Rússia lança novo aviso aos Estados Unidos contra provável ação militar na Síria

por Christopher Marques - RTP
Reuters

À medida que se aproxima o fim do prazo dado por Trump para responder ao presumível ataque químico de Douma, eleva-se a retórica. Moscovo avisa contra qualquer ato que possa “destabilizar a situação já frágil na região” e promete que uma eventual ação “terá graves consequências”. Estados Unidos, França e Reino Unido continuam a cozinhar uma resposta. O Eurocontrol avisou as companhias aéreas para os riscos de voar junto à Síria.

Depois de um novo insucesso no Conselho de Segurança, a retórica mantém-se como arma principal da confrontação entre o ocidente e Moscovo, com epicentro em Damasco. Com Estados Unidos, França e Reino Unido a prepararem a resposta, a Rússia insiste que uma ação militar terá “graves consequências”.

“Continuamos a acreditar que todas as partes vão evitar qualquer ato que não teria justificação e que poderia destabilizar a já frágil situação que se vive na região”, afirmou aos jornalistas o porta-voz do Kremlin. Dmitri Peskov recordou que a situação é “muito tensa” e insistiu que a Rússia defende a realização de uma “investigação objetiva e imparcial antes que se realizem julgamentos”.

Quatro dias depois de a organização não-governamental Syrian American Medical Society ter denunciado que um ataque com “gases tóxicos” matou dezenas de pessoas em Douma, Moscovo e Damasco continuam a desmentir que tal tenha ocorrido. Paris, Washington e Londres parecem não ter dúvidas e preparam a resposta.
"Mais uma provocação"
Esta quarta-feira, a porta-voz da diplomacia russa considerou que este presumível ataque químico não existiu e que se trata de “mais uma provocação”. “Damasco não tem motivos para usar armas químicas e não há provas que as tenha usado”, afirmou Maria Zakharova.

“Isto é um esquema enganador à escala mundial. Ninguém apresenta provas, factos. Toda a gente já tomou a sua decisão que segue um objetivo já conhecido: afastar Bashar al-Assad”, prosseguiu a representante do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros.

Esta quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde pediu que lhe seja concedido acesso total à localidade de Douma para confirmar que ali ocorreu um ataque químico. A Organização para a Proibição das Armas Químicas também anunciou que irá enviar uma equipa para averiguar a situação.

Apesar do envolvimento destas organizações, continua a não haver acordo para que seja realizada uma investigação de fundo que permita confirmar que foram usados gases tóxicos e averiguar quem é o responsável.
Novo insucesso na ONU

Na terça-feira, a Rússia chumbou a proposta dos Estados Unidos para que fosse criado um mecanismo internacional de investigação sobre armas químicas na Síria.

O projeto de resolução, que previa um mandato de um ano para o mecanismo internacional, recolheu 12 votos a favor, dois votos contra (Rússia e Bolívia) e uma abstenção, por parte da representação chinesa.

Enquanto membro permanente do Conselho de Segurança, a Rússia tem poder de veto, pelo que a resolução ficou sem efeito. Desde o início da guerra na Síria, em 2011, a Rússia vetou 12 resoluções. Para passar, um texto precisa de pelo menos nove votos a favor e da aprovação dos países com poder de veto: Rússia, China, França, Grã-Bretanha e EUA.

As Nações Unidas deixaram de dispor de um organismo dedicado à investigação de ataques químicos na Síria por via de uma sequência de vetos russos, no final do ano passado.

O extinto mecanismo de investigação conjunta, ou JIM – Joint Investigation Mechanism, na designação inglesa, agregava especialistas da ONU e da OPAQ – Organização para a Proibição de Armas Químicas. Moscovo afirma que não quer que o Conselho de Segurança faça parte “destas aventuras”.

A proposta norte-americana previa que o mecanismo conjunto de investigação pudesse nomear responsáveis pelo ataque. A Rússia recusa que os investigadores tenham esse poder e pretende que a atribuição de responsabilidades seja posteriormente realizada pelo Conselho de Segurança.

Por sua vez, Moscovo apresentou também duas propostas de resolução para que fosse realizada uma investigação ao presumível ataque químico. As duas foram chumbadas.
Ocidente contra "impunidade química"
Com a diplomacia a falhar, parece cada vez mais provável que as potências ocidentais avancem com uma resposta militar. O Presidente dos EUA afirmou que anunciaria “grandes decisões” até à noite desta quarta-feira.

Entretanto, o destroyer norte-americano USS Donald Cook saiu do porto cipriota de Larnaca onde fazia escala. Encontra-se agora posicionado num local a partir do qualquer poderá facilmente disparar sobre a Síria.

Esta quarta-feira, a agência europeia responsável pelo tráfego aéreo alertou as companhias civis para que tenham em consideração a situação difícil que se vive a leste do Mediterrâneo. Na Síria, as forças de Bashar al-Assad foram colocadas em “estado de alerta” para os próximos três dias.

O embaixador francês junto das Nações Unidas garantiu que Paris não abdicará de nada na luta contra a “impunidade química”. O Presidente Emmanuel Macron anunciou que uma decisão será anunciada “nos próximos dias”.

Para além dos Estados Unidos, a resposta deverá ainda contar com o apoio de Londres. A Casa Branca anunciou que Donald Trump e Theresa May conversaram e que concordaram em “não permitir que o uso de armas químicas continue”.

Na terça-feira, a Administração Trump anunciou ainda que o Presidente norte-americano cancelou uma deslocação à América Latina, prevista para esta semana, num gesto que a Casa Branca justificou com a necessidade de manter o foco na resposta ao ataque do fim de semana na Síria.
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