O presidente ucraniano espera "decisões poderosas" por parte dos aliados ocidentais, que se reúnem esta sexta-feira em Ramstein, na Alemanha, lembrando a necessidade de fortalecer a defesa para combater a invasão russa. Volodymyr Zelensky exortou o hesitante Governo alemão, antes das negociações entre os Estados Unidos e alguns países europeus para decidir o apoio à Ucrânia, a fornecer tanques a Kiev.
A assistência militar a Kiev é abordada na reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia, que decorre esta sexta-feira na base militar norte-americana de Ramstein, sudoeste da Alemanha. O secretário de Estado norte-americano, Lloyd Austin, está na linha da frente da coordenação da ajuda internacional, tendo os EUA já prometido enviar 53 veículos blindados e 350 de transporte para território ucraniano.
Um dos temas mais controversos deste encontro entre aliados consiste, aliás, no fornecimento à Ucrânia de modernos tanques de combate ocidentais, como o Leopard 2 de fabrico alemão.
A Alemanha está sob pressão para permitir a entrega às forças ucranianas destes tanques, de fabrico alemão e que estão operacionais em países-parceiros da NATO. A Polónia, por seu lado, já anunciou que está pronta a reexportar os Leopard 2, mas que precisa de “uma “autorização alemã”.
"Muitos países estão preparados para nos entregar tanques, estão motivados e apoiam-nos, mas estão à espera dos documentos relevantes dos países que têm o direito de autorizar (...) Estamos todos à espera do consentimento do país [fabricante] que detém os direitos sobre as respetivas licenças", afirmou o chefe de Estado ucraniano.
A Alemanha, recorde-se, recusou até ao momento a autorizar a entrega à Ucrânia dos carros de combate Leopard de outros países da NATO e afirmou que essa decisão apenas pode ser adotada "em coordenação" com os aliados, depois de já ter fornecido blindados do tipo Gepard (viatura alemãs de combate antiaéreo de alta tecnologia) e de se ter comprometido a enviar Marder (veículos de combate de infantaria da Alemanha, usados na Guerra Fria), enquanto na segunda-feira começou a levar baterias do sistema Patriot para a Polónia.
"Se têm [tanques] Leopard, forneçam-nos", disse Zelensky à TV pública alemã, citado pela BBC. "Esses [equipamentos] não vão passar pela Rússia. Estamos a defender-nos”.
"Podem continuar a falar sobre isso durante seis meses, mas todos os dias morrem pessoas no meu país", alertou ainda.
Ministros da Defesa e representantes de dez países da NATO exigiram o envio urgente de mais armamento pesado a Kiev, incluindo tanques. O Reino Unido, por exemplo, já prometeu 14 tanques pesados Challenger 2 e 600 mísseis Brimstone.
É de salientar que a questão dos tanques Leopard 2 pesa sobre o novo ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, que tomou posse esta semana e reuniu-se na quinta-feira, pela primeira vez, com o seu homólogo norte-americano. Após o encontro, Boris Pistorius insistiu que não haveria "decisões unilaterais" do lado alemão.
A par do secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, do chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, e do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, o encontro contará com a presença do ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, que irá apresentar as necessidades das forças armadas ucranianas e discutir o envio de mais armamento com os aliados capazes de assegurar o fornecimento. Também a ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, participa na reunião.
Ajuda militar dos EUA
O Departamento de Defesa norte-americano informou, esta sexta-feira, que vai enviar para Kiev 59 carros de combate Bradley, 590 mísseis antitanque TOW e 295 mil munições de 25 milímetros. Washington vai ainda abastecer a Ucrânia com oito sistemas de defesa antiaérea Avenger, 350 veículos Humvee, 20 mil peças de artilharia de 155 milímetros e 90 blindados Stryker, sendo que 20 estão munidos de equipamento de desminagem.
O pacote de ajuda militar norte-americana também inclui mísseis HARM, ar-terra, que se utilizam para destruir sistemas de defesa antiaérea, dois mil foguetes de artilharia anti-blindado e três milhões de munições para armas ligeiras.
Os Estados Unidos já forneceram tanques de guerra Bradley para Ucrânia e continuarão a enviar equipamento militar para as forças de Kiev. Os Bradley são tanques de batalha com blindagem mais leve e um canhão menor, normalmente de 25 mm em comparação com os Abrams, de 120 mm, que os EUA consideram inapropriados para o conflito na Ucrânia.
O presidente ucraniano já agradeceu ao homólogo norte-americano, Joe Biden, o novo pacote de ajuda de 2.500 milhões de dólares frisando que se trata de um "apoio importante" para combater as forças russas.
"Obrigado Presidente dos Estados Unidos por proporcionar à Ucrânia outro potente pacote de apoio à defesa, no valor de 2.500 milhões de dólares (cerca de 2.300 milhões de euros)", escreveu Zelensky numa mensagem que divulgou através do Twitter.
Os blindados Stryker, Bradley e sistemas de defesa antiaérea Avenger "são uma ajuda importante na nossa luta contra o agressor", acrescentou.
Thank you @POTUS for providing 🇺🇦 with another powerful defense support package worth $2.5 billion. Stryker IFVs, additional Bradley APCs, Avenger air defense systems are important help in our fight against the aggressor. Thank you 🇺🇸 people for unwavering leadership support!
— Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) January 20, 2023
A imprensa norte-americana já tinha avançado na quarta-feira que os Estados Unidos iam anunciar esta sexta-feira um novo grande pacote de assistência militar à Ucrânia, que incluirá artilharia, munições e veículos blindados Stryker.
Na quinta-feira, Zelensky já tinha adiantado que havia vários países europeus, incluindo Portugal, disponíveis para fornecer tanques de guerra ocidentais. O chefe de Estado ucraniano destacou ainda que têm sido tomadas “várias decisões poderosas” por parceiros para ajudar a defesa ucraniana.
Zelensky agradeceu, então, à Estónia pelo "maior pacote de ajuda militar" deste país até agora, para "obuses e munições", e à Suécia pelo novo pacote militar para NLAW, Archers e IFVs. À Dinamarca pela decisão sobre os sistemas de artilharia móveis `Caesar`, que "fortalecerá significativamente" o Exército ucraniano, e à Lituânia pelo novo pacote militar para sistemas antiaéreos, munições e helicópteros.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas - 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
c/ agências