"Reflexo de Elon Musk". Tesla a braços com acusações de racismo e acusada de inércia

Uma ex-funcionária da Tesla avançou com uma ação em tribunal contra a empresa, acusando-a de nada fazer contra os comportamentos discriminatórios cometidos por trabalhadores. A mulher de 25 anos, negra e homossexual, garante que um colega a ofendeu verbalmente e a agrediu com uma ferramenta. Este é apenas um de muitos casos judiciais nos quais a fabricante de automóveis elétricos se vê envolvida nos últimos meses.

Joana Raposo Santos - RTP /
A Tesla enfrenta agora uma queixa por violação dos Direitos Civis lançada por um grupo de reguladores da Califórnia. Matthew Childs - Reuters

“Ser um trabalhador negro na fábrica da Tesla na Califórnia é ser forçado a voltar atrás no tempo e sofrer abusos dolorosos que relembram a era das leis de Jim Crow”, que impunham a segregação racial, lamentou a ex-funcionária e alegada vítima de abusos, Kaylen Barker.

A jovem de 25 anos estava a trabalhar na fábrica da Tesla em Lathrop, cidade da Califórnia, quando alegadamente uma das suas colegas, Joanne, a chamou de “preta” e a agrediu com uma ferramenta quente.

O alegado assédio por parte de Joanne começou quando Kaylen foi promovida a sua superior na linha de montagem dos travões dos automóveis. Joanne terá dito que “a Tesla não devia ter promovido uma rapariga negra” e instou os colegas a não cumprirem as indicações da supervisora “porque ela é preta e não sabe o que faz”.

Kaylen fez queixa aos recursos humanos e Joanne foi despedida, mas a Tesla contratou-a duas semanas depois e colocou-a a trabalhar noutro departamento. Já Kaylen, em vez de ver a sua situação resolvida, terá sofrido represálias, deixando de receber salário e sendo despedida pela empresa sem qualquer explicação.

Também segundo Kaylen Barker, antes do despedimento a empresa quis forçá-la a assinar um documento onde falsamente declararia ter sido “insubordinada”. Depois de a funcionária ter, por várias vezes, recusado assinar, os Recursos Humanos tê-la-ão “castigado” ao mandá-la para casa cinco horas antes do fim do horário.

A agora ex-funcionária apressou-se a entrar com uma ação judicial contra a Tesla, algo que não é inédito. Nos últimos meses, aliás, a empresa de Elon Musk viu-se envolvida em vários outros casos em tribunal, todos eles relativos a um aparente ambiente hostil de trabalho para mulheres e pessoas de cor.
Tesla “lava as mãos” dos problemas, acusa advogado
A mais recente queixa chega apenas quatro meses depois de a empresa ter sido obrigada por um tribunal a pagar uma indemnização de quase 137 milhões de dólares a um outro funcionário. O homem, Owen Diaz, queixou-se também de racismo no local de trabalho, dizendo ter ouvido insultos como “volta para África”.

Sobre o caso de Diaz, a Tesla disse “não acreditar que os factos e a lei justifiquem o veredito final”, pelo que solicitou um novo julgamento ou, pelo menos, uma redução do valor da indemnização.

Bernard Alexander, advogado de Kaylen Barker e Owen Diaz, considera que “a empresa é um reflexo do seu dono, Elon Musk”.

“Uma pessoa capaz de criar os carros que ele cria, que é pessoalmente capaz de ir ao espaço... se quisesse resolver o problema [da discriminação na empresa], teria voltado as atenções para o mesmo e conseguiria resolvê-lo”, lamentou em declarações ao Daily Beast.

No mês passado, também uma trabalhadora da divisão de painéis solares da Tesla processou a empresa e o seu supervisor depois de, alegadamente, este último a ter chamado “preta” e “gorda” e um colega ter feito pouco das suas rastas. Depois de se ter queixado aos recursos humanos, a Tesla “colocou-a a apanhar lixo”, segundo a acusação.

“As pessoas queixam-se aos recursos humanos e estes, em vez de as ajudarem, castigam-nas”, lamentou o advogado Bernard Alexander, acusando a empresa de ter uma constante atitude de “lavar as mãos” dos problemas dos trabalhadores.
Tesla intimada por regulador do mercado
O conjunto de acusações de discriminação levou a que, neste momento, a Tesla enfrente uma queixa por violação dos Direitos Civis lançada por um grupo de reguladores da Califórnia.

No mês passado, o Departamento do Emprego Justo desse Estado norte-americano emitiu uma “notificação para a resolução de disputas após alegações de assédio em locais de trabalho”.

O advogado de Barker e Diaz avançou ao Daily Beast que essa agência dos Direitos Cívicos “já anda a investigar a Tesla há algum tempo” e que “já era esperado” que esta viesse a enfrentar as consequências.

Segundo um relatório recentemente divulgado pela Tesla, a empresa recebeu ainda uma intimação por parte da Comissão de Valores Imobiliários dos Estados Unidos (agência federal que regula os mercados financeiros) em novembro passado.

Nessa intimação são solicitadas informações sobre se o dono da Tesla, Elon Musk, cumpriu com um acordo de 2018 da Comissão que exigia que os seus tweets fossem examinados por um advogado da empresa.
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