Propaganda russa e desinformação. X terá de cumprir leis europeias, avisa Bruxelas

por Joana Raposo Santos - RTP
A seguir à X de Elon Musk, o maior transgressor é o Facebook. Dado Ruvic - Reuters

Elon Musk, dono da X (antigo Twitter), vai ter de cumprir com as novas leis europeias sobre notícias falsas e propaganda russa, caso contrário poderá ver a sua rede social banida da União Europeia. O aviso foi lançado por Bruxelas após o lançamento de um relatório segundo o qual a X tem a maior taxa de desinformação entre todas as grandes plataformas deste tipo.

O relatório, divulgado esta terça-feira pela Comissão Europeia, analisou o rácio de desinformação das redes sociais que atuam no espaço europeu. A seguir à X, o maior transgressor é o Facebook.

Todas as publicações em redes sociais que não cumpram com a nova Lei dos Serviços Digitais da União Europeia – cujo objetivo é combater desinformação e fraude, trazendo mais segurança aos utilizadores – serão consideradas ilegais. A lei entrou em vigor em agosto deste ano.

Plataformas como o Facebook, Google, TikTok e Microsoft já concordaram com o cumprimento de um código de conduta lançado anteriormente a esta lei, em 2022. No entanto, o então Twitter abandonou-o.

“O senhor Musk sabe que não está isento por ter abandonado o código de conduta. Há obrigações perante a lei. Portanto, a minha mensagem para o Twitter/X é que tem de cumprir. Vamos estar a observar o que fazem”, assegurou esta terça-feira a vice-presidente da Comissão Europeia, Věra Jourová.
"Arma multimilionária de manipulação de massas"
O relatório de 200 páginas, que avaliou os esforços feitos pelas plataformas no primeiro semestre deste ano para se prepararem para cumprir com a Lei dos Serviços Digitais, refere ainda as iniciativas para combater a propaganda russa, discurso de ódio e outros tipos de desinformação.

O Estado russo envolveu-se numa guerra de ideias para poluir o nosso espaço de informação com meias verdades e com mentiras, de modo a criar uma falsa imagem de que a democracia não é melhor do que a autocracia”, explicou Jourová em conferência de imprensa.

Segundo a comissária, o Kremlin escolheu a Eslováquia, assim como a Polónia, como “solo fértil” para a divisão e interferência com a democracia. A propaganda do Estado russo “é uma arma multimilionária de manipulação de massas apontada tanto internamente, aos russos, como aos europeus e ao resto do mundo”, avisou.

“Temos de dar resposta a isto. As grandes plataformas devem dar resposta a este risco”, sublinhou a responsável, pedindo especial atenção às eleições de 2024 no Parlamento Europeu e às deste ano em países como a Eslováquia e Polónia.
Milhões de contas eliminadas
Segundo o documento da Comissão Europeia, a Microsoft (dona do LinkedIn) travou a criação de 6,7 milhões de contas falsas e removeu 24 mil publicações de desinformação.

Já o TikTok – que recentemente foi multado por quebrar regras de proteção de dados relativas a menores de idade – terá eliminado quase seis milhões de contas falsas na primeira metade do ano.

O YouTube, detido pela Google, disse à União Europeia ter removido mais de 400 mil canais envolvidos em operações coordenadas de influência ligadas a Moscovo, patrocinadas pela Agência de Investigação da Internet da Rússia.A Google removeu os anúncios de quase 300 sites ligados a “propaganda financiada pelo Estado” e rejeitou mais de 140 mil anunciantes políticos por terem falhado nos processos de verificação de identidade.

A Meta, que detém o Facebook, Instagram e WhatsApp, disse ter expandido os seus trabalhos de verificação de factos a 26 parceiros que cobrem 22 idiomas dentro da União Europeia. Segundo a empresa, 37 por cento dos utilizadores das suas plataformas desistiram de partilhar publicações após serem avisados de que estas podiam ser notícias falsas.

Por fim, a Microsoft revelou que priorizou informações fidedignas e despromoveu informações questionáveis em relação a 800 mil pesquisas dos utilizadores acerca da guerra na Ucrânia.

A guerra na Ucrânia foi o tópico mais frequente para propaganda nas plataformas analisadas pela Comissão Europeia, mas foram também registados discursos de ódio em relação a temas como migração, direitos LGBT+ e crise climática.

“Acredito que esta é uma das vantagens da desinformação: é que é muito previsível”, tornando-se relativamente fácil de encontrar, considerou Věra Jourová.

c/ agências
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