Protestos contra refugiados iemenitas aumentam na Coreia do Sul

por RTP
"Não quero que o Governo aceite refugiados de países muçulmanos. A cultura e a religião são muito diferentes da nossa. Isto trará danos para os nossos filhos", disse um manifestante Khaled Abdullah - Reuters

A chegada de mais de 550 solicitantes de asilo do Iémen a Jeju, uma ilha da Coreia do Sul, tem gerado uma serie de protestos desde abril. Jeju tem uma população de cerca de 600 mil pessoas e uma recente investigação a 500 moradores da ilha revelou que 90% dos entrevistados sentiam-se inseguros desde a chegada dos iemenitas. O aumento das notícias falsas e da divulgação anti-Islão online tem impulsionado ainda mais revolta.

"Os iemenitas são assustadores. Vão violar as nossas mulheres, assumir os nossos empregos e dominar o país. Tenho medo de ir para as áreas em que estão a morar", disse à rede televisiva árabe Al Jazeera uma moradora da ilha.

No sábado, cerca de 100 ativistas anti-refugiados realizaram um protesto frente à Estação de Seul para exigir que o Governo deportasse todos os "falsos refugiados" de Jeju e não aceitasse nenhum outro candidato a asilo.

De acordo com os moradores locais, os iemenitas são chamados de "falsos refugiados", porque os coreanos acreditam que todos os refugiados são pessoas pobres sem dinheiro ou roupas.

"É difícil perceber que as pessoas que estão desesperadas por sobrevivência têm iPhones e iPads. Parecem turistas", disse um manifestante de 38 anos, em Seul, que se recusou a dar o nome.
"Não quero que o Governo aceite refugiados de países muçulmanos. A cultura e a religião são muito diferentes da nossa. Isto trará danos para os nossos filhos", disse um manifestante.

Quando questionados sobre a razão da postura e sentimento anti-islamismo, os organizadores do protesto disseram que qualquer pessoa que não concordasse com aqueles pontos de vista não deveria estar presente na manifestação.

Mas apesar das ameaças, a maioria dos que ajudam os iemenitas em Jeju são coreanos. Em Seul, muitos expressaram a esperança de que o Governo assuma uma postura mais firme sobre o assunto.

"Sinto muito por tudo isto. Esta não é a Coreia que conheço. Espero que nos possamos educar e ajudar uns aos outros", disse um estudante universitário de 19 anos, enquanto se afastava do protesto.
"Falta de experiência com refugiados"

Há preocupações que a disseminação de informações falsas passe despercebida e a aparente falta de envolvimento do Governo na questão não tenha conseguido acalmar a situação. 

Além disso, alguns dos órgãos civis e organizações de ajuda humanitária, que trabalham para a causa dos iemenitas, foram ameaçados. 

De acordo com a Il Lee, um advogado dos Direitos Humanos, o sentimento anti-refugiados não é novo na Coreia. "Quando se trata dos refugiados iemenitas, há um forte sentimento anti-Islão. A situação está a piorar porque muitos coreanos não têm experiência com refugiados”, referiu à Al Jazeera.
"Há um forte fenómeno na Coreia em que as pessoas culpam os estrangeiros por tudo o que dá errado", disse Lee.
"Se houver baixa taxa de emprego, dizem que os migrantes assumiram os nossos empregos.

Quando se trata da segurança das mulheres, dizem que as coisas vão piorar se aceitarmos mais refugiados”, acrescentou o advogado.

Quase 2,2 milhões de migrantes vivem na Coreia do Sul. A taxa de aceitação de refugiados da Coreia do Sul é de cerca de quatro por cento. De 1994 a junho de 2018, recebeu cerca de 42 mil pedidos de refugiados. 

Das 20.974 inscrições concluídas, apenas 849 receberam o status de refugiado (1.550 receberam status humanitário, uma permissão temporária que permite que os indivíduos trabalhem após seis meses, mas tem de ser renovada).

Mais de 700 mil sul-coreanos assinaram uma petição online para pedir ao Governo sul-coreano que pare a política de isenção de vistos para o Iémen e envie os "falsos refugiados" de volta para o país de origem. 

Em resposta, o Governo da Coreia do Sul anunciou planos para apertar a Lei de Refugiados do país. Em junho, o lémen foi retirado da lista de países que tiveram permissão para entrar sem visto na ilha de Jeju.
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