Relatório. Guerra na Ucrânia duplicou a importação de armas na Europa

por Inês Moreira Santos - RTP
Juan Medina - Reuters

Impulsionadas pelas entregas em massa à Ucrânia, as importações de armas na Europa duplicaram no ano passado. De acordo com um relatório do Stockolm International Peace Research Institute (Sipri), divulgado esta segunda-feira, Kiev tornou-se o terceiro maior destino de armamento a nível mundial.

Em apenas um ano, as importações de armas na Europa aumentaram 93 por cento. Para além da guerra da Ucrânia, este aumento deveu-se também ao crescente investimento em Defesa de vários Estados Europeus, como a Polónia e a Noruega.

"A invasão causou um aumento significativo na procura por armas na Europa, que ainda não mostrou todo o seu poder e, provavelmente, levará a novos aumentos nas importações", disse à AFP Pieter Wezeman, coautor do relatório.

O relatório indica que, excluindo o armamento enviado para as forças ucranianas combaterem a ofensiva russa, registou-se em território europeu um aumento de 35 por cento das importações, em 2022.

Até ao início do conflito russo-ucraniano, as importações de Kiev eram pouco significativas. Mas desde que a ofensiva começou, em fevereiro de 2022, a Ucrânia tornou-se rapidamente o terceiro maior destino do mundo de armas, apenas atrás do Catar e da Índia.

A Ucrânia, até então um importador insignificante de armas, repentinamente se tornou o terceiro maior destino mundial de armas no ano passado, atrás do Catar e da Índia, como resultado direto da ajuda ocidental para impedir a invasão russa. As importações ucranianas, incluindo as doações ocidentais, aumentaram mais de 60 vezes em 2022, de acordo com o instituto com sede em Estocolmo.

Até agora, o comércio global de armas costumava ultrapassar os 100 mil milhões de dólares por ano. Mas em 2022, o valor total em gastos militares ultrapassou, pela primeira vez, os 2.000 mil milhões de dólares, segundo os especialistas.
Tendência crescente na União Europeia
Desde que Moscovo anexou a Crimeia, a União Europeia deu início ao rearmamento e reforço das capacidade militares dos Estados-membros. Mas com o conflito no leste do Velho Continente, a importação de armas está a amentar e a tendência é a de “acelerar”.

“Os países europeus já encomendaram, ou preparam-se para o fazer, todo o tipo de armamento. Desde submarinos, aeronaves militares, incluindo drones, mísseis e radares”, sublinhou Wezeman. “Tudo é considerado, visto que a ideia é construir capacidades militares em todo o espectro”.

Nos últimos cinco anos, período analisado pelo Sipri para identificar tendências, as importações europeias aumentaram 47 por cento em relação aos cinco anos anteriores, enquanto o comércio mundial diminuiu cinco por cento. Ao contrário da Europa, todos os outros continentes apresentam um decréscimo das importações ao longo de cinco anos, com quebras acentuadas em África, na América do Norte e do Sul e ainda na Ásia e no Médio Oriente, que eram os principais mercados mundiais.

O mesmo documento refere que Médio Oriente se tornou a região do mundo que mais importou em 2022, com 32 por cento do total. Segue-se a região da Ásia e Oceania com 30 por cento, que ocupou o primeiro lugar durante os últimos anos. A Europa é a terceira maior importadora, este ano, com 27 por cento em comparação com menos de 11 por cento de há dez anos.

De acordo com os especialistas, a UE está a ajustar o plano de ajuda militar à Ucrânia e, paralelamente, a tentar aumentar a produção de armas na Europa. Este projeto europeu deve associar "quinze industrias em onze países" membros, anunciou na segunda-feira o comissário europeu Thierry Breton.

Quanto às exportações, os Estados Unidos e a Rússia continuam a ser os maiores produtores e exportadores de armas, seguindo-se de França, China e Alemanha. A China é o maior importador da China, mas nos últimos anos, tem aumentado a produção interna.

As exportações de armas russas, que eram cerca de 30 por cento do total há apenas alguns anos, “claramente diminuíram” e com a guerra na Ucrânia, a questão agora é se a Rússia está a importar armas da China.
Produção europeia com tendência a aumentar
A União Europeia "vai se certificar" em aumentar a produção de armamento para a Ucrânia, fabricada por "quinze fabricantes em onze países" da UE, disse esta segunda-feira o comissário europeu para a Indústria, Thierry Breton.

"Temos que agir muito rápido, a guerra na Ucrânia, ordenada por Vladimir Putin, agora transformou-se numa guerra de trincheiras, cara a cara”
, declarou o responsável europeu na rádio RMC, lembrando que os ucranianos "dependem" da Europa para a entrega de armamento.

Na entrevista, Thierry Breton declarou que vai à Bulgária e à Eslováquia esta semana para "garantir" que os fabricantes "possam aumentar a sua produção muito, muito rapidamente" e incentivá-los a "também aumentar as capacidades industriais".

"É um assunto que preocupa todo o mundo ocidental", disse, lembrando a reunião dos ministros da Defesa da UE na semana passada, em Estocolmo, com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, na qual foi discutido um plano de dois mil milhões de euros para entregas de munições com urgência à Ucrânia.

Volodymyr Zelensky tem alertado para a necessidade de munir as forças ucranianas com mísseis de 155mm.

"Os Estados Unidos estão em pior estado do que a Europa no que diz respeito ao fabrico desta munição, cartuchos de 155 mm, fabricamos mais na Europa do que nos Estados Unidos", afirmou o comissário responsável pelo mercado interno.

“Este tipo de munições destina-se essencialmente a guerras intensas, e é verdade que ninguém imaginava o regresso das guerras de muito tensas, em particular na Europa”, acrescentou Breton.

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