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Segunda volta na Geórgia. Democratas mais próximos de conquistar maioria no Senado
Pela primeira vez em 20 anos, um candidato democrata, Raphael Warnock, conquistou um lugar no Senado em representação da Geórgia. O resultado da segunda volta destas eleições naquele Estado é decisivo para determinar que partido irá deter o controlo da câmara alta do Congresso norte-americano. Aos republicanos basta garantir a eleição de David Perdue para assegurar essa maioria, mas o candidato do Partido Democrático, Jon Ossoff, conta neste momento com uma ligeira vantagem para ocupar o segundo lugar por preencher.
Raphael Warnock, candidato ao Senado pelo Partido Democrático, conquistou esta quarta-feira um lugar na câmara alta do Congresso norte-americano. É a primeira vez em duas décadas que os democratas conseguem eleger um senador em representação da Geórgia, mais um triunfo no seguimento da reviravolta alcançada nas eleições presidenciais em novembro, quando Joe Biden foi o primeiro candidato democrata desde 1992 a vencer naquele Estado conservador do sul.
A vitória de Raphael Warnock perante a candidata republicana Kelly Loeffler, grande apoiante de Donald Trump, foi confirmada pela Associated Press durante a noite, às 2h00 locais (7h00 em Lisboa). Para além de romper com o grande interregno de 20 anos dos democratas naquele estado, Warnock faz também história ao tornar-se no primeiro senador negro eleito por aquele estado.
Mas o lugar assegurado por Warnock, pastor na mesma igreja de Atlanta onde Martin Luther King também pregou – Ebenezer Baptist Church – não é suficiente para garantir a maioria aos democratas. Para controlarem o Senado, necessitam também que Jon Ossoff conquiste o segundo lugar em jogo contra o republicano David Perdue.
Jon Ossoff, de 33 anos, poderá tornar-se no mais jovem senador norte-americano em quatro décadas. O candidato democrata estava à frente do senador republicano, David Perdue, quando estavam contados 95 por cento dos votos.
Em caso de vitória dos dois candidatos democratas, ambos os partidos ficam com 50 senadores, mas os democratas conseguem a maioria com recurso ao voto de desempate da vice-presidente eleita Kamala Harris, que irá presidir ao Senado, tal como prevê a Constituição norte-americana.
Esta segunda volta acontece porque nenhum dos candidatos ao Senado alcançou mais de 50 por cento dos votos na eleição de novembro. As regras eleitorais no Estado da Geórgia estabelecem que o candidato deve ultrapassar essa margem para ser eleito.
O possível controlo da câmara alta do Congresso deixa mais margem de manobra à futura Administração Biden para a aprovação de legislação em questões centrais como a saúde ou o ambiente, que têm geralmente forte oposição dos republicanos. Para além disso, o controlo do Senado seria desde logo decisivo na aprovação dos políticos e dos cargos judiciais designados por Joe Biden.
Nos últimos dias, o Estado da Geórgia tem estado no centro das atenções também na sequência do resultado das eleições presidenciais de novembro. No fim de semana, o jornal The Washington Post revelou um polémico telefonema entre o Presidente dos Estados Unidos e o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger.
Nesta chamada telefónica, Donald Trump pedia ao responsável estadual republicano que “encontrasse” votos suficientes que lhe pudessem garantir a vitória sobre Joe Biden e invertessem o resultado eleitoral.
Os resultados obtidos na Geórgia já foram certificados em dezembro e a vitória de Joe Biden no Colégio Eleitoral deverá ser ratificada pelo Congresso norte-americano precisamente esta quarta-feira. Na antecâmara desta segunda volta, o Presidente cessante convidou mesmo o Presidente do Senado, que irá presidir a esta sessão - o vice-presidente cessante Mike Pence - a rejeitar a ratificação do resultado eleitoral.
Já esta quarta-feira, de acordo com o jornal The New York Times, Mike Pence comunicou a Donald Trump que não tem autoridade para travar a certificação do Colégio Eleitoral, informação que o atual Presidente já veio entretanto desmentir no Twitter.
O Presidente cessante tem dedicado os últimos meses desacreditar o resultado eleitoral e a atacar as principais figuras de liderança política, nomeadamente membros do Partido Republicano na Geórgia, que acusa – sem provas – de ignorar casos de fraude eleitoral, tal como no telefonema a Brad Raffensperger.
Esta atuação por parte do atual inquilino na Casa Branca poderá ter tido custos políticos para os próprios republicanos nesta segunda volta. Ainda antes de se saber o resultado final deste escrutínio, o responsável pela implementação dos sistemas de votação do secretário de Estado da Geórgia, Gabriel Sterling, considerava que qualquer revés eleitoral seria culpa de Donald Trump.
"A culpa irá recair diretamente sobre os ombros do Presidente Trump e sobre as suas ações desde 3 de novembro", disse o responsável à CNN.