Primeiro-ministro da Arménia demite-se após 11 dias de protestos

por RTP
David Mdzinarishvili - Reuters

O primeiro-ministro da Arménia demitiu-se depois de 11 dias consecutivos de protestos. O povo arménio uniu-se contra a eleição de Serzh Sarksyan como chefe do Governo, depois de este ter estado uma década na Presidência da República. Antes de assumir a chefia do Governo, Sarksyan viabilizou uma reforma que reforçou os poderes do primeiro-ministro e reduziu drasticamente os do Presidente da República. A oposição acusa-o de estar agarrado ao poder.

Ao fim de 11 dias de luta, os protestos deram resultado. O primeiro-ministro da Arménia anunciou a sua demissão, cedendo aos milhares de manifestantes que o contestaram publicamente durante perto de duas semanas.

Serzh Sarksyan revelou através de um comunicado que deixava a chefia do país, congratulando o líder da contestação. “Nikol Pachinian tinha razão. Eu enganei-me”, reconheceu o chefe do Governo demissionário, garantindo ainda que pretendia que a Arménia se mantivesse um país pacífico.

Sarksyan era um grande aliado de Vladimir Putin, tendo sido durante dez anos Presidente da República da Arménia, país parceiro de Moscovo no qual a Rússia tem bases militares. Antes de abandonar a Presidência, Sarksyan fez aprovar uma reforma constitucional que esvaziou os poderes do Presidente e reforçou os do primeiro-ministro. Foi posteriormente eleito primeiro-ministro pelo Parlamento.

Esta sequência de eventos motivou a ira do povo arménio. Serzh Sarksyan foi acusado de estar agarrado ao poder e de pretender manter-se como líder de facto do país. Acusam-no ainda de nada ter feito para reduzir a pobreza e a corrupção.

“É um dirigente com uma mentalidade soviética. O mundo de hoje exige que manifestemos por uma resposta completamente diferente aos problemas”, afirmou um dos manifestantes à France Presse.
"Povo vitorioso"
O anúncio da saída de Serzh Sarksyan foi recebido em festa nas ruas de Erevan, a capital do país. Desde dia 13 de abril que as manifestações se sucediam para exigir a renúncia do primeiro-ministro.

“Orgulhoso cidadão da Arménia, ganhaste! Ninguém pode privar-te desta vitória. Congratulo-te, povo vitorioso”, exaltou Nikol Pachinian, líder da contestação e que tinha sido detido pelas autoridades arménias. Foi libertado esta segunda-feira, antes de anunciada a demissão de Sarksyan.

A vitória dos manifestantes acontece depois de um grupo de militares ainda no ativo se ter juntado aos protestos, apesar das ameaças que chegaram do Ministério da Defesa. A liderança do Governo será agora assumida de forma provisória por Karen Karapetyan, membro do partido pró-russo de Sarksyan.

O Parlamento tem sete dias para nomear um novo primeiro-ministro. O Partido Republicano de Sarksyan mantém-se maioritário no Parlamento, não sendo ainda certo que mudanças concretas trará a saída de Sarksyan.

A Rússia afirma que “acompanha com atenção a situação na Arménia”, sublinhando tratar-se de um “país extremamente importante” para Moscovo. Apesar da preocupação, o porta-voz do Kremlin insiste que esta contestação é um “assunto interno da Arménia”.
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