Rei Goodwill Zwelitini alcançou a estabilidade após séculos de colonialismo e injustiça

por Lusa
Reuters

Joanesburgo, 18 mar 2021 (Lusa) - O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, prestou hoje uma homenagem nacional ao falecido rei Goodwill Zwelithini KaBhekuzulu, sublinhando que foi durante o seu reinado que os amaZulu alcançaram a estabilidade após séculos de colonialismo e injustiça.

O monarca amaZulu, que reinou desde 1971, morreu no dia 12 de março, devido a complicações associadas à diabetes e à covid-19, no hospital público Chief Albert Luthuli, em Durban, litoral do país, e foi sepultado na madrugada de hoje em Kwanongoma, norte da província do KwaZulu-Natal.

"Hoje é um dia difícil porque caiu uma árvore gigante", declarou o Presidente Ramaphosa, no elogio na cerimónia fúnebre oficial realizada na manhã de hoje na terra natal do rei Zulu, salientando que "muitos líderes e povos de outros países no continente africano e outras partes do mundo manifestaram as suas condolências pela morte do nosso monarca".

O chefe de Estado sul-africano, que decretou um funeral de Estado em homenagem ao monarca Zulu, salientou que também o secretário-geral das Nações Unidas, o antigo primeiro-ministro português António Guterres, enviou "condolências sentidas".

"A história lembrará que, após muitos anos de conflito e turbulência, foi durante o seu reinado que o reino zulu alcançou a estabilidade e a harmonia que há tanto tempo lhe escapavam", afirmou o Presidente sul-africano.

"Foi durante o seu reinado que o seu povo - ao lado de todo o povo da nossa nação - realizou o seu sonho de libertação das injustiças do colonialismo e do `apartheid`".

"Foi durante o seu reinado que as décadas de expropriação - e a destruição intencional do nosso conhecimento e sistemas económicos, cultura e instituições de governação - chegaram ao fim", salientou Ramaphosa.

O chefe de Estado sul-africano referiu que o `Imbube` será lembrado por ser "o mais ferrenho defensor do seu povo", em que durante o seu reinado de meio século "não apenas defendeu e avançou os interesses do povo Zulu, mas também promoveu a sua cultura, os seus costumes, as suas tradições e um profundo senso de identidade e nacionalidade".

Ramaphosa considerou que o monarca Zulu "é celebrado em todo o nosso amado continente africano", uma vez que "valorizou a diversidade e respeitou as culturas de outros reinos e povos".

Durante o período "tumultuoso" da transição política na África do Sul, afirmou Ramapahosa, o rei Zulu desempenhou um papel "significativo" na conquista da democracia, acrescentando que o monarca ficará nos anais da história "pelo seu papel em trazer paz e estabilidade ao KwaZulu-Natal durante os tempos difíceis pelos quais o país passou".

"Como líder, ele pregou paz e unidade. Ele abominava a violência e as suas consequências", sublinhou o Presidente sul-africano, adiantando que "à medida que o país caminhava para a democracia, ele apelou ao fim dos assassinatos políticos, viajando pelo país para se reunir e encorajar as pessoas a recorrer a meios pacíficos de resolução de conflitos".

No seu discurso de elogio ao monarca Zulu, Cyril Ramaphosa considerou que o rei Goodwill Zwelithini "apreciou a importância da unidade e coesão social", assim como "apoiou a música local que ajudou a educar a geração mais jovem".

"Ele também reviveu práticas culturais que estimularam o turismo no KwaZulu-Natal e defendeu o desenvolvimento rural", frisou Ramaphosa, destacando o "trabalho com o Governo no acesso à água e no desenvolvimento da agricultura", no país, onde "Sua Majestade foi um campeão de desenvolvimento e progresso".

"Era um grande visionário e tinha uma visão profunda sobre a melhor forma de desenvolver o nosso país e o seu povo", frisou Ramaphosa, acrescentando que Zwelithini "defendeu melhor Saúde entre o seu povo, liderando a luta contra o HIV-SIDA e a Tuberculose".

O chefe de Estado salientou que "a grande força da liderança tradicional é a que perdura ao longo dos séculos", recordando que o monarca Zulu "acreditava que os reinos africanos deveriam unir-se para enfrentar os males sociais na nossa sociedade e os conflitos no continente".

Ramaphosa afirmou depois que "o colonialismo e o `apartheid` procuraram colocar uns contra os outros, como diferentes tribos e grupos étnicos", acrescentando que "os antigos governantes" sul-africanos estabeleceram o sistema de bantustões", frisando que "este era um sistema cuja origem girava em torno da opressão, exploração e divisão".

"Disseram-nos que era para nosso próprio bem, mas era apenas para que pudessem transformar vastas partes do país em reservas de mão-de-obra para seu próprio benefício", adiantou.

Na opinião de Ramaphosa, "diante desse ataque implacável, líderes como o rei Goodwill Zwelithini permaneceram firmes, determinados em servir o seu povo como os seus antepassados o fizeram".

"Sua majestade deixou-nos, mas o seu legado continua vivo", concluiu o Presidente da África do Sul.

A cerimónia fúnebre oficial em Kwanongoma contou com a presença do ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, além de líderes tradicionais e de governo provinciais, assim como representantes de monarquias do continente e de governos ocidentais.

Nascido em 14 de julho de 1948, em Kwanongoma, o rei Good Zwelithini KaBhekuzulu era o filho mais velho do rei Cyprian e da sua segunda mulher, a rainha Thomo, segundo a biografia oficial do monarca.

Foi coroado em 3 de dezembro de 1971 como oitavo monarca do povo Zulu, de uma linhagem direta do rei Shaka, três anos depois da morte de seu pai, em 1968, numa cerimónia tradicional em Kwanongoma assistida por 20.000 pessoas.

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