"Quer instalar uma ditadura". Hungria chama embaixador dos EUA em protesto por acusação de Biden a Orbán

por Graça Andrade Ramos - RTP
Joe Biden, em campanha no New Hampshire a 11 de março, para a reeleição para a Casa Branca Foto: Kevin Lamarque - Reuters

O presidente norte-americano acusou o primeiro-ministro húngaro de pretender instaurar uma ditadura, ao comentar um encontro de Viktor Orbán com Donald Trump, na Florida.

Esta terça-feira, o embaixador norte-americano na Hungria, David Pressman, foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para receber formalmente o protesto de Budapeste.

"Não somos obrigados a tolerar mentiras como estas da parte de ninguém. Nem mesmo que essa pessoa seja o presidente dos Estados Unidos da América", justificou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó.

Um porta-voz da Embaixada dos EUA confirmou depois que Pressman foi convocado "com urgência" esta manhã para uma reunião no Ministério. O "embaixador Pressman acolhe sempre a oportunidade de debater com o nosso aliado o estado da democracia húngara", acrescentou.

Orbán tem apoiado abertamente a recandidatura de Donald Trum à presidência dos Estados Unidos, pelo Partido Republicano, tal como já tinha sido o único chefe de Governo da União Europeia a apoiar o magnata nas eleições de 2016 e de 2020.

Em contraste, o seu governado nacionalista tem colidido várias vezes com a Administração Biden devido aos seus laços de proximidade com Moscovo.
Críticas de Biden
Na semana passada, Orbán e Trump reuniram-se na residência do ex-presidente norte-americano na Florida. 

No final, o primeiro-ministro húngaro referiu-se ao republicano como o único candidato presidencial capaz de por um fim à guerra na Ucrânia. Já Trump tem-se referido a Viktor Orbán como o "político mais forte da Europa".

O encontro surpreendeu analistas tanto em Budapeste como em Washington, e levantou receios de que o líder húngaro esteja a servir de intermediário do Kremlin e dos seus interesses junto de figuras conservadoras norte-americanas.

Serviu de qualquer forma para um ataque político do presidente democrata ao rival republicano.

Durante uma ação de campanha para as presidenciais de novembro próximo, nas quais deverá enfrentar novamente Donald Trump, Joe Biden comentou o encontro, dizendo que Orbán "afirmou categoricamente que não acredita que a democracia funcione".

"Sabem com quem ele [Donald Trump] se encontrará hoje em Mar-a-Lago? Com Orbán, da Hungria, que afirmou categoricamente que não acredita que a democracia funcione, que quer instalar uma ditadura", denunciou Biden num comício eleitoral em Wallingford, nos arredores da cidade de Filadélfia.
"Insulto muito grave"

O Ministério dos Negócios estrangeiros da Hungria considerou estas palavras um "insulto muito grave".

"Esta forma de pensar por parte do presidente e da Administração democrata é um enorme peso nas nossas relações bilaterais", afirmou Péter Szijjartó, em conferência de imprensa, esta tarde.

"Pedimos ao embaixador para nos fornecer a citação, com tempo e lugar", revelou ainda o ministro húngaro, mantendo que Orbán nunca disse o que Biden afirmou. "Este é um insulto muito grave".

Viktor Orbán tem sido acusado, assim como o seu partido Fidesz, de estar a tentar criar um estado ultra-conservador e de não cumprir com as regras de equilíbrio democrático.

Vários governos de países ocidentais, aliados formais da Hungria, vêm ainda com preocupação a proximidade desta à Rússia e à China, quando as relações húngaras com os Estados Unidos atingem um dos pontos mais baixos de sempre.

com agências
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