Relação azeda. Trump "desiludido" com multimilionário, Musk diz que "Trump não teria sido eleito" sem a sua ajuda

O pacote fiscal proposto pela nova Administração Trump continua a afastar os antigos aliados. Depois das repetidas críticas de Musk à legislação orçamental proposta pela Casa Branca, Donald Trump afirmou esta tarde não ter a certeza se irá manter uma ótima relação com o multimilionário.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Elon Musk e Donald Trump durante uma conferência de imprensa na Sala Oval, a 30 de maio de 2025 Nathan Howard - Reuters

O antigo autoproclamado "Primeiro Amigo", acusou o agora presidente de  ingratidão. "Sem mim, Trump teria perdido a eleição", sustentou. "Os democratas controlariam a Câmara e os republicanos ficariam 51-49 no Senado", acrescentou.

Elon Musk lançou ainda uma sondagem na rede social X, perguntando "será que está na altura de criar um novo partido político nos Estados Unidos que represente realmente os 80% do meio?"

Numa longa série de tweets a criticar o presidente e republicando ainda um tweet que compilava anteriores promessas e considerações de Trump nas redes sociais, sobre a necessidade de aligeirar a estrutura federal, o multimilionário questionou ainda "onde anda este homem?".

Elon Musk tem defendido uma proposta de lei fiscal "simplicada e concisa", criticando as medidas apresentadas para reduzir a despesa. "A grande e feia proposta AUMENTARÁ o défice para 2,5 triliões de dólares!" advertiu esta quinta-feira.

As críticas de Musk estão a cair mal no atual inquilino da Casa Branca, que, após os diversos tweets de Musk ameaçou anular contratos governamentais com empresas de Elon Musk.

"Reparem, o Elon e eu tínhamos uma ótima relação. Não sei se vamos continuar a ter", admitiu Trump, quando questionado na Casa Branca durante uma reunião esta quinta-feira com o chanceler alemão, Friedrich Merz.
 
"Estou muito desiludido com o Elon. Ajudei-o muito. Ele conhecia o funcionamento interno do projeto-de-lei melhor do que qualquer pessoa aqui presente. Não tinha qualquer problema com ele", afirmou o presidente norte-americano.

"De repente, tinha um problema, e só o desenvolveu quando descobriu que iríamos cortar a obrigatoriedade dos veículos elétricos", prosseguiu. 

Na rede X, Musk desmentiu de imediato as declarações de Trump. "Falso, este projecto de lei nunca me foi mostrado uma única vez e foi aprovado na calada da noite tão rapidamente que quase ninguém no Congresso o conseguiu ler!" acusou o multimilionário na sua rede X.

No ano passado, Musk aliou-se a Donald Trump durante a campanha eleitoral para a presidência, prometendo ambos esforços para reduzir as despesas do Governo. O pacote legislativo para as despesas ficais é uma "grande e bela lei" segundo Donald Trump, e uma "abominação" segundo o responsável da Tesla e da SpaceX.

Trump reconheceu os esforços do multimilionário e admitiu que Musk talvez "sinta falta" da Casa Branca. 

"O Elon trabalhou arduamente no DOGE e acho que tem saudades do lugar", afirmou.

"Acho que saiu de lá e já não está nesta bela Sala Oval... não é só o Elon, acho que quando algumas pessoas saem, sentem tanta falta que desenvolvem uma espécie de TDS... alguns abraçam-no e outros tornam-se hostis", considerou ainda.
Ações da Tesla em queda

Após este confronto entre Musk e Trump as ações da Tesla em Wall Street caíram mais de oito por cento, com os investidores a desfazerem-se das ações em negociações intensas depois de Musk ter intensificado as suas críticas ao projeto de lei fiscal do presidente. 

Trump alegou que Musk estava chateado porque o projeto de lei retirava benefícios fiscais para as compras de veículos elétricos. Os investidores recearam que a deterioração da relação entre os dois venha a prejudicar o crescente império empresarial de Musk.

Contudo, uma hora antes das declarações de Trump na Casa Branca e da subsquente troca de "mimos", Musk havia elogiado a decisão do Presidente ter posto um ponto final aos financiamentos federais para a construção de um comboio de alta velocidade na Califórnia.

Havia ainda considerado "palavras sábias", uma antiga reação de Trump à extensão do tecto da dívida. O presidente disse-se "envergonhado" de ser republicano num tweet em janeiro de 2013.
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