Rússia lança ataque cerrado e provoca mais mortes em Kiev

A Rússia lançou um ataque em massa com mísseis e drones contra Kiev durante a última noite, provocando pelo menos cinco mortos, segundo as autoridades ucranianas. O ataque ocorreu depois de Vladimir Putin ter garantido que Moscovo ia responder ao ataque ucraniano que destruiu vários bombardeiros estratégicos russos. O ataque e a ameaça de uma retaliação russa fizeram soar os alarmes para o risco crescente de uma guerra nuclear. Um responsável do Kremlin disse, esta sexta-feira, que a Rússia vê poucas hipóteses de salvar o seu último acordo nuclear com os Estados Unidos, que expirará dentro de oito meses.

Mariana Ribeiro Soares - RTP /
Thomas Peter - Reuters

“No total, mais de 400 drones e mais de 40 mísseis – incluindo mísseis balísticos – foram usados no ataque desta noite”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na rede social X.

As unidades de defesa aérea da Ucrânia, por sua vez, dizem ter abatido 406 drones e mísseis russos.

O ataque provocou pelo menos cinco mortos e 70 feridos em Kiev. O sistema de transportes do metro da cidade foi interrompido e alguns comboios estão a ser desviados devido a danos ferroviários na região.

Foram também reportados bombardeamentos massivos em várias regiões fora da capital. Em Lutsk, não muito longe da fronteira com a Polónia, "um ataque massivo com mísseis e drones destruiu parcialmente" um edifício residencial, ferindo cinco pessoas, segundo o chefe da administração militar regional, Ivan Rudnytsky.

Também a oeste, a região de Ternopil sofreu "o ataque aéreo mais massivo até à data", com "múltiplos ataques", segundo Vyacheslav Negoda, chefe da administração militar regional, acrescentando que cinco pessoas ficaram feridas.

"Instalações industriais e infraestruturas foram atingidas", disse o presidente da Câmara de Ternopil, Sergei Nadal. "Partes de Ternopil estão sem eletricidade e a pressão do abastecimento de água foi reduzida devido aos cortes de energia", acrescentou.
A Rússia, por sua vez, diz que Moscovo foi alvo de um ataque com dez drones ucranianos durante a noite. Três aeroportos que servem Moscovo foram temporariamente encerrados, de acordo com a agência de transporte aéreo, que levantou posteriormente as restrições.

Perante este novo ataque, o presidente ucraniano reforçou os apelos aos EUA e à Europa para aumentarem a pressão sobre a Rússia.

"Se alguém não está a pressionar e está a dar mais tempo à guerra para tirar vidas, isso é cumplicidade e responsabilização. Devemos agir de forma decisiva", escreveu Volodymyr Zelensky na rede social X.

"A Rússia deve ser responsabilizada. Desde os primeiros minutos desta guerra, bombardearam cidades e vilas para destruir vidas", disse. "Agora é a altura em que os Estados Unidos, a Europa e o mundo podem, juntos, interromper esta guerra, pressionando a Rússia", acrescentou.
Risco crescente de uma guerra nuclear
Este é o segundo maior ataque aéreo à Ucrânia, depois e a Rússia ter lançado 472 mísseis e drones na noite de domingo, e ocorre depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter garantido que Moscovo iria retaliar contra o ataque ucraniano no fim de semana passado que destruiu bombardeiros com capacidade nuclear.

A Ucrânia alegou que o ataque danificou mais de 40 aviões russos, incluindo os bombardeiros Tu-95 e Tu-22M, que foram usados para lançar mísseis de cruzeiro em cidades ucranianas durante a guerra, matando milhares de pessoas e danificando infraestrutura cruciais. Estes aviões da era soviética podem transportar também armas com ogivas nucleares e são parte de uma tríade nuclear e base de um sistema de dissuasão entre a Rússia e os Estados Unidos.

O ataque e a ameaça de uma retaliação russa fizeram soar os alarmes para o risco crescente de uma guerra nuclear, com os norte-americanos mais céticos a aproveitar a situação para pressionar o presidente Donald Trump a reduzir ainda mais o apoio a Kiev.

Ao mesmo tempo, um responsável do Kremlin disse, esta sexta-feira, que a Rússia vê poucas hipóteses de salvar o seu último acordo nuclear com os Estados Unidos, que expirará dentro de oito meses, devido ao estado “arruinado” das relações com Washington.

O acordo START (“Strategic Arms Reduction Treaty”), ou Tratado de Redução de Armas Estratégicas, é um tratado bilateral assinado entre os Estados Unidos e a União Soviética sobre a redução e a limitação de armas estratégicas ofensivas. O primeiro acordo foi assinado em 31 de julho de 1991 e entrou em vigor em 5 de dezembro de 1994.

Em 2023, o presidente Vladimir Putin suspendeu a participação russa no Novo START, responsabilizando o apoio dos EUA à Ucrânia, embora tenha afirmado que a Rússia se manteria dentro dos limites do acordo em relação às ogivas, mísseis e bombardeiros pesados.

No entanto, se o tratado não for prorrogado ou substituído após a sua expiração a 5 de fevereiro do próximo ano, os especialistas em segurança temem que isso possa alimentar uma nova corrida ao armamento numa altura de grande tensão internacional em torno do conflito na Ucrânia, que tanto Putin como Trump disseram poder levar à Terceira Guerra Mundial.

"Não há motivos para uma retoma completa do New START nas circunstâncias atuais. E, dado que o tratado termina em cerca de oito meses, falar sobre a realidade de um cenário deste tipo está cada vez mais a perder o sentido", disse o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Ryabkov, à agência de notícias estatal russa TASS. Ryabkov disse ainda que o projeto de defesa antimíssil Golden Dome, proposto pelo presidente Donald Trump, era um fator "profundamente desestabilizador", criando novos obstáculos ao controlo de armas.

"É evidente que programas profundamente desestabilizadores como o Golden Dome – e os EUA estão a implementar vários deles – criam obstáculos adicionais e difíceis de ultrapassar à consideração construtiva de quaisquer potenciais iniciativas na área do controlo de armas de mísseis nucleares, quando e se chegar a esse ponto”, argumentou.

A Federação de Cientistas Americanos afirma que, se a Rússia decidir abandonar os limites do tratado, poderá, teoricamente, aumentar o seu arsenal nuclear até 60%, enviando centenas de ogivas adicionais.

c/ agências
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