Segunda noite de protestos violentos em Filadélfia após afro-americano ter sido morto por polícia
A cidade de Filadélfia, no Estado norte-americano da Pensilvânia, voltou a ser palco de protestos violentos, marcados por detenções e saques, após a morte de Walter Wallace no início da semana. Centenas de manifestantes marcharam na terça-feira pela cidade norte-americana, pela segunda noite consecutiva, para exigirem justiça em mais um caso de violência policial contra a comunidade afro-americana, com uma nova morte de um homem negro às mãos da polícia.
Contudo, os manifestantes dispersaram-se em vários grupos, com cerca de 100 pessoas cada, atravessaram o bairro, deitando fogo a caixotes de lixo e sofás que tinham transportado para o meio da rua. Em vários locais, a polícia interveio para dispersar estes pequenos grupos, por vezes com cassetetes, e acabou por fazer várias detenções.
Imagens que estão a circular nas redes sociais mostram pessoas a entrar em lojas e a roubar mercadorias, enquanto a Unidade de Gestão de Emergências da cidade avisava a população para permanecer em casa.
At the BLM riot in Philadelphia, a looter wheels a large appliance out of the store. pic.twitter.com/gmcsebGLDJ
— Andy Ngô (@MrAndyNgo) October 28, 2020
Segundo a chefe da polícia da cidade, Danielle Outlaw, mais de 30 polícias ficaram feridos desde as manifestações de segunda-feira, incluindo uma agente que foi deliberadamente atropelada por uma carrinha.
A Casa Branca emitiu, pouco antes da 01h00 da manhã desta quarta-feira, uma declaração afirmando que a agitação foi mais uma consequência da "guerra dos liberais democratas contra a polícia" e que a administração Trump "defende orgulhosamente a aplicação da lei, estando preparada para, assim que for pedido, avançar com todos os recursos federais para acabar com os motins".
"Aplicar a lei é uma ocupação incrivelmente perigosa, e milhares de polícias deram as vidas pelo cumprimento do dever", disse, em comunicado, a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany.
"Todos os incidentes letais devem ser investigados. Os factos devem ser analisados, sejam quais forem as conclusões, para garantir resultados justos. Na América, resolvemos os conflitos através dos tribunais e do sistema de justiça. Não podemos permitir que seja a multidão a ditar as regras", adiantou.
O departamento da polícia recusou-se a fazer comentários sobre a segunda noite de confrontos com manifestantes, tendo o porta-voz do Ministério Público pedido às pessoas preocupadas com uma eventual má conduta da polícia que relatassem esses problemas à unidade especial de investigações.
Os dois agentes dispararam sobre o homem, atingindo-o várias vezes no ombro e no peito. Um dos polícias ainda levou Walter para o hospital, onde foi dado como morto.
"Wallace avançou em direção aos polícias, que dispararam várias vezes", disse a porta-voz da polícia, Tanya Little
Philadelphia cops fatally shot Walter Wallace Jr. today, firing 10+ times at him while he stood at least 10ft away. He allegedly had a knife but cops made NO attempts at de-escalating the situation in this video. They went straight to killing Wallace in front of his loved ones! pic.twitter.com/U2zYGqK7Ag
— Ben Crump (@AttorneyCrump) October 27, 2020
O vídeo não deixa claro se Wallace tinha, de facto, uma faca na mão, mas algumas testemunhas confirmaram a situação. A polícia, no entanto, não adiantou mais nenhum detalhe sobre a arma, argumentando que o caso está sob investigação.
"Uma das vezes, ficaram ali, a rir-se de nós", disse a mãe da vítima, Cathy Wallace.
"[A imagem] está na minha cabeça. Nem consigo dormir à noite. Não consigo sequer fechar os olhos", disse, apelando ainda aos manifestantes para "pararem com a violência" por respeito à vítima e à família.
"Não tolero a violência, a cidade destruída, roubos de lojas e todo este caos (…) É uma emergência para ajudar e não para magoar", disse em conferência de imprensa, citado pela agência Reuters.
Já o advogado disse que foi a família que ligou para os bombeiros, e não para a polícia, para ajudar a lidar com a crise de Walter.
"Quando se chega a um sítio e alguém está com uma crise mental, mas a única ferramenta que se usa para lidar com isso é uma arma... Onde estão as ferramentas adequadas?", questionou o advogado, argumentando que a polícia da Filadélfia não está devidamente formada para enfrentar crises de saúde mental e acrescentando que a mulher do homem baleado, Dominique Wallace, está grávida e tem parto induzido marcado para hoje.
Os nomes dos polícias que atingiram o homem, assim como outras informações de identificação, incluindo a sua raça, serão também mantidos em segredo até que haja certeza de que a divulgação não representa uma ameaça à sua segurança, referiu o departamento da polícia, acrescentando que os agentes foram retirados do serviço de rua durante a investigação.
Embora tenha referido não poder confirmar que informações que foram dadas aos agentes que responderam ao apelo, o inspetor-chefe de polícia, Frank Vanore, confirmou que a polícia recebeu um telefonema na segunda-feira a alertar para um homem que estava a gritar e a dizer estar armado com uma faca. O mesmo responsável adiantou que cada um dos dois polícias disparou pelo menos sete tiros - ou seja, 14 tiros no total - mas não especificou quantas vezes Wallace foi atingido.