"Sede de poder e fantasias de omnipotência". Na Áustria, a extrema-direita falha a oportunidade de governar
Pela primeira vez às portas do poder desde a Segunda Guerra Mundial, e após negociações fracassadas para formar uma maioria, o partido de extrema-direita da Áustria desistiu esta quarta-feira de formar Governo com os conservadores e "entregou assim o mandato" que lhe tinha sido confiado pelo presidente Alexander Van der Bellen.
Numa carta dirigida hoje ao presidente austríaco, o líder do Partido da Liberdade austríaco (FPÖ), Herbert Kickl, assumiu o fracasso na sua missão de formar um novo Governo através de uma coligação governamental, argumentando que as divergências com os conservadores eram demasiado grandes e conflituosas.
"Apesar de termos feito concessões em muitos pontos, as conversações não foram, infelizmente, bem sucedidas", escreveu Kickl.
"Apesar de termos feito concessões em muitos pontos, as conversações não foram, infelizmente, bem sucedidas", escreveu Kickl.
Num comunicado divulgado esta quarta-feira os conservadores do Povo Austríaco (ÖVP) acusaram Herbert Kickl, líder do partido anti-imigração e pró-Kremlin que adotou uma linha dura desde o início das negociações, de "não estar disposto a negociar" e de "sede de poder e intransigência"."Não estava disposto a fazer compromissos e a estabelecer uma parceria entre iguais, desenvolvendo fantasias de omnipotência", disse Alexander Pröll, secretário-geral do ÖVP.
Em causa terão estado o fim da taxa de carbono, o "asilo zero", os ataques às ONG, meios de comunicação social ou ainda às pessoas LGBT+, ou ainda a relação do país com a Rússia, de acordo com a imprensa nacional.
Recorde-se que, no início do ano, o presidente austríaco Alexander Van der Bellen convidou o líder da extrema-direita para formar governo depois das negociações entre conservadores, liberais e sociais-democratas terem fracassado. "Não tomei esta decisão de ânimo leve", declarou então o presidente da Áustria.
Após ter conseguido ficar o primeiro lugar nas eleições legislativas de setembro, com 29 por cento dos votos, o FPÖ falhou a oportunidade de governar, entregando provavelmente o mandato à segunda força política nas eleições, o Partido Conservador ÖVP, com 26 por cento dos votos, que também fracassaram, anteriormente, nas negociações com a esquerda e os liberais na tentativa de formar uma coligação.
A Áustria assiste às negociações mais longas da sua história numa altura em que a situação económica é difícil e o país teme ficar mergulhado em instabilidade, sem sequer ter votado um Orçamento do Estado para 2025.
c/agências