Refugiados rohingya impedidos de desembarcar na Indonésia pela população local

por Lusa

Cerca de 240 refugiados muçulmanos de origem rohingya, incluindo mulheres e crianças, continuam ao largo da costa da Indonésia, após duas tentativas de desembarque terem sido rejeitadas pelos residentes locais.

 Segundo as autoridades, os refugiados - vítimas de repressão no Myanmar (antiga Birmânia) - tentaram desembarcar no distrito de Aceh Utara, na província indonésia de Aceh, na tarde de quinta-feira, mas partiu poucas horas depois.

 Trata-se da quarta embarcação a chegar à província mais setentrional da Indonésia desde terça-feira.

Três outras chegaram a um distrito diferente tendo os ocupantes sido autorizados a desembarcar.

 Os residentes da praia de Ulee Madon, no subdistrito de Muara Batu, disseram que não aceitariam o último grupo, uma vez que os rohingya já chegaram várias vezes à zona e causaram "incómodo" aos residentes.

 "De um ponto de vista humanitário, estamos preocupados, mas de outro ponto de vista, eles estão a causar agitação. Demos-lhes abrigo, mas também não os podemos acolher", declarou na Saiful Afwadi, um líder tradicional do subdistrito de Muara Batu.

 Rahmat Karpolo, um chefe de aldeia, disse que os residentes não querem aceitar os refugiados porque, com base na experiência passada, os refugiados rohingya abandonam os centro de abrigo.

 "Estamos preocupados que o mesmo incidente volte a acontecer". disse Karpolo.

 Mais de 700.000 muçulmanos de origem rohingya fugiram de Myanmar, país de maioria budista, para campos de refugiados no Bangladesh, após uma repressão liderada pelo Exército em agosto de 2017 e numa altura em que Aung San Suu Kyi era líder "de facto" do país.

Os refugiados dizem que os campos do Bangladesh estão sobrelotados e que têm de partir "novamente em busca de uma vida melhor".

 A maioria dos refugiados que deixaram os campos por mar tentaram chegar à Malásia, mas muitos acabaram na Indonésia.

 O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Jacarta, numa declaração escrita na quinta-feira, afirmou que a Indonésia não é parte na Convenção sobre os Refugiados de 1951.

Por conseguinte, a Indonésia não tem a obrigação ou a capacidade de acolher refugiados, e muito menos de fornecer uma solução permanente para os refugiados.

 "O alojamento foi concedido unicamente por razões humanitárias. Ironicamente, muitos países signatários da Convenção fecharam as portas e até implementaram uma política de rejeição dos refugiados", afirmou Lalu Muhamad Iqbl, porta-voz do Ministério, num comunicado.

 O mesmo responsável acrescentou que a posição da Indonésia em fornecer abrigo temporário tem sido amplamente explorada por traficantes de pessoas que procuram obter ganhos financeiros sem se preocuparem com os elevados riscos que enfrentam os refugiados, especialmente os grupos vulneráveis como as mulheres e as crianças.

 "De facto, muitos deles foram identificados como vítimas de tráfico de seres humanos", afirmou Iqbal.

 

 

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