Programa de Apoio às Escolas Profissionais de Moçambique termina com alunos a pedirem nova edição

por Lusa

Alunos moçambicanos do ensino profissional lamentaram hoje das alterações legislativas em Moçambique que os impedem de serem professores no seu país, uma situação que motivou o fim de um programa de cooperação de Portugal.

O Programa de Apoio às Escolas Profissionais de Moçambique, que agora termina, deixa agora cerca de 100 jovens formados em Portugal, uma associação de antigos alunos e geminação de escolas portuguesas e moçambicanas.

Em declarações à Lusa, a presidente executiva da Fundação Portugal África (FPA), Celeste Hagatong, responsável da fundação, uma das duas entidades que promoveram e apoiaram o programa - a outra foi o Camões -, explicou que acabou o objetivo da iniciativa, que era formar os melhores alunos das escolas moçambicanas, com o nono ano de escolaridade completo, em escolas profissionais portuguesas, para poderem, com equivalência ao 12º ano, serem professores no seu país.

Agora, Moçambique já exige a licenciatura e os alunos do projeto não podem ensinar nas escolas profissionais públicas do seu país, adianta a gestora da FPA, embora salientando que os estuantes "têm muitas competências adquiridas para poderem fazer outras coisas".

Porém, a maioria dos estudantes das duas últimas edições do programa - que terminaram os cursos em 2017 e este ano - "já ficou em Portugal e os que regressaram a Moçambique estão a pensar voltar, porque a vida lá não está a correr como esperavam", disse à Lusa Lourenço Pinto Nuvunga, aluno da penúltima edição do programa com o curso de gestão de equipamentos informáticos, tirado com média de 19, numa escola portuguesa, que decidiu ficar em Aveiro, a trabalhar na empresa de componentes automóveis onde estagiou.

Os bolseiros contactados pela Lusa lamentam a perda da "oportunidade única" e do "estímulo" que a iniciativa representava para os estudantes moçambicanos e ao mesmo tempo têm esperança de que as entidades envolvidas possam vir mais tarde a retomar o programa de intercâmbio.

A presidente da FPA, não garante que tal aconteça. "O Programa como foi pensado já não faz sentido. "Este é o fim de um ciclo e não posso dizer se vai ou não continuar noutros moldes. Os próximos órgãos sociais da Fundação, que serão eleitos em março, é que decidirão".

Por aqui, Lourenço quer concorrer aos exames nacionais no próximo ano para entrar na universidade, tirar a licenciatura em engenharia informática e continuar a ganhar currículo, conhecimento e experiência nas empresas portuguesas, ao mesmo tempo que vai investe na sua vida pessoal.

"Só depois poderei regressar. Os meus colegas que regressaram, uma minoria nos últimos dois anos, contrariamente ao que aconteceu nos restantes anos letivos em que quase todos regressavam para serem professores", explicou.

Esses alunos, em Moçambique, "estão a ganhar à volta de 20 000 meticais, cerca de 200 euros líquidos. Aqui, mesmo que se ganhe salário mínimo é muito mais do que isso e sabemos que o currículo feito numa empresa portuguesa é bem diferente do feito lá", explica.

Lourenço é um dos 16 alunos que vai estar presente hoje na cerimónia de graduação dos bolseiros que se encontram em Portugal e que marcará a última edição da iniciativa, um momento de balanço e retrospetiva de um programa de apoio que envolveu o 52 escolas em Moçambique e escolas portuguesas, considera a Fundação.

A cerimónia realiza-se na Universidade Católica Portuguesa, no Porto, um evento no qual será também apresentado o projeto da associação de antigos alunos e assinados os acordos de geminação de duas escolas profissionais portuguesas e moçambicanas.

Lourenço diz ter "muita pena" que este intercâmbio de estudantes acabe e espera que não seja definitivo. Para ele "o curso foi uma oportunidade única", e de tal forma importante que não consegue encontrar "adjetivos para a classificar, pela sua grandeza", do ponto de vista pessoal e profissional.

"Os cursos que fizemos aqui foram, não só uma oportunidade de vida para quem os tirou mas também de reconhecimento e prestígio para as escolas moçambicanas para onde os alunos aqui formados foram lecionar. Porque essas escolas hoje são uma referência a nível nacional", disse.

Uma oportunidade que gostaria que os dirigentes do seu país tudo fizessem para não se perder.

Os cursos realizados no âmbito deste programa, que agora termina, representaram um investimento total de 1,6 milhões de euros, sempre em parceria com escolas profissionais portuguesas, que segundo Celeste Hagatong "fizeram um excelente trabalho de integração e acompanhamento dos alunos.

Camadias Reginaldo Chinabe, outros dos alunos que terminou o curso de gestão de equipamentos informáticos na Mealhada, lembra-se do estímulo que foi para ele, com 15 anos, pensar que poderia vir tirar um curso para Portugal e regressar ao seu país como professor, se ficasse entre os melhores em Moçambique.

"Tudo fiz para o conseguir, até porque, como na minha família havia professores eu também queria muito ser", disse.

O curso em Portugal conseguiu, terminou-o em 2017, mas o sonho de ser professor ficou suspenso. Está a trabalhar numa empresa de equipamentos elétricos em Aveiro.

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