O Presidente russo afirmou esta tarde no Kremlin que a Rússia será forçada "a reagir" se o Reino Unido enviar munições com urânio empobrecido juntamente com os carros armados Challenger 2 fornecidos à Ucrânia.
Putin ameaça "reagir" caso Reino Unido envie munições de urânio empobrecido a Kiev
"Devo dizer que, se isso realmente acontecer, a Rússia terá de reagir, considerando que o Ocidente no seu conjunto começa a aplicar armas com componentes nucleares" no conflito ucraniano, avisou Vladimir Putin, enquanto discursava ao lado Presidente chinês Xi Jinping.
O Ministério britânico da Defesa (MoD) reagiu duramente, acusando o
Presidente russo de estar a "tentar deliberadamente desinformar" o
público sobre este tipo de munições, sublinhando que o Exército
britânico usa o urânio empobrecido nas suas bombas "há décadas".
O urânio empobrecido resulta do enriquecimento de urânio natural para produzir combustível nuclear. A sua radioatividade é cerca de 40 por cento menor do que a
do urânio natural.
Munições com este componente foram usadas em ambas as guerras do
Golfo e na Jugoslávia e levantaram questões sobre o impacto na saúde
devido à radiação que emitem, mesmo sendo mais fraca.
Londres "perdeu o rumo"
O Kremlin tem diversas vezes ameaçado recorrer a armas nucleares ao longo do conflito com a Ucrânia e tenta agora legitimar o argumento acusando o Ocidente de ser o primeiro a enviar armas com componentes nucleares para o teatro de guerra.
As críticas de Putin foram ecoadas ao mais alto nível do seu Governo. O ministro russo da Defesa, Sergei Shogu, criticou a decisão de Londres, dizendo que "mais uma linha foi ultrapassada – e estão a desaparecer".
Também o ministro russo dos Negócios Estrangeiros comentou a notícia, mostrando-se quase resignado. "Nada me poderá surpreender", afirmou Sergei Lavrov. Londres "perdeu o rumo" e as suas ações estão a "prejudicar a estabilidade" mundial, acrescentou.
Se o Reino Unido realmente enviar munições de urânio empobrecido para a Ucrânia, significa que "está pronto a violar a lei internacional humanitária como em 1999 na Jugoslávia", acrescentou Lavrov. "Não há dúvidas que isto irá terminar mal para Londres", vaticinou.
Konstantin Gavrilov, representante russo para a OSCE, Organização para a Cooperação e Segurança na Europa, alertou ainda que a Rússia iria considerar o envio destas munições para a Ucrânia equivalente ao uso de "bombas nucleares sujas".
Dúvidas e garantias
A notícia de envio destas munições foi confirmada segunda-feira pelo Ministério da Defesa do Reino Unido, que as considera "altamente eficazes para derrotar carros armados modernos e veículos blindados".
Numa resposta por escrito a uma pergunta do Parlamento, a ministra de Estado para a Defesa, baronesa Goldie, reconheceu que o Reino Unido iria enviar "munições incluindo perfurantes de blindados que contêm urânio empobrecido" para a Ucrânia, a par de um esquadrão de carros armados Challenger 2.
A porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, afirmou que tais munições causam cancro e infetam o meio ambiente.
Convicção partilhada por diversos especialistas, que permanecem convictos de ligações entre malformações congénitas e a utilização de urânio empobrecido, mas contestada a nível oficial.
A União Europeia afirma que a exposição e absorção de urânio empobrecido "aparentam estar abaixo dos níveis toleráveis estabelecidos para o urânio" e que a "contaminação" ambiental "em zonas de guerra é geralmente baixa, exceto em áreas próximas dos veículos destruídos e dos penetradores".