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RCA. Soldados portugueses em "combate de elevada intensidade"

por Carlos Santos Neves - RTP
O incidente de sexta-feira ocorreu quando os militares portugueses “estavam a patrulhar” a cidade de Bambari, no centro daquele país africano Baz Ratner - Reuters

Os paraquedistas portugueses em missão na República Centro-Africana voltaram a ver-se envolvidos na sexta-feira, pelo segundo dia consecutivo, em situação de combate. Sem notícia de baixas. Os militares “estavam a patrulhar o centro” de Bambari quando foram alvejados. Os confrontos prolongaram-se por sete horas. Só na última semana a violência no noroeste do país obrigou mais de dez mil pessoas a procurarem refúgio nos Médicos Sem Fronteiras.

“Os paraquedistas da 4ª Força Nacional Destacada (4FND) na República Centro-Africana (RCA), composta maioritariamente pelo 2.º Batalhão de Infantaria Paraquedista, estiveram pelo segundo dia consecutivo em combate, durante o dia 2 de novembro de 2018, na cidade de Bambari. Não há feridos a registar do lado das forças de combate portuguesas”, confirmou em comunicado o Estado-Maior General das Forças Armadas.
O Presidente da República enviou já uma mensagem de apoio “muito especial” aos militares portugueses em missão na República Centro-Africana, assinalando que as últimas semanas têm sido “difíceis”.

“Dada a dimensão da ameaça, com a existência de barricadas e o efetivo do grupo opositor em grande número”, com “armas pesadas e lança-rockets (RPG), a partir de posições fortificadas”, os soldados portugueses “reagiram”, descreve a mesma nota.

Os disparos na cidade central de Bambari, explica ainda o Estado-Maior General das Forças Armadas “foram provenientes de locais habitados por civis que não são afetos a grupos armados”.

“A população da cidade de Bambari em particular tem sido alvo nas últimas semanas de constantes ameaças e extorsões por parte de elementos afetos aos grupos armados”.

O Estado-Maior General sublinha que “este combate em ambiente urbano, de elevada intensidade, foi particularmente exigente por parte dos militares portugueses a fim de minimizar o risco de danos colaterais face à presença de população civil nas imediações”.

O Estado-Maior enfatiza que a missão portuguesa naquele país visa prioritariamente “a proteção dos civis, o apoio ao processo de paz, facilitar a assistência humanitária e a proteção do pessoal, instalações, equipamentos e bens das Nações Unidas”, tem por base resoluções do Conselho de Segurança.

O mandato das tropas especiais portuguesas enquadra, em concreto, “ações que antecipem, dissuadam e respondam, de forma efetiva, a ameaças sérias e credíveis à população civil”.

Ouvido pela Antena 1, o porta-voz do Estado-Maior General das Forças armadas, comandante Pedro Dias, confirmou que os militares portugueses enfrentaram horas complexas.

MINUSCA
As forças portuguesas integram desde 2017 a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA) – há uma companhia de infantaria que opera a partir de Bangui, enquanto Força de Reação Rápida.

Em recente entrevista ao jornalista da RTP António Mateus, o tenente-general senegalês Balla Keita, comandante militar da MINUSCA, elogiava o comportamento das forças especiais portuguesas, destacando que já salvaram milhares de vidas na República Centro-Africana.

A República Centro-Africana mergulhou na violência em 2013, na sequência do derrube do então Presidente François Bozizé por diferentes grupos que uniram forças na chamada Séléka, ou coligação. A queda de Bozizé empurrou para o confronto um outro agrupamento de milícias designado anti-balaka.A 4ª Força Nacional Destacada Conjunta na República Centro-Africana integra perto de 160 militares. A sua missão teve início a 5 de setembro. Portugal participa também na Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana, com 45 militares.

Neste momento, o Governo de Faustin-Archanger Touadéra, o atual Presidente, controla perto de um quinto do território. Mais de 15 milícias controlam o resto do país, impondo às populações civis uma violência extrema que passa por sequestros e roubo de recursos naturais. A guerra no país gerou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados.

Quase três milhões de pessoas estão dependentes de auxílio humanitário.

No noroeste do país, só na última semana, mais de dez mil pessoas procuraram refúgio na unidade hospitalar dos Médicos Sem Fronteiras em Batangafo, segundo a organização humanitária.

Entre quarta e quinta-feira pelo menos três campos de deslocados de Batangafo foram incendiados, além de um mercado e quatro estruturas de escolarização de menores deslocados. Estes ataques fizeram pelo menos duas dezenas de feridos.

c/ Lusa
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