Reino Unido. Serviços de fronteira podem ser abordados para aplicar a "Cultura do medo"

por RTP
Henry Nicholls - Reuters

Dez anos depois de ser lançada a estratégia política destinada a combater a "imigração ilegal" baseada no conceito "ambiente hostil", os funcionários do Ministério do Interior dizem temer que lhes possa ser pedido para agirem ilegalmente para aplicarem a "cultura do medo". As vozes críticas alertam para o impacto da repressão à imigração como tendo um custo humano devastador.

Tornar a vida insuportável para os imigrantes indocumentados seria uma das práticas da política contra a imigração ilegal anunciada em 2012, pela então secretária do Interior, Theresa May.

"O objetivo é criar, aqui na Grã-Bretanha, um ambiente realmente hostil para os imigrantes ilegais" afirmou May à época, embora o conceito de "ambiente hostil" tivesse sido introduzido pela primeira vez em 2007 pelo então Novo Ministro da Imigração Trabalhista Liam Byrne.

As políticas voltadas para um "ambiente hostil" pretendiam cortar o acesso de migrantes indocumentados a quaisquer serviços públicos, incluindo serviços de saúde. Perante tamanhas dificuldades, May estimava que os imigrantes voluntariamente optariam por sair do Reino Unido.
Cultura do medo
Dez anos depois do anúncio da estratégia política "ambiente hostil", as equipas que estão na Linha da Frente no controlo à imigração temem que lhes seja pedido que exerçam ainda mais pressão sobre quem procura o solo britânico para abrigo.

Opositores políticos questionam os resultados do alcance desta estratégia e alegam que tem destroçado muitas vidas humanas.

O sindicato de Serviços Públicos e Comerciais (SPC), que representa muitos funcionários do Ministério do Interior, está entre as organizações que lutam contra as principais políticas que continuam a ser desenvolvidas pelo Ministério do Interior: a repressão de pequenos barcos usados por requerentes de asilo no Canal da Mancha e a deslocação de alguns destes requerentes de asilo para o Ruanda.

Mark Serwotka, secretário-geral do SPC, salienta: "Parece que este governo não aprendeu nada com o escândalo Windrush. A SPC não está preparada para tolerar que os nossos membros sejam colocados em situações potencialmente perigosas e traumáticas, onde possam ser solicitados a agir ilegalmente e serem passíveis de processo disciplinar", explica Serwotka à publicação britânica The Guardian.

Lucy Moreton, oficial profissional do sindicato dos Serviços de Imigração que representa os guardas da Força de Fronteira, disse: "A cultura do medo não mudou de forma alguma. Como um corpo profissional, este sindicato tem mantido um amplo contato com oficiais que não conseguem expor as suas preocupações".

O escândalo Windrush diz respeito a um grande número de pessoas que tinham o direito de viver no Reino Unido, mas não possuíam documentação.

No ano de 2020, um relatório do Institute for Public Policy Research concluiu que a política de "ambiente hostil" tinha promovido o racismo, para além de ter atingido muitos imigrantes que moravam legalmente no Reino Unido e "prejudicado gravemente a reputação do Ministério do Interior".

Nessa altura, a instituição comprometeu-se a alterar os procedimentos.
Continuidade política
Em março de 2022 , a inspetora independente Wendy Williams continua a observar falhas no departamento na revisão das políticas de "ambiente hostil" ao mesmo tempo que os próprios dados do Ministério do Interior não sugerem que as políticas anti-imigração tenham sido bem sucedidas.

Shami Chakrabarti, ex-procurador-geral, afirma que: "Dez anos de ambiente hostil foram um desastre para as relações raciais, coesão da comunidade e orgulho nacional. Usar a fome e a miséria como meio de controlo levou diretamente ao escândalo Windrush. Longe de aprender com essa mancha na nossa história recente, os atuais ministros adotaram uma abordagem de extrema-direita ainda mais populista com 'retrocessos' do Canal e 'deslocalização' de pessoas desesperadas para Ruanda".

Mais de 3.000 pessoas chegaram em março de 2022, às costas do Reino Unido, em comparação com 831 no mesmo periodo do ano passado. Mais de 4.850 migrantes fizeram a travessia desde janeiro até agora.

No ano de 2021, resgistaram-se 28.526 pessoas que cruzaram o Canal da Mancha em pequenos barcos - contra 8.404 em 2020.
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