Protestos em todo o mundo contra a morte da iraniana Mahsa Amini

por Inês Moreira Santos - RTP
António Pedro Santos - Lusa

Segundo a Iran Human Rights, já morreram pelo menos 83 pessoas nos protestos no Irão contra a morte da jovem Mahsa Amini, que começaram há duas semanas. Mas os movimentos e manifestações em solidariedade pelas mulheres iranianas espalharam-se pelo mundo. No sábado, foram várias as cidades, em diversos países, que foram palco de protestos de apoio à revolta dos cidadãos iranianos, nos últimos dias.

Sob o slogan "Mulheres, vida, liberdade", centenas de pessoas manifestaram-se, no sábado, em mais de 150 cidades dos vários cantos do planeta, como Lisboa, Roma, Zurique, Paris, Londres, Seus, Aucland, Melbourne, Sydney, Estocolmo e Nova Iorque.

Mais de duzentas pessoas manifestaram-se em Lisboa contra a repressão política no Irão, no contexto dos protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini pelo alegado uso “indevido” do véu islâmico, clamando por uma revolução no país.

Entre os manifestantes presentes no Rossio estiveram muitos cidadãos iranianos que vivem em Portugal, nomeadamente mulheres, que falaram pelo povo que enfrenta cada vez mais limitações, depois de Teerão ter imposto restrições no acesso à internet como meio para conter a revolta social. Mas não foram apenas as mulheres iranianas a erguerem a voz. Vários homens iranianos fizeram-se ouvir no protesto para reivindicar direitos iguais para as mulheres, mas também para defender o direito à mudança no seu país.

Em Roma, os manifestantes levavam fotografias de Amini, a jovem curda iraniana que morreu depois de ser detida pela polícia da moralidade. "Seja a nossa voz", foi o grito de mais ouvido num protesto na cidade de Brisbane, no leste da Austrália, no qual os organizadores disseram que milhares de pessoas, nomeadamente da diáspora iraniana, exigiam liberdades no seu país natal.

E em Berlim, mais de mil manifestantes ergueram cartazes denunciando o regime iraniano, enquanto em Bruxelas, mais de duas mil pessoas gritaram palavras de ordem contra a violência do regime de Teerão.

Em Tóquio, várias manifestantes queimaram os lenços e cortaram os cabelos como que a desafiar o Governo iraniano.

No continente americano, milhares de pessoas saíram às ruas, em Nova Iorque, em apoio ao povo do Irão e gritaram durante horas o nome de Masha Amini.

Numa marcha de cerca de um quilómetro até ao Washington Square Park, o ambiente era de indignação e os pedidos eram por justiça e liberdade para a população iraniana, especialmente para as mulheres, que estão sujeitas a duras regras, como a cobrir totalmente o cabelo em público.

Juntamente com bandeiras do Irão, a multidão de manifestantes levantou cartazes com mensagens como "Não ao Hijab [véu islâmico] obrigatório","Recordar Masha Amini”, “O poder das pessoas é maior do que as pessoas no poder”, “O meu corpo, as minhas escolhas” ou “Isto é uma revolução”.
Manifestantes denunciam repressão violenta
Em todo o mundo, os manifestantes expressaram solidariedade com os movimentos e ativista alvo de violenta repressão por parte das autoridades iranianas, que mataram pelo menos 83 pessoas, desde que Amini foi morta.

"Estudantes manifestaram-se nas universidades para denunciar as ações da polícia contra os ativistas", informou a agência de notícias iraniana Fars, que relatou ainda comícios "organizados na Praça da Revolução, perto da Universidade de Teerão, no centro da capital, onde eclodiram confrontos entre a polícia e manifestantes, alguns dos quais foram presos".

Ao longo do dia de sábado, circularam nas redes sociais vídeos que mostravam manifestações e comícios em diversas universidades, onde jovens cantavam e entoavam ‘slogans’ a favor dos movimentos de protesto e contra a passividade das instituições do seu país.

"A cidade está afogada em sangue, mas os nossos professores permanecem em silêncio!", gritavam manifestantes do lado de fora da Universidade Karaj, a oeste de Teerão, segundo um dos vídeos.

Já na noite de sexta-feira, os iranianos manifestaram-se em Saqez, uma cidade no Curdistão, de onde era originária Mahsa Amini.

A revolta pública explodiu depois de Amini, uma mulher curda de 22 anos, ter morrido sob custódia a 16 de setembro, três dias depois de ser detida por supostamente violar as regras rígidas do Irão para as mulheres usarem lenços hijab e roupas modestas.

Os vídeos que mostraram carros de bombeiros, estações de autocarros e bancos queimados. O Governo afirma que os distúrbios, incluindo tiros disparados pela multidão, são da responsabilidade de grupos terroristas. Os manifestantes, por seu lado, acusam a polícia de disparar na multidão.

No Irão, recorde-se, é obrigatório as mulheres cobrirem o cabelo em público. A polícia fiscaliza ainda as mulheres que usam casacos curtos, acima do joelho, calças justas e 'jeans' com buracos (ou rotos), além de roupas coloridas, entre outras regras.
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