Professores ponderam radicalizar protestos para exigir salários dignos na Venezuela

por Lusa

Há 23 dias que os professores saem diariamente às ruas de várias cidades da Venezuela para exigir salários dignos e um contrato coletivo em negociação há mais de um ano.

Queixam-se da falta de resposta do Executivo, dizem ter menos rendimentos que um arrumador de carros e ponderam radicalizar os protestos.

"A radicalização do conflito deve-se ao facto de não ter havido resposta por parte do governo durante quase um mês de manifestações de rua", afirmou o presidente da Associação de Professores da Universidade Central da Venezuela (UCV).

Gregório Alfonso falava à Lusa, em Chacaíto (leste de Caracas), durante uma concentração de professores, profissionais de outros setores e reformados para exigir melhores salários.

Alfonso explicou que os trabalhadores querem um aumento salarial geral e um salário indexado ao dólar e à inflação.

"Perante a ausência de uma resposta, vamos passar a um processo inevitável de radicalização, a outras ações de luta, todas as que os trabalhadores estejam de acordo", frisou.

Os professores dizem que o Executivo afirma não ter recursos financeiros para os aumentos e dizem que foi o próprio Governo a anunciar um aumento da produção de petróleo de 650 mil para 850 mil de barris diários, o que representa quase mais dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros).

"Se não houver resposta, qualquer opção é possível, desde uma paralisação nacional de 24 ou 48 horas a uma greve indefinida", explicou.

Alfonso chamou a atenção que os protestos atuais são distintos dos do passado porque "é uma luta dirigida por trabalhadores, em particular os da administração pública, porque o Governo é quem pior remunera", acrescentando não estarem disposição de reeditar experiências do passado.

Este professor diz que o movimento sindical venezuelano é "assediado" há 22 anos, e que "O Governo deveria estar a chamar os professores ao diálogo, em vez de enviar a DGCIM [serviços de informações militares] e o SEBIN [serviços de informações] falar e perseguir os dirigentes sindicais".

Eexplicou ainda que para sobreviver os professores têm até quatro empregos, trabalham entre 12 e 14 horas diárias, em alguns casos como taxistas.

O presidente Sindicato Venezuelano de Professores de Caracas (FVM), Edgar Machado, adiantou que, enquanto decorrem os protestos, está no país uma delegação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), "sentada com o governo e as centrais sindicais".

"Não queremos um salário de 50 dólares por mês [45 euros], queremos o que está estabelecido na Constituição, que diz que a renumeração tem que cobrir as necessidades básicas de alimentação", salientou.

Machado explicou que o cabaz básico alimentar atual na Venezuela é de "490 dólares [445 euros], mas um professor ganha apenas seis dólares mensais [5,4 euros]", e como "as escolas estão degradas" vão "continuar nas ruas".

O contrato de trabalho está a ser debatido há mais de um ano, mas não há nada sobre a parte económica, porque "dizem que não há recursos", apesar de "desperdiçarem o dinheiro na contratação de orquestras e palcos", disse.

"Ou nos alimentamos com arroz e manteiga, ou compramos medicamentos. Por isso, apelamos ao Governo venezuelano, que se não prestar atenção aos seus trabalhadores, as escolas vão ficar sozinhas", disse.

Os professores acusam ainda o Governo venezuelano de tentar substituí-los por outros sem formação adequada e dizem que Caracas devia ter 15 mil docentes, apesar de 40% deles terem abandonado as escolas e muitos estão a vender café, porque até "o jovem que arruma os carros nas ruas, ganha mais que um professor preparado e que estudou".

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