Radicais islâmicos abrem nova ofensiva em África. Entrevista Olhar o Mundo

por RTP

Os movimentos radicais islâmicos estão a abrir novas frentes em África depois do fim do califado na Síria e Iraque e uma delas já atinge um país lusófono: Moçambique. Pela positiva, a eficácia operacional das unidades militares portuguesas envolvidas em missões das Nações Unidas, NATO e União Europeia está a revelar-se uma história de sucesso e a atrair as atenções de analistas e peritos internacionais. A revelação e destaque são de um dos autores e investigadores militares mais reconhecidos do mundo anglo-saxónico, ALJ Venter, em entrevista exclusiva ao programa de Relações Internacionais da RTP 3 "Olhar o Mundo".

O antigo jornalista de guerra sul-africano, de 80 anos, autor de mais de 50 livros e de dezenas de documentários de televisão explica a razão de ser da nova aposta jiadista: "porque é um alvo fácil, há muita gente pobre, muita gente islâmica, com pouco mais do que a sua religião, e que são coagidas para essa forma de revolução".

"É algo muito grande", alertou ao jornalista António Mateus. "Se vir o que se passa no Mali, por exemplo, as pessoas não sabem que a Força Aérea britânica acaba de enviar três helicópteros Chinook e 60 elementos das forças especiais para Gao, no norte".

"E há outros desenvolvimentos", prosseguiu. "O Estado Islâmico reinvindicou as suas primeiras vitórias na zona leste do Congo, enquanto o Al-Shabaab é muito eficaz em certas zonas da Somália e abriu uma frente no norte de Moçambique, onde já provocou a morte de muita gente".

"Isto revela-nos sobre esta escalada, que é lenta mas está a intensificar-se", disse Venter, antes de revelar que vai integrar-se na unidade de forças especiais portuguesas destacadas na República Centro-Africana, para verificar pessoalmente e no terreno, a forma como estas conseguiram interromper o caos num dos palcos mais inseguros daquele continente.

"Com a chegada ali dos portugueses, e isto é espantoso, porque até à sua chegada há dois anos havia o caos", sublinhou. "As Nações Unidas não estavam a conseguir controlar a situação. Os portugueses chegaram com uma força de intervenção rápida, fabulosamente capaz, rápida, eficaz e houve uma acalmia relativa de toda a situação".

Questionado sobre o motivo justificativo da aceitação dos militares portugueses em teatros de guerra complicados, o investigador, natural de Kroonstad (África do Sul) antigo correspondente da prestigiada Jane's International Defense Review é frontal. "Metade do mundo desconhece aquilo em que os militares estiveram e estão envolvidos. No caso do Afeganistão, por exemplo, o Comandante-Geral (britânico) David Richards, que agora é Lorde, destacou a unidade portuguesa em Cabul como as suas melhores tropas. E acontece agora o mesmo na RCA, onde o general (senegalês) à frente dos capacetes azuis vê a força portuguesa como sendo tão boa que lhes pede muitas vezes para fazer missões para as quais não está habilitada, quase sempre tarefas policiais", destacou.

"A autoridade (militar) em Portugal, o (CEMGFA) Almirante António Ribeiro, teve de lhe sublinhar que se trata de uma força de reação rápida, que deve ser utilizada como tal, porque quando houver emergências vai precisar de gente capaz no terreno".

Uma entrevista a emitir parcialmente e ser analisada no programa Olhar o Mundo, sábado, na RTP3, 14h20, e no domingo, na RTP2, às 24h20.
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