Reino Unido. Jovem supremacista aconselhado por juiz a "ler clássicos" condenado a dois anos de prisão

por RTP
Foto: Polícia de Lincolnshire (DR)

Foi esta quarta-feira condenado a pena de prisão um britânico de 22 anos acusado de terrorismo por ter, na sua posse, documentos físicos e digitais com materiais extremistas. No último verão, o jovem tinha sido condenado a pena suspensa e aconselhado a ler clássicos da literatura, sentença que agora foi anulada, dando lugar a uma mais gravosa.

Ben John, que as autoridades descrevem como supremacista branco com ideologia neonazi, foi em agosto do ano passado condenado a pena suspensa por possuir “documentação útil a alguém que queira cometer o crime de terrorismo”.

Entre os documentos encontrava-se uma cópia do livro "The Anarchist Cookbook" ("O Livro de Receitas do Anarquista"), publicado nos Estados Unidos em 1971 e no qual constam instruções para o fabrico de explosivos e armas. A obra chegou mesmo a ser investigada pelo FBI.

Na altura, aos 21 anos, Ben John recebeu uma pena suspensa de cinco anos para “prevenção de eventual crime grave” e prometeu em tribunal que iria romper com os seus interesses e ideologias de extrema-direita.

O juiz encarregue do caso recomendou que o sentenciado lesse obras clássicas, como “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, ou “Um Conto de Duas Cidades”, de Charles Dickens. “Quando vieres ver-me de quatro em quatro meses, vou testar-te. E se achar que estás a enganar-me, vais sofrer”, disse então o juiz Timothy Spencer.

Numa audição no início deste mês, o homem de 22 anos disse ao juiz que “gostou mais de Shakespeare do que de Jane Austin” e o tribunal considerou ter havido “um progresso encorajador”.

Agora, o Tribunal da Relação do Reino Unido determinou que a sentença inicial não seguia os padrões da lei e ordenou que John cumpra dois anos de prisão efetiva. “Deve haver uma sentença de detenção imediata”, declarou esta quarta-feira o juiz Timothy Holroyde.
“Voltou aos interesses de extrema-direita”
Esta nova e mais rígida pena foi decidida depois de o Governo britânico ter contestado a sentença inicial. Nesse sentido, o procurador-geral Alex Chalk comunicou ao Tribunal da Relação que o jovem de 22 anos não tinha demonstrado alterações no seu comportamento extremista.

“Sabemos que, apenas uma semana depois de ter feito uma promessa aparentemente sincera ao juiz, [Ben John] voltou a entregar-se aos seus interesses de extrema-direita”, afiançou o procurador-geral do Reino Unido.

Ainda segundo Alex Chalk, o acusado era, “na altura dos crimes, um extremista confirmado, existindo ainda muitas razões” para que possa assumir-se que continua a sê-lo, nomeadamente o facto de ter colocado “gostos” em conteúdos relacionados com nazismo nas redes sociais.

“Nem queremos imaginar o que aconteceria caso parte desta ideologia fosse posta em prática”, acrescentou.
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