Rosto da oposição venezuelana Leopoldo López preso em casa

por Carlos Santos Neves - RTP
“Acabaram de transferir Leopoldo para casa”, revelou a mulher do político, Lilian Tintori, no Twitter Marco Bello - Reuters

Leopoldo López, uma das figuras destacadas da oposição a Nicolás Maduro na Venezuela, voltou na última noite ao regime de prisão domiciliária, ao cabo de quatro dias de detenção na cadeia militar de Ramo Verde, a sul de Caracas. O dirigente da Vontade Popular fora levado de casa no início do mês pelos serviços secretos.

O anúncio partiu da mulher do político oposicionista. “Acabam de transferir Leopoldo para casa”, escreveu Lilian Tintori na rede social Twitter.

Na mensagem, publicada cerca das 22h45 (3h45 em Lisboa), Tintori escreve ainda que ambos prosseguem “com mais convicção e mais firmeza para conseguir a paz e a liberdade da Venezuela”.

Leopoldo López estava detido desde 1 de agosto no cárcere militar de Ramo Verde, medida que o Supremo Tribunal da Venezuela justificou com presumível perigo de fuga. O líder do movimento de centro-esquerda Vontade Popular encontrava-se já em prisão domiciliária desde julho, após três anos e quatro meses de detenção efetiva.

López foi condenado por ter convocado em 2014 uma manifestação que degenerou em violência, com registo de três mortes.
Constituinte começa a atuar
Vinte e quatro horas após a sessão inaugural, a Assembleia Constituinte demitiu no sábado a procuradora-geral venezuelana Luisa Ortega, uma chavista que se distanciou do atual Presidente.

A própria Ortega já veio deixar claro que não reconhece autoridade à Constituinte para tal decisão. “É uma ditadura”, denunciava ontem a magistrada, que prometeria continuar “a lutar pela liberdade e pela democracia na Venezuela”.Luisa Ortega foi nomeada procuradora-geral em 2007 pela mão do então Presidente Hugo Chávez.

“Não só prendem pessoas arbitrariamente como as fazem julgar pela justiça militar e agora não deixam a procuradora-geral entrar no seu gabinete”, reforçou Luisa Ortega, impedida pela Guarda Nacional Bolivariana de entrar na Procuradoria, situada no coração de Caracas.

A Procuradoria-Geral abrira na passada quarta-feira um inquérito para apurar uma eventual fraude na eleição da Assembleia Constituinte, há oito dias, reclamando mesmo a suspensão da tomada de posse do novo órgão, dotado de extensos poderes e agora com o mandato alargado de seis meses para dois anos.

Ao anunciar a aprovação unânime do afastamento de Ortega a presidente da Assembleia Constituinte, Delcy Rodríguez, não poupou nas palavras: “Procuradora traidora, chegou a tua hora”.

O Supremo Tribunal de Justiça revelou, pouco depois, a intenção de julgar a procuradora-geral demitida por “irregularidades”, bloqueando-lhe, com efeito imediato, as contas bancárias e impedindo-a de deixar a Venezuela.

O cargo foi entretanto confiado ao denominado “defensor do povo” Tarek William Saab.

A destituição da procuradora foi criticada também no Twitter pela porta-voz do Departamento de Estado norte-americano Heather Nauert, que acusou Maduro de encabeçar uma “ditadura autoritária”.


A Presidente chilena, Michelle Bachelet, usou a mesma rede social para classificar a demissão como “mais um passo no sentido da rutura democrática”, que “não contribui para a paz do povo venezuelano”.


“Rutura da ordem democrática” foi precisamente o argumento na base da decisão dos ministros dos Negócios Estrangeiros de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, que no sábado, em São Paulo, suspenderam a Venezuela do Mercosul. Os quatro componentes do bloco exigiram “a libertação dos prisioneiros políticos, a restauração das competências do poder legislativo, o regresso ao calendário eleitoral e a anulação da Assembleia Constituinte”.

A reação de Nicolás Maduro não tardou. O Presidente venezuelano saiu a público para afiançar que o país “jamais” será excluído do Mercosul e condenou o que considerou ser uma tentativa de “bloqueio económico, financeiro, comercial e político como aquele que foi imposto a Cuba nos anos 60”.
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