Rajoy com pressa de formar governo dá prioridade ao PSOE

por Carlos Santos Neves - RTP
“Ganhou o PP e ganhou o PSOE”, afirma o líder do PP, Mariano Rajoy, no rescaldo das eleições gerais de domingo Javier Lizon - EPA

É aos socialistas de Pedro Sánchez que Mariano Rajoy estende a mão no início do processo de negociações para uma solução de governo em Espanha. Depois da vitória nas eleições gerais, com um reforço do número de deputados mas aquém da maioria absoluta, o líder do PP anseia por uma investidura no final de julho e afiança que não descarta ninguém. Mas dá prioridade ao PSOE, segunda força política.

“Ganhou o PP e ganhou o PSOE”. Com uma frase poupada, o líder dos conservadores espanhóis explica por que razão quer dar prioridade aos socialistas, ao encetar conversações para formar um novo governo no país.O PP reuniu 33,03 por cento dos votos, elegendo 137 deputados. O PSOE obteve 22,66 por cento, garantindo 85. A aliança Unidos Podemos foi terceira, com 21,1 por cento dos votos e 71 deputados, e o Ciudadanos quarto com 13,05 por cento e 32 parlamentares.


Depois da indefinição pós-eleições de dezembro, que levou a um parêntesis político de seis meses, Mariano Rajoy tem pressa. Disse-o esta segunda-feira em entrevista à rádio Cadena Cope.

“Vou tentar ser investido, para aprovar os pressupostos de 2017, fazer avançar as leis e os compromissos europeus, primeiro com o PSOE”, acentuou o número um dos populares, que, nas eleições de domingo, viram reforçado o seu peso parlamentar, embora aquém da maioria absoluta.

O ramo de oliveira do político galego - para quem o eleitorado “acertou” ao escolher como primeiro e segundo os dois partidos que “protagonizaram” as grandes transformações em Espanha nas últimas quatro décadas - estende-se também ao Ciudadanos de Albert Rivera. Se este último “quiser somar-se”.

Na mesma entrevista, Rajoy revelou ter ouvido de Pedro Sánchez, ao telefone, uma declaração de disponibilidade para “uma conversa” no curto prazo. “Mas não entrámos em nenhum tema de fundo”, acrescentou.
“Uma maioria para governar”

Procurar “uma fórmula de governo com maioria”, para garantir a solidez da política orçamental de Espanha, é assim a tarefa imediata que Mariano Rajoy se impõe. Um cenário diferente, admite, seria “muito complexo e muito difícil”.

“Farei tudo o que for possível para conseguir a grande coligação”, insistiu.

Além de PSOE e Ciudadanos, o PP estará também disponível para falar com o PNV e a Coalición Canaria. Ainda que os socialistas sejam, na perspetiva de Rajoy, indispensáveis para questões políticas de fundo.

“Não está nada descartado, mas para os temas fundamentais precisaria do PSOE, como os temas europeus, a gestão do Brexit, que requerem um acordo nacional, emboras não fechemos nenhuma possibilidade”, reiterou.
“Falar de reformas, não de lugares”

O repto do presidente do Governo em funções tem já uma resposta. Albert Rivera, o líder do Ciudadanos, veio dizer esta segunda-feira que “nunca houve um veto” do partido à figura de Mariano Rajoy.

Propôs também que as negociações decorram em formato tripartido. Desde que se destinem a “falar de reformas, não de lugares”.
Em declarações à Telecinco, Rivera prometeu contactar nas próximas horas os líderes do PP e do PSOE. Com uma agenda muito clara, dominada por temas como a reforma eleitoral, a despolitização da Justiça, a educação e o emprego.

Igualmente ouvido pela Cadena Cope, o vice-secretário-geral do Ciudadanos, José Manuel Villegas, martelou a ideia de que devem ser “os partidos constitucionalistas a sentarem-se para falar”, cabendo a iniciativa à formação mais votada, o PP.

“A aritmética está muito complicada. Mas só nos resta resolvê-la. Descartamos que tenhamos de ir para novas eleições”, rematou José Manuel Villegas.
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