"Receita de caos". Hamas fecha porta a plano de Trump para esvaziar Gaza

O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, rejeita qualquer tentativa de deslocar habitantes. Horas depois de o presidente norte-americano ter repetido que tem planos para reinstalar a população noutros locais e transformar o território na "riviera do Médio Oriente", o movimento radical condenou as declarações "absurdas" e "ridículas" de Donald Trump e negou a "expulsão" de palestinianos do território. Também o enviado palestiniano às Nações Unidas considerou que os líderes mundiais devem respeitar o deseja da população permanecer em Gaza.

Inês Moreira Santos - RTP /
Abraheem Abu Mustafa - Reuters

"Rejeitamos as declarações de [Donald] Trump, que disse que os habitantes da Faixa de Gaza não têm outra escolha a não ser sair e consideramo-las uma receita para criar caos e tensão na região", reagiu Sami Abu Zuhri, um alto dirigente do Hamas, citado pela Reuters.

“Os comentários de Trump sobre o desejo de controlar Gaza são ridículos e absurdos, e qualquer ideia desse tipo é capaz de incendiar a região”, acrescentou.

Também o porta-voz do grupo islamita, Izzat Al-Rishq, considerou que as declarações do presidente dos Estados Unidos refletiam uma “profunda ignorância” sobre a região e confirmavam o preconceito norte-americano a favor de Israel.

"Gaza não é uma terra comum para qualquer parte decidir controlar, mas sim parte da nossa terra palestiniana ocupada, e qualquer solução deve ser baseada no fim da ocupação e na obtenção dos direitos do povo palestiniano, e não na mentalidade de um corretor imobiliário e na mentalidade do poder e dominação", disse ainda Al-Rishq, citado pelas agências de notícias.

“A postura racista norte-americana alinha-se com a posição da extrema-direita israelita de deslocar o nosso povo e eliminar a nossa causa”, disse ainda o Hamas, num comunicado.

Já o secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestiniana, Mustafa Barghouti, afirmou que “os comentários e sugestões de Trump violam completamente o direito internacional e representam um apelo à limpeza étnica, que é um crime de guerra”.
Participação dos EUA a "longo prazo"
Donald Trump voltou a afirmar, na terça-feira, que quer que os Estados Unidos assumam o controlo da Faixa de Gaza e reconstruam o território, depois de os palestinianos serem reinstalados noutros locais. A posição foi transmitida em conferência de imprensa, após um encontro com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca.

Trump não excluiu a possibilidade de enviar tropas norte-americanas para apoiar a reconstrução de Gaza e considera que a participação dos EUA será de "longo prazo". O plano é converter o enclave na nova "Riviera do Médio Oriente".

"Isto pode ser magnífico", disse Trump durante a conferência.

O presidente norte-americano garantiu ainda que o acordo para normalizar as relações entre a Arábia Saudita e Israel "vai acontecer".

O Governo saudita, por seu lado, enfatizou a rejeição a qualquer tentativa de deslocar os palestinianos das suas terras e disse que não estabeleceria relações com Israel sem o estabelecimento de um Estado da Palestina. O Ministério saudita dos Negócios Estrangeiros acrescentou, num comunicado, que a sua posição em relação a este assunto não é negociável.

O reino da Arábia Saudita reafirmou, assim, o apoio “inabalável” a um Estado palestiniano e a sua posição de longa data de que não se comprometerá com a normalização das relações com Israel sem tais garantias.

No início da reunião, Trump já tinha sugerido que os palestinianos deslocados em Gaza fossem reinstalados permanentemente fora do território devastado pela guerra.

"Não acho que as pessoas devam regressar", disse Trump. "Não se pode viver em Gaza neste momento. Acho que precisamos de outro local. Penso que deve ser um local que faça as pessoas felizes".

Questionado sobre quantos palestinianos deveriam ser realojados, Trump respondeu: "Todos eles. Provavelmente 1,7 milhões, talvez 1,8 milhões. Mas penso que todos. Seriam reinstalados num local onde possam ter uma vida bonita".

O dirigente descreveu ainda a Faixa de Gaza como um "local de demolição" e disse, que, depois de olhar "de todos os ângulos" para as fotografias do enclave, após a guerra com Israel, chegou à conclusão de que "aquele lugar é um inferno, é muito perigoso e ninguém pode viver lá".

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