa por continuar a servir as pessoas do quinto distrito nos próximos anos”, acrescentou Omar. O quinto distrito congressional do Minnesota inclui a cidade de Minneapolis, a mais populosa desse Estado. Tudo indica que Omar, cujo distrito é maioritariamente democrata, vença as eleições de novembro.

Desde 2016, quando passou a fazer parte do corpo governamental que gere o Estado do Minnesota, a em tempos refugiada vinda da Somália tem lutado por questões de Direitos Humanos, opondo-se a Donald Trump em vários temas.

A sua vitória nestas primárias surge depois de episódios semelhantes noutros Estados norte-americanos. Em Saint Louis, Estado do Missouri, a enfermeira e ativista do movimento Black Lives Matter Cori Bush derrotou um deputado que estava no Congresso desde 2000.
Judeus criticam “posições antissemitas” de Omar
O triunfo de Omar foi conseguido apesar dos esforços em contrário pelo rival Melton-Meaux, que na sua campanha procurou pintar a candidata como alguém distante da população do distrito que representa.

Meaux aproveitou ainda a campanha para relembrar comentários feitos em 2012 pela candidata sobre Israel, que alguns democratas consideraram antissemitas. Nesse ano, a agora deputada usou o Twitter para escrever que Israel “hipnotizou o mundo”.

Noutra ocasião, Omar acusou o Comité Americano de Assuntos Públicos de Israel (AIPAC) de subornar Washington e defendeu que esse país do Médio Oriente possui demasiada influência na Administração Trump.

Devido a estes comentários, na manhã desta quarta-feira, quando soube da vitória de Omar, o Conselho Judaico Republicano lançou um comunicado para “lamentar a derrota de Antone Melton-Meaux nas primárias democratas do quinto distrito”.

“Embora Melton-Meaux seja um democrata progressista e discordemos veementemente dele numa série de questões, teria sido uma mudança positiva, ao contrário de Ilhan Omar e das suas posições anti-Israel e antissemitas”, apontou a entidade.

“O desvio à esquerda do Partido Democrático em anos recentes tem sido extremamente preocupante, e a eleição de Omar em 2018 é um exemplo da seriedade dessa tendência”, continuou.

A organização acusou ainda o Conselho Judaico Democrata de falhar para com os seus membros “e para com toda a nossa comunidade ao abdicar do seu papel e permanecer em silêncio nestas primárias, quando se encontra numa posição na qual pode falar com autoridade sobre o antissemitismo dentro do Partido Democrático”.
Omar “apelou a uma solução justa”, segundo grupo de judeus americanos
Apesar da contestação vinda da comunidade judaica, dias antes das eleições primárias um grupo de relevo nas redes sociais composto por judeus americanos veio demonstrar o seu apoio público a Ilhan Omar, considerando que a vitória da candidata seria positiva.

“Os judeus estão num momento de reconsiderar – questionando os nossos mitos sobre Israel e enfrentando a sua realidade de racismo e intolerância, a brutalidade da ocupação e a profunda corrupção dos seus líderes”, escreveu o apoiante Jeremy Iggers, citado pelo Jerusalem Post.

“Ao enfrentar o lobby pró-israelita, Ilhan Omar e Bernie [Sanders], assim como outras almas corajosas, tornaram possível uma conversa mais honesta sobre Israel. Isso é algo muito bom para os judeus, mas também muito difícil”.

Ilhan Omar condenou a ocupação, mas também apelou a uma solução justa que possibilite a israelitas e palestinianos viverem em paz e segurança. O seu oponente nem sequer mencionou a ocupação ou a construção de colonatos como obstáculos à paz”, acrescentou.
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