Sarkozy diz-se alvo de um "inferno de calúnia" no caso do financiamento líbio

por RTP
Os 50 milhões de euros presumivelmente averbados pela campanha de Sarkozy representam mais do dobro do limite legalmente permitido, à época, para financiamento de campanhas políticas Ian Langsdon - Reuters

O antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy, indiciado na investigação sobre o alegado financiamento líbio da sua campanha eleitoral em 2007, afirmou aos magistrados que vive um "inferno da calúnia" e que foi “acusado sem qualquer prova material”.

"Desde 11 de março de 2011 que eu vivo o inferno desta calúnia", disse Nicolas Sarkozy, acrescentando que foi “acusado sem qualquer prova material” pelas declarações do ex-ditador líbio Muammar Kadhafi e dos familiares, bem como pelo franco-libanês Ziad Takieddine. As declarações aos magistrados foram publicadas esta quinta-feira pelo jornal francês Le Figaro.

O antigo Chefe de Estado francês - Nicolas Sarkozy esteve no Eliseu de 2007 a 2012 - foi indiciado na quarta-feira por corrupção passiva, financiamento ilegal de campanha eleitoral e encobrimento de fundos públicos da Líbia.

"Tem sido provado em muitas ocasiões que ele [Ziad Takieddine] recebeu dinheiro do Estado líbio", disse Sarkozy. "Sobre o senhor Takieddine, gostaria de lembrar que ele não prova, nesse período de 2005-2011, qualquer encontro comigo", acrescentou.



De acordo com Le Figaro, no dia 10 de março Sarkozy tinha recebido no Palácio do Eliseu opositores do ditador líbio Muammar Khadafi, que teria contribuído com 50 milhões de euros para a campanha que o levou à Presidência da República.

"Todas as investigações mostram que nunca estive perto do senhor Takieddine. Ele próprio declarou que eu nunca o recebi no Eliseu", refere ainda Sarkozy.

Os 50 milhões de euros presumivelmente averbados pela campanha de Sarkozy representam mais do dobro do limite legalmente permitido, à época, para financiamento de campanhas políticas, ou seja, 21 milhões de euros. Ainda enquanto presidente, Sarkozy classificara estas suspeitas de "grotescas".

Logo após tornar-se Presidente, Nicolas Sarkozy convidou o líder líbio para uma visita oficial à França e recebeu-o com honras de Estado. Nessa visita foram assinados contratos comerciais de cerca de dez mil milhões de euros entre os dois países.
"Como posso dizer que favoreci os interesses do Estado líbio?
Contudo, anos depois, em 2011, Sarkozy foi um dos maiores apoiantes dos ataques aéreos liderados pela NATO contra o Governo líbio, que culminaram com a queda do ditador no auge do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe. Khadafi acabou por ser executado nas ruas aos 69 anos.

“Como posso dizer que favoreci os interesses do Estado líbio? Fui eu quem conseguiu o mandato da ONU para atacar o estado líbio de Kadhafi. Sem o meu compromisso político, este regime provavelmente ainda estaria em vigor”, declarou o antigo Presidente francês.

As acusações surgiram em 2012 após a publicação de um documento pelo jornal online Mediapart, que indicava que o regime líbio teria aprovado um pagamento para apoiar a campanha de Sarkozy.

Por causa deste processo, Claude Guéant, amigo íntimo de Sarkozy que viria a ser seu ministro do Interior, é também investigado por suspeitas de falsificação de documentos e fraude fiscal.

O antigo Presidente francês afirmou que o documento era falso. Contudo, foi dito que havia informações autênticas que poderiam ser utilizadas na investigação. A investigação ao ex-presidente foi aberta em 2013.

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