"Sede de poder e fantasias de omnipotência". Na Áustria, a extrema-direita falha a oportunidade de governar

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
"Apesar de termos feito concessões em muitos pontos, as conversações não foram, infelizmente, bem sucedidas", assumiu Herbert Kickl numa carta dirigida ao presidente da Áustria. Lisa Leutner - Reuters

Pela primeira vez às portas do poder desde a Segunda Guerra Mundial, e após negociações fracassadas para formar uma maioria, o partido de extrema-direita da Áustria desistiu esta quarta-feira de formar Governo com os conservadores e "entregou assim o mandato" que lhe tinha sido confiado pelo presidente Alexander Van der Bellen.

Numa carta dirigida hoje ao presidente austríaco, o líder do Partido da Liberdade austríaco (FPÖ), Herbert Kickl, assumiu o fracasso na sua missão de formar um novo Governo através de uma coligação governamental, argumentando que as divergências com os conservadores eram demasiado grandes e conflituosas.
"Apesar de termos feito concessões em muitos pontos, as conversações não foram, infelizmente, bem sucedidas", escreveu Kickl.

Num comunicado divulgado esta quarta-feira os conservadores do Povo Austríaco (ÖVP) acusaram Herbert Kickl, líder do partido anti-imigração e pró-Kremlin que adotou uma linha dura desde o início das negociações, de "não estar disposto a negociar" e de "sede de poder e intransigência"."Não estava disposto a fazer compromissos e a estabelecer uma parceria entre iguais, desenvolvendo fantasias de omnipotência", disse Alexander Pröll, secretário-geral do ÖVP.

Em causa terão estado o fim da taxa de carbono, o "asilo zero", os ataques às ONG, meios de comunicação social ou ainda às pessoas LGBT+, ou ainda a relação do país com a Rússia, de acordo com a imprensa nacional.

Recorde-se que, no início do ano, o presidente austríaco Alexander Van der Bellen convidou o líder da extrema-direita para formar governo depois das negociações entre conservadores, liberais e sociais-democratas terem fracassado. "Não tomei esta decisão de ânimo leve", declarou então o presidente da Áustria.


Após ter conseguido ficar o primeiro lugar nas eleições legislativas de setembro, com 29 por cento dos votos, o FPÖ falhou a oportunidade de governar, entregando provavelmente o mandato à segunda força política nas eleições, o Partido Conservador ÖVP, com 26 por cento dos votos, que também fracassaram, anteriormente, nas negociações com a esquerda e os liberais na tentativa de formar uma coligação.

A Áustria assiste às negociações mais longas da sua história numa altura em que a situação económica é difícil e o país teme ficar mergulhado em instabilidade, sem sequer ter votado um Orçamento do Estado para 2025.

c/agências


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