Reino Unido. Demissão surpresa do chanceler Sajid Javid

por Graça Andrade ramos - RTP
Sajid Javid ao dirigir-se ao nº10 de Downing Street, Londres, a 13 de fevereiro de 2020 Reuters

O ministro britânico das Finanças bateu com a porta esta quinta-feira, durante a remodelação governamental do executivo. Sajid Javid era considerado um dos pesos pesados do Governo de Boris Johnson, apesar dos seus confrontos constantes com Dominic Cummings, o principal estratega político de Johnson. A sua demissão surpreendeu por isso todos os analistas.

Javid, de 50 anos, não terá aceitado demitir a sua equipa de assessores, como aparentemente lhe exigiu o primeiro-ministro.

Nesta remodelação, Boris Johnson quis criar uma nova equipa de conselheiros especiais, que pretendia partilhar com o seu ministro das Finanças, mas que ficaria sob a sua autoridade.

"Não podia aceitar estas condições. Penso que qualquer ministro que se respeite não aceitaria tais condições", explicou o ex-chanceler à BBC, afirmando "não tive outra escolha além de me demitir".

No pedido de demissão enviado a Boris Johnson, Sajid Javid deixou algumas farpas e conselhos.

"É crucial para a eficácia do Governo que tenha à sua volta pessoas que possam dar-lhe conselhos claros e sinceros, como sempre procurei fazer", escreveu. "Aconselho-o a garantir que a Tesouraria enquanto instituição preserve a máxima credibilidade possível", acrescentou Javid.    
Mercados optimistas
O anúncio da partida do chanceler levou à imediata valorização da libra esterlina.

Javid era tido como um dos maiores obstáculos aos planos de investimento públicos de Johnson, tidos por alguns como ultra-despesistas. O primeiro-ministro tem prometido milhares a setores como a Saúde, a Educação e as Infraestruturas."O mercado aposta no facto de que esta remodelação significa mais despesas, menos austeridade e maior crescimento", explicou o analista de mercados Neil Wilson à agência France Press.

Filho de um condutor de autocarros paquistanês, Sajid Javid é um ex-banqueiro que se virou para a política.

Foi ministro do Interior antes de assumir a pasta das Finanças em julho, quando Johnson foi nomeado para substituir Theresa May e concretizar o Brexit.

Sajid abandona o barco duas semanas depois do Reino Unido abandonar definitivamente a União Europeia e duas semanas antes do país iniciar negociações sobre as futuras relações com o bloco europeu.
Ao serviço de Johnson
A demissão do chanceler precede ainda a apresentação do primeiro orçamento desde a execução do Brexit, prevista em princípio para dia 11 de março e que deverá agora ser assegurada pelo seu substituto, o até agora secretário do tesouro, Rishi Sunak, de 39 anos.

Sunak fez a sua carreira no setor financeiro e a sua experiência politica é, por enquanto reduzida.

"Dada a relativa falta de autoridade e a rápida ascensão política do novo chanceler, o próximo orçamento será provavelmente mais o do primeiro-ministro", previu à AFP Tom McPhail da sociedade de investimentos Hargreaves Lansdown.

A remodelação governamental pareceu desenhada para tornar as reuniões do executivo num lugar provavelmente mais confortável para Johnson, com menos críticos presentes.

Exemplo disso é Alok Sharma, nomeado ministro para as Empresas, a Energia e o crescimento.

Sharma assumiu igualmente a presidência do COP26, a cimeira sobre o clima marcada para a Escócia em novembro, depois da anterior responsável, Claire Perry O'Neil, ter sido demitida.

O'Neil revelou-se uma das mais violentas críticas de Boris Johnson em matéria de luta contra as alterações climáticas, denunciando uma "enorme falta de liderança".

Três outras mulheres foram igualmente demitidas esta quinta-feira, a responsável pela Economia, Andrea Leadsom, Theresa Villiers, da pasta do Ambiente e Esther McVey, da Habitação.
Outra surpresa
A remodelação deixou intocados outros próximos de Johnson.

Dominic Raab mantém-se nos Negócios Estrangeiros, Priti Patel na pasta do Interior e Michael Gove, arquiteto do Brexit, mantém-se uma espécie de adjunto do primeiro-ministro.

O ministro do Brexit, Steve Barclay, herdou por seu lado a secretaria do Tesouro, substituindo Rishi Sunak.

Outra surpresa na remodelação foi o afastamento de Julian Smith, responsável pela pasta da Irlanda do Norte.

Apesar de ter conseguido resolver o desentendimento de três anos, entre os unionistas do DUP e os republicanos do Sinn Fein, o secretário de Estado para a república britânica foi demitido e substituído pelo ex-secretario para a Segurança, Brandon Lewis.

De acordo com o Times, Boris Johnson criticava a Julian Smith alguma falta de transparência nas suas negociações com os irlandeses, as quais incluem um inquérito aos crimes cometidos pelas forças armadas britânicos durante três dezenas de anos marcados pela luta sangrenta entre unionistas, sobretudo protestantes, e republicanos, sobretudo católicos.
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